Até o surgimento das Unidades de Polícia Pacificadora no Rio de Janeiro, no fim de 2008, as campanhas de saúde pública do governo federal só chegavam às favelas cariocas por intermédio dos caminhões da Liquigás, maior distribuidora de gás de botijão do País. 

Sem legitimidade nesses territórios, então dominados  por traficantes, o poder público apelava às empresas de distribuição de gás para fazer chegar à população informações sobre os riscos e os meios para se prevenir doenças, como a dengue. Hoje, o governo já chega às favelas por suas próprias pernas, mas os entregadores da Liquigás continuam oferecendo os folhetos explicativos do Ministério da Saúde para cerca de 14 milhões de pessoas no País. 

 

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Silvino, presidente da Liquigás: Funcionários da distribuidora de gás entregam folhetos

das campanhas do ministério durante as entregas dos butijões 

 

Esta é uma das inúmeras ações do projeto Parceiros da Saúde, iniciado em 2007, de maneira informal pelo Ministério da Saúde, e formalizado no ano passado. O projeto conta com a participação assídua de gigantes como Unilever, McDonald’s, Coca-Cola e Colgate-Palmolive, que mantêm contato diário com milhões de consumidores e contribuem para amplificar as campanhas de prevenção de doenças. “As parcerias nos ajudaram a chegar aonde o braço do governo não alcançava”, diz Marcier Trombiere, idealizador do Parceiros da Saúde, no ministério. 

 

O governo federal não consegue estimar o tamanho da economia para os cofres públicos com as parcerias, mas alguns números dão uma ideia do benefício do contato estreito entre o Estado e as 500 empresas parceiras. A campanha de vacinação do ano passado contra o vírus H1N1, responsável pela gripe suína, por exemplo, contou com o apoio das operadoras de celular Oi, TIM, Vivo e Claro, que enviaram gratuitamente mais de 36 milhões de torpedos com informações sobre a doença para seus usuários. 

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Uma ação do gênero custaria ao menos R$ 10,8 milhões ao Ministério da Saúde. A campanha foi considerada um sucesso, tanto pelo alcance da vacinação – metade da população brasileira foi vacinada – quanto pelo baixo índice de desperdício de material. “No Brasil, a informação chegou a 98% do País e não tivemos desperdício de vacinas, como em outros países”, diz Trombiere. Segundo ele, a colaboração reforça o orçamento limitado do ministério, que dispõe de R$ 140 milhões por ano para investir em publicidade. 

 

Para as empresas voluntárias, o custo da camaradagem também é praticamente nulo. A maioria aproveita seus sistemas de distribuição já estabelecidos para levar a informação aos confins do País. É assim, graças aos caminhões da Coca-Cola, que transitam por 1,2 milhão de pontos de venda espalhados pelo Brasil, que os cartazes de campanhas do ministério chegam a comunidades ribeirinhas da Amazônia e a povoados isolados do Norte e Nordeste.

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A Unilever também não gasta praticamente nada ao incluir nas embalagens de produtos, como o sabão em pó Omo Baby ou o sabonete Lifebuoy, alertas sobre a vacinação contra a paralisia infantil e a importância de lavar as mãos.  “A iniciativa da Unilever do Brasil inspirou mudanças na relação da empresa com os ministérios da Saúde de outros países”, diz Juliana Nunes, diretora de Assuntos Corporativos da Unilever.

 

Diante dos inúmeros desafios do Ministério da Saúde brasileiro, que vão desde a prevenção de doenças, como gripe e hanseníase, até o incentivo à doação de órgãos, as possibilidades de participação das empresas são infinitas. O McDonald’s, por exemplo, costuma oferecer os restaurantes como postos de vacinação e optou por instruir a população sobre o combate a doenças por meio das folhas de papel que cobrem as bandejas de seus restaurantes, manuseadas diariamente por 1,6 milhão de clientes. A maioria das empresas, contudo, opta por distribuir folhetos. 

 

E aproveita para dar atenção especial a seus empregados. “Contamos com uma equipe de aproximadamente 3,2 mil funcionários, portanto é fácil e barato fazer com que essas informações cheguem a eles”, disse à DINHEIRO Antonio Rubens Silvino, presidente da Liquigás.

 

As parcerias têm apresentado resultados tão bons para as empresas que algumas passaram a propor campanhas ao Ministério da Saúde, relacionadas a suas áreas de interesse. A Colgate-Palmolive, por exemplo, idealizou uma sobre a importância de escovar os dentes, que será apresentada nos próximos meses, com aval do ministério.