Em sua fábrica de 20 mil metros quadrados, em Santo André, Giulio Sofio tira do armário um caderninho de páginas amareladas repleto de anotações feitas a lápis. Uma delas traz a fórmula original, elaborada há quase seis décadas, da bala Juquinha de tutti-frutti. A guloseima clássica, que inicialmente era produzida na cozinha de um dos fundadores, o português Carlos Maia, ganhou o mundo e é exportada para 47 países como Estados Unidos, Austrália, África do Sul, Bélgica, Israel, Rússia, Senegal e Mauritânia. Mais do que isso: aos 60 anos, resiste bravamente num cenário em que grandes nomes já sumiram (caso da Soft?s) ou foram incorporadas por multinacionais (a 7 Belo hoje pertence à argentina Arcor). ?Além de aumentar sua produção para o mercado externo, vamos diversificar a linha de doces e explorar o nicho de balas dietéticas?, anuncia Sofio, que comprou a Juquinha em 1982.

Fundada em 1945, a empresa começou sua história produzindo refresco em pó. Um belo dia, Maia deu início à sua própria linha de balas, com know-how adquirido de um colega da concorrente Balas Chita. Mas o empresário não tinha um nome para sua criação. Pediu sugestões a um amigo, também português, que não titubeou: ?Coloque o meu nome, ora pois!?, disse o compadre Juca. O confeiteiro achou que o nome não era lá muito apropriado e decidiu usar o seu diminutivo. Foram batizadas, assim, as balas Juquinha. ?O maior capital da empresa é a marca. Faz 25 anos que não investimos em mídia, mas a diferença é que as balas Juquinha têm um lugar no mercado brasileiro que é único, conquistado pela qualidade?, diz Sofio, um italiano nascido em Roma e formado em Direito na Suíça.

Decidido a modernizar sua linha de produção, o português Maia comprou máquinas de última geração em 1979 e acabou se atolando em dívidas. Três anos depois, Sofio viu um anúncio no jornal: ?Vende-se fábrica de balas?. O italiano a adquiriu e ampliou a linha com novos sabores de bala e pirulitos. As exportações começaram em 1985 e são responsáveis pela sobrevivência da empresa. No ano passado, a Balas Juquinha faturou R$ 8 milhões, dos quais 50% vieram das vendas externas. É bem verdade que a vida já foi mais doce para a fábrica. ?No início do Plano Real, bala virou troco no País todo e eu faturava três vezes o que faturo hoje. Em 1995, as pessoas entenderam o valor da moeda e essa mania acabou. Além disso, há muita informalidade nesse setor. É difícil competir com balas 30% mais baratas porque as fabricantes não pagam impostos?, conta Sofio.

Atualmente, a fábrica paulista produz, por dia, 7 mil quilos de bala e 6 mil quilos de pirulito. São 300 toneladas de doce por mês, produção relativamente baixa quando comparada à gigante Riclan, antiga Balas São João, que fabrica 200 toneladas por dia. Mas Sofio parece satisfeito com os resultados de sua empresa. ?Já recebi diversas ofertas. Não vou dizer que nunca vou vender, mas sei que a fábrica ainda tem um potencial muito grande. A idéia é voltar gradativamente a fazer propaganda, explorar novos nichos como o pé de moleque e a bala diet e ampliar as exportações?, diz o empresário. Além disso, Sofio tem outra fonte de renda garantida. É sócio de um alemão e um sueco na Aldoro, fábrica de purpurina de cobre e alumínio, usada em gráficas, na indústria automobilística, na manufatura de fogos de artifício e de cosméticos. ?É uma verdadeira mina de ouro, porque temos o monopólio desse setor. Mas esta é outra doce história…?

TUTTI-FRUTTI DE NÚMEROS

 

Faturamento R$ 8 milhões

Funcionários 70

Produção diária de balas 7 mil quilos

Produção diária de pirulitos 6 mil quilos

Exportação 47 países