30/01/2013 - 21:00
Mais de um milhão de adolescentes se aglomeraram nas filas de 1.200 salas de cinema brasileiras, no dia 15 de novembro do ano passado, quando estreou Amanhecer – Parte 2. Para esses jovens, significava ver o episódio final da saga de vampiros românticos Crepúsculo, baseada nos best-sellers da americana Stephenie Meyer. Para a brasileira Paris Filmes, responsável pela distribuição da película no Brasil, representava um clímax em sua história. Com 9,5 milhões de ingressos vendidos em 2012, a trama vampiresca foi o segundo filme mais visto no País no ano passado, atrás apenas de Os Vingadores – The Avengers, distribuído pela Disney.
Fraccaroli: ”Foi um grande feito superarmos as distribuidoras americanas ligadas aos grandes estúdios”
Com esse fenômeno de audiência, a Paris Filmes, sediada em uma casa no bairro do Pacaembu, em São Paulo, se tornou a primeira empresa nacional a figurar no topo do ranking de distribuidores para os cinemas do Brasil. “É um grande feito superar os americanos”, diz Márcio Fraccaroli, de 46 anos, que começou a trabalhar na Paris Filmes em 1985 e hoje é seu principal acionista. O sucesso da empresa chama ainda mais a atenção pelo fato de, há dois anos, ela ser apenas a sexta colocada, atrás das mundialmente dominantes Paramount/Universal, Sony, Warner e Fox, além da brasileira Zazen, distribuidora do fenômeno Tropa de Elite 2.
Os 28 milhões de ingressos vendidos pelos seus filmes responderam por 18,8% do mercado nacional, que movimentou R$ 1,6 bilhão em 2012. Muito disso pode ser creditado na conta de Crepúsculo. Mas também ao tino comercial de Fraccaroli. “Cinco anos atrás, li os livros que dariam origem à série cinematográfica, para saber se poderia ser um bom negócio”, afirma Fraccaroli. “Não entendi nada, mas a minha filha adorou.” Foi o suficiente para farejar o potencial de sucesso da franquia, que era detida pela Lionsgate, distribuidora independente americana parceira da Paris. As boas escolhas de Fraccaroli, no entanto, se estendem além da saga dos vampiros.
Os outros 40 filmes distribuídos pela Paris, em 2012, atraíram juntos mais de 18 milhões de audiência. Isso graças a um catálogo composto tanto por películas premiadas, como O Artista – o vencedor do último Oscar –, quanto por comédias populares nacionais, como Até Que a Sorte nos Separe. “A Paris Filmes tem arrojo nos seus lançamentos”, afirma Manoel Rangel, diretor-presidente da Agência Nacional do Cinema. “Ela entra decidida e aposta forte nos filmes.” A saga da distribuidora começou com o imigrante romeno Sandi Adamiu, que criou a empresa nos anos 1950. Por dominar o idioma francês, passou a distribuir os filmes da tradicional produtora Pathé por aqui.
Nos anos 1980, sob o comando de Alexandre Adamiu, filho de Sandi, a Paris especializou-se em filmes de ação, além de expandir a rede de cinemas iniciada pelo pai, que chegou a ter 170 salas de exibição. Uma nova virada no roteiro foi necessária no começo dos anos 2000. Foi nesse momento que Fraccaroli passou de funcionário a patrão. A Paris ainda dividia os seus negócios entre a distribuição e a exibição. Sandi Adamiu, neto e homônimo do fundador, defendia o foco no segundo negócio. Como principal executivo da empresa, Fraccaroli queria deixar essa atividade e apostar tudo na distribuição.
“Na época, as exibidoras estrangeiras, como a Cinemark, começaram a dominar o mercado”, diz Fraccaroli. O impasse foi resolvido com um acordo em que o executivo assumia 70% do capital da empresa. A Paris Filmes, agora, enfrentará um novo desafio: o de evitar a ressaca com o fim da série Crepúsculo. A empresa tem em seu catálogo dois fortes candidatos a sucessores do fenômeno jovem: Jogos Vorazes, que já teve um primeiro filme de sucesso, e Dezesseis Luas, que estreia em março. Mas Fraccaroli não pretende apostar tudo na queda de outro raio no mesmo lugar.
A empresa começou a participar da produção de filmes nacionais, por meio de uma área comandada pelo filho de Alexandre e homônimo do fundador, Sandi. “É uma forma de controlarmos melhor a nossa safra de produções”, diz Fraccaroli. A Paris passou, então, a participar desde a elaboração do roteiro até o lançamento das obras. Com isso, dos cinco filmes brasileiros mais vistos em 2012, quatro tiveram as impressões da empresa em sua película. No momento, há 58 produções nacionais sendo desenvolvidas na casa, no Pacaembu. Mais sucessos de bilheteria podem sair de lá.