Imagine um shopping center com 400 lojas, juntando desde âncoras como Americanas e Pão de Açúcar até lojas de vinho e filatelia, passando por revendas de automóveis, casas de artigos religiosos, produtos tradicionalmente vendidos de porta-em-porta, como os da Amway, e artigos em venda direta da fábrica, como brinquedos Estrela e eletrônicos da Fujitsu. Tudo isso com apenas algumas dezenas de funcionários. Pense agora numa grande rede de comércio de insumos para construção, que funciona em toda a América Latina. Junte a ela um outro projeto, um conglomerado que venderá suprimentos para empresas (material de escritório, uniformes para funcionários) e permitirá a contratação de prestadores de serviço de qualquer espécie, de bufês a tradutores. Se cada um desses projetos pode parecer excessivamente ambicioso, imagine que estão todos sob o mesmo chapéu, da Bradespar. Eles formarão os três portais ? Shopfacil, Estrutura.net e LatiNexus ? que a empresa de participações do Bradesco pretende colocar no ar até fevereiro de 2001. Os sites serão o teste decisivo para a holding, criada em agosto, e que pretende se tornar uma companhia de investimentos de perfil único no Brasil, pondo a mão diretamente nos negócios, em lugar de apenas administrar suas participações acionárias.

A importância do negócio para a Bradespar não está apenas no tamanho do investimento, mas no momento em que será posto na pista para decolar. Desde que a empresa se tornou independente, suas ações tiveram desempenho inferior ao Ibovespa, embora ligeiramente acima de sua empresa-mãe, o banco da Cidade de Deus. Os investimentos na rede, estimados em R$ 100 milhões, são uma prova de fogo, porque vão entrar em operação justamente num momento de crise para a Internet brasileira. No caso do Shopfacil, que precisa entrar no ar até o final de novembro, a data é ainda mais crítica: às vésperas do Natal, tradicionalmente o momento do matar ou morrer para os portais que trabalham com o consumidor final. Foi nesse período, um ano atrás, que o portal Submarino quase naufragou por conta de problemas de logística. O presidente da Bradespar, Roger Agnelli, diz que não está preocupado. ?Nosso plano de negócios tem um modelo de receita bem estruturado desde o início, por isso não tivemos de fazer revisões, como outros sites vêm fazendo?, alfineta. Para emplacar seu shopping virtual a tempo para as compras de final de ano, a Bradespar preparou uma grande campanha publicitária e vai recorrer às armas conhecidas do varejo, como brindes e descontos, e às usadas pela empresa-mãe, como a oferta de acesso gratuito à rede.

O tamanho da pretensão implica um volume proporcional de problemas. Entre os grupos associados houve dúvidas sobre como funcionaria o sistema de entregas, o atendimento ao consumidor e até a emissão de notas fiscais (em alguns casos, compra-se direto da fábrica mas quem despacha para o comprador é o representante comercial mais próximo). Executivos das empresas envolvidas se reuniam todas as tardes, em grupos de 30 de cada vez, na sala de conferências da Bradespar, para tirar dúvidas sobre a operação. ?Depois da oferta pública de ações, em agosto, esse é o nosso maior desafio?, avalia Agnelli, que se divide entre as manobras com os sites e o final da operação de descruzamento de ações da Vale e CSN. O shopping virtual e os portais B2B ficarão sob o chapéu da Scopus, a empresa de informática do Bradesco-Bradespar. Na ponta do lápis, não deverão ser sequer sua maior fonte de receita ? essa é a Scopus.com, que produz software para transações na Internet e presta serviços como aluguel de espaço para hospedar sites. O Shopping será, porém, sua principal vitrine. E, como tal, terá de passar no Teste do Natal.