Os empregados da Corretora de Valores Concórdia são os primeiros a chegar no prédio na rua Líbero Badaró, no centro de São Paulo. Todos os dias, às 7h da manhã, eles já estão pendurados no telefone, enquanto a maioria dos concorrentes nem saiu de casa. O motivo para tanta pressa se explica por uma característica única da corretora. Criada há 16 anos pela Sadia, até hoje a Concórdia segue o ritmo de trabalho das granjas. ?Os funcionários da Sadia entram cedo para trabalhar e nós temos que estar a postos porque eles logo querem saber de suas aplicações?, diz Marcelo de Almeida, diretor de renda variável da Concórdia. Outra peculiaridade da corretora é que, embora seus funcionários madruguem para atender a Sadia, ela tem vida própria. No início, a Concórdia cuidava apenas do caixa da empresa, dos recursos do fundo de pensão e das aplicações dos empregados. Com o passar do tempo, a Concórdia ganhou uma clientela mais ampla e hoje cresce tanto que está disputando a liderança entre as corretoras independentes, aquelas que não pertencem aos bancos. Já é uma das seis maiores do País e administra R$ 1,5 bilhão em recursos de terceiros, ou seja, de pessoas que não trabalham na Sadia. Sua principal freguesia não se encontra nas fábricas. São os bancos, que respondem por 63% da receita da corretora. A Concórdia ainda tem 3 mil investidores comuns como clientes.

Crescimento: Instituição administra R$ 1,5 bilhão em recursos de terceiros

O mais curioso é que a corretora cresceu tanto e atraiu clientes no sistema financeiro sem que a empresa de alimentos fizesse muita força. Diretores da Concórdia dizem que não recebem cobranças para disputar posição no ranking das corretoras ou competir com nomes tradicionais do mercado financeiro. ?O que eles nos cobram, e muito, é sobre a rentabilidade das operações com o dinheiro da própria Sadia?, diz Antonio Joel Rosa, diretor de renda fixa. Como eles conseguiram bons resultados, acabaram atraindo outros fregueses. Para a Sadia, porém, a prioridade continua sendo o caixa da companhia. ?Com a Concórdia sabemos como anda o mercado financeiro e as decisões que devemos tomar?, diz Luiz Murat, diretor-financeiro da Sadia.

O estilo da empresa de alimentos está presente também no dia-a-dia da corretora. Fundada em 1944 na cidade de Concórdia, em Santa Catarina, a Sadia sempre foi controlada pela família Fontana. Nos últimos anos, sua administração ficou cada vez mais profissionalizada. O mesmo acontece na corretora. Alguns integrantes da família Fontana ajudaram na fundação da Concórdia mas, aos poucos, afastaram-se do controle e deixaram a administração nas mãos de profissionais de mercado. Como ocorre na Sadia, o peso da tradição é forte na instituição financeira. Os principais diretores estão na Concórdia desde o seu início.

A principal estratégia de atuação da Concórdia é atuar em vários mercados, como ações, índices futuros e renda fixa. Com uma atuação diversificada, dizem os dirigentes da corretora, fica mais fácil superar a instabilidade típica da economia brasileira. Para ampliar ainda mais o raio de atuação da instituição, faltava um mercado, o de câmbio. Mas, a partir de janeiro, a empresa começará também a operar nessa área. Numa época em que a maioria das concorrentes sofre com o emagrecimento do mercado de ações, que levou ao fechamento de 13 corretoras em 2002, a Concórdia está otimista. Em 2002, o lucro deve superar o do ano passado, de R$ 4,5 milhões. ?No ano que vem será ainda melhor?, diz Rosa.