Logo na entrada do bloco que reunia empresas de televisores e monitores da feira de tecnologia IFA, que aconteceu em Berlim, no começo de setembro, os visitantes paravam para admirar o maior aparelho de televisão de tela curva do mundo. O colosso de 110 polegadas, três metros de largura e 1,5 metro de altura tinha resolução 4K, quatro vezes mais nítida que a tecnologia de alta definição. Tão surpreendente quanto a tela gigante era a empresa que a fabricava. Trata-se da chinesa TCL, ainda uma ilustre desconhecida no Brasil.

Terceira em vendas no mundo, quando se fala em total de aparelhos fabricados, chega a brigar com as coreanas Samsung e LG pela liderança, pois produz para marcas menores – a própria Sam­sung foi sua cliente no passado. A disputa da TCL, no entanto, não se restringe aos aparelhos de tevê. Tal qual as concorrentes coreanas, a fabricante chinesa tem um amplo leque de produtos, que vai de smartphones e refrigeradores até eletrodomésticos, como máquinas de lavar. Dessa forma, ela já é uma das maiores companhias de eletroeletrônicos do mundo, com faturamento de US$ 14 bilhões, lucro de US$ 343 milhões e 73 mil funcionários, que trabalham em dezenas de fábricas espalhadas pelo mundo.

A ambição do CEO George Guo agora é replicar a trajetória da Samsung: ser uma potência global. “Não paramos de investir em pesquisa e tecnologia”, afirmou Guo, com exclusividade à DINHEIRO (leia entrevista ao final da reportagem). “Em todos os mercados em que atuamos queremos a liderança e estamos sempre buscando oportunidades.” A caminhada global começará na área de smartphones, liderada pela Samsung. Sua estratégia na área de mobilidade foi, no mínimo, inusitada. A TCL sabia que o aparelho do momento eram os celulares inteligentes.

Mas, enquanto Apple, Samsung, Nokia, LG e Blackberry brigavam para ganhar uma fatia desse mercado, a TCL focou no produto que essas empresas estavam abandonando: os celulares simples, que não oferecem acesso à internet. Por intermédio da Alcatel, a combalida marca de celulares francesa, adquirida, em 2004, por US$ 80 milhões, ela espalhou seus aparelhos por diversos mercados do mundo, inclusive no Brasil. Isso não quer dizer que os chineses tenham deixado de lado os celulares inteligentes. “Temos tudo que é necessário para estar entre as empresas do topo desse segmento”, afirma Guo. “Não seremos apenas coadjuvantes.”

O primeiro aparelho inteligente da TCL que estampava a marca Alcatel One Touch foi lançado há três anos. Hoje, seu portfólio conta com quatro linhas e dezenas de aparelhos, que vão desde modelos simples, como o Pixe e o Pop, aos topo de linha, a exemplo do Hero 2, lançado na IFA 2014, que pretende disputar a preferência dos consumidores com nomes como o iPhone, da Apple, e Galaxy S, da Samsung. Outro pilar importante da estratégia é ter em seu portfólio um variado número de modelos de aparelhos, a exemplo da Samsung. Dessa forma, a Alcatel avançou em alguns mercados.

Hoje, a marca é líder no México, Equador, Colômbia e tem posição de destaque no Chile e nos Estados Unidos. Segundo projeção da consultoria de tecnologia americana IDC, a Alcatel deve ficar entre os cinco maiores fabricantes de smartphones do mundo em 2015. “A Alcatel vai se beneficiar do crescimento dos mercados emergentes nos próximos anos”, diz um relatório da consultoria de investimento americana Zacks. “Eles mostram grande evolução em pesquisa das tecnologias 3G e 4G, que serão destaque nesses países.”

A TCL, no entanto, precisa avançar em seu próprio quintal. Na China, que conta com bilhões de consumidores, quem dá as cartas são empresas locais, como Xiaomi, Lenovo e Yulong, e a onipresente Samsung. “Não há dúvidas de que a China é muito importante”, afirma Guo. “Mas nossos planos para ter sucesso em casa passam por conquistar uma marca forte fora do país.” As demais marcas chinesas de smartphones, porém, fizeram exatamente o caminho inverso. Elas primeiro ganharam força em sua terra natal. Só depois, criaram operações internacionais. Será essa uma estratégia original da TCL que dará certo?

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“Queremos ser sempre os primeiros”

O CEO da TCL, George Guo, concedeu a seguinte entrevista à DINHEIRO na IFA, feira de tecnologia, que aconteceu em Berlim, no começo de setembro:

O sr. disse em sua apresentação que algumas grandes empresas vão desaparecer, mas a TCL não será uma delas. Por que está tão seguro disso?
Temos um grande time e a TCL não para de investir em pesquisa e tecnologia. Esses são os itens necessários para continuar forte. Em todo mercado em que atuamos, queremos ser sempre os primeiros. Não podemos perder as chances que aparecem, estamos continuamente buscando oportunidades.

Por que a TCL entrou tarde no mercado de smartphones, com a marca Alcatel?
Costumávamos vender só celulares simples. Mas, quando percebemos que a virada era inevitável, mudamos. A questão é que conseguimos tirar essa diferença muito rapidamente. Hoje, temos um porte considerável e só vamos crescer. Temos recurso para investir não apenas em smartphones, mas também em outros itens que serão destaque no mercado, como os vestíveis.

Que tendências o sr. está observando?
Precisamos vender produtos aliados a serviços. Essa é uma das tendências do mercado. Estamos nos reorganizando para isso, pois se trata de um fator necessário para quem quer ser um competidor de peso no mundo da mobilidade.

A marca Alcatel está bem posicionada em diversos mercados, mas não na China. Por quê?
É um mercado no qual precisamos crescer. Mas o crescimento na China virá depois de nos fortalecermos em outros países do mundo.

A TCL tem planos de comprar alguma empresa?
Não descartamos nada. Nosso estilo não é descartar. Deixamos tudo como uma possibilidade, mas não há nenhum plano na minha mesa.

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O plano brasileiro da TCL

Você conhece a Alcatel One Touch? Boa parte dos brasileiros vai responder “não” a essa pergunta. A marca, que faz parte do grupo chinês TCL, no entanto, é uma das maiores vendedoras de celulares comuns, sem acesso à internet, do Brasil. Mas esse é um mercado que está caminhando rapidamente para a extinção. Hoje, o consumidor quer em seu bolso um smartphone com uma gama variada de recursos. “O Brasil é foco da nossa estratégia de América Latina para os próximos anos”, afirma Marcus Daniel, presidente da subsidiária brasileira da Alcatel.

Nos últimos meses, a Alcatel colocou na rua a estratégia para avançar no mercado brasileiro de smartphones. A produção nacional já começou em uma fábrica terceirizada na Zona Franca de Manaus. Foi criada, ainda, uma área para cuidar do pós-venda. Além disso, três modelos chegaram às lojas. Eles são da linha POP, de aparelhos mais baratos da companhia, com preços que começam a partir de R$ 300. “Esses aparelhos vão mostrar ao brasileiro a nossa cara”, afirma Daniel. “Essa faixa de preço é a que mais vende no País.” De acordo com projeções da consultoria de tecnologia americana IDC, a Alcatel deve conquistar 8% de participação de mercado no Brasil em 2015.

Se a meta for alcançada, ela figurará entre os cinco maiores fabricantes de smartphones do País. Neste ano, a Alcatel deve atingir uma fatia de 2%. “É um número positivo se você pensar que no ano passado não tínhamos nada”, diz o executivo brasileiro. O sucesso dos aparelhos mais baratos da Alcatel é crucial para os próximos passos da empresa. Na IFA 2014, ela lançou o Hero 2, um celular topo de linha. “Mas primeiro temos de convencer o brasileiro de que vale a pena investir em um dos nossos aparelhos”, afirma André Felippa, vice-presidente de marketing para a América Latina da Alcatel.