Um falso dilema tomou conta do mercado brasileiro de trabalho diante da escalada sistemática de oferta de vagas e ausência de candidatos a preenchê-las. Importar ou não mão de obra de fora, eis a questão. Gastaram-se horas em debates e movimentos de resistência contra uma alternativa que parece inevitável. O caso da contratação de seis mil médicos estrangeiros para distribuí-los por regiões mais remotas do Brasil gerou uma celeuma sem-fim sobre a qualidade da formação desses candidatos, necessidade de testes adicionais de conhecimento, dificuldades com a língua, etc. E no “deixa disso” esqueceu-se de abordar o básico: como resolver o problema do apagão de profissionais qualificados, em vários níveis de ensino e técnico, que está prejudicando o desenvolvimento adequado da produção nacional? 

 

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Não há tempo hábil nem estrutura educacional suficiente para dar uma resposta na quantidade e velocidade que o mercado está a exigir. É um fato de conhecimento geral. O Brasil, cujo déficit na área de ensino é secular, precisa hoje não apenas de médicos, mas também de engenheiros, técnicos de múltiplas habilidades e mesmo trabalhadores de nível médio que estão rarefeitos por aqui. Por outro lado, a crise econômica da Europa, que alimentou uma taxa recorde de desemprego naquele continente – ao menos três vezes maior que a registrada internamente –, lançou na praça uma quantidade imensurável de excelentes executivos e profissionais diversos que estão dispostos a migrar em busca de oportunidades que não encontram em suas cidades de origem. 

 

Espanhóis, portugueses, italianos, entre outros, já começaram a vislumbrar o Brasil como a melhor opção. Até porque uma consistente virada no poder aquisitivo de salários é verificada. Mesmo com a disparidade de câmbiodo real com o euro e o dólar. Parece surpreendente que uma economia emergente, tida como pobre comparativamente às do Velho Continente, consiga pagar mais e melhor a seus contratados. Todavia, vale também aqui a lei da procura. Para se ter uma ideia, o índice de desemprego em abril passado foi o menor para esse mês nos últimos 11 anos. A diferença entre os novos postos de trabalho (200 mil em abril) e o número de interessados em ocupá-los só aumenta por esses dias. A saída tem mesmo de vir além-mar.