27/09/2006 - 7:00
Até pouco tempo atrás, contratar seguro-saúde de companhias estrangeiras era excentricidade de milionário. Nos últimos meses, porém, com as principais seguradoras brasileiras desistindo desse ramo e as operadoras de planos de saúde enfrentando a mais grave crise da história, corretoras de seguros passaram a oferecer esta opção de modo mais generalizado. ?O cliente quer acesso ao melhor tratamento disponível?, diz Alfenus Ávila, da Ávila & Associados, uma das empresas especializadas em seguros internacionais. ?E as coberturas dos planos estrangeiros, nesse sentido, são imbatíveis?, completa. Verdade? Em boa medida, sim. O que se oferece na maioria dos casos são apólices um pouco mais baratas do que as ?top de linha? do mercado nacional, com coberturas muito maiores ? não raro chegando a US$ 2 milhões, enquanto as brasileiras raramente alcançam o primeiro milhão. No entanto, lida-se com companhias sem representação no País e não há árbitro local para resolução de eventuais conflitos, já que nem a Agência Nacional de Saúde (ANS) nem a Superintendência de Seguros Privados (Susep) regulam os contratos.
Entre as companhias estrangeiras mais contratadas por brasileiros estão nomes como Allianz, IHI Danmark, Eurocross e BUPA (British United Provident Association). Como regra, vale o sistema clássico de seguro-saúde, com reembolso de despesas em sistema de livre escolha pelo cliente. Normalmente, 80% dos gastos com consultas e exames realizados sem internação são devolvidos. Assim, se uma visita ao médico custa R$ 400, o beneficiário recebe R$ 320. Entre as seguradoras brasileiras, ao contrário, a praxe é trabalhar com um valor fixo, em geral em torno de R$ 100. Já nos casos de hospitalização, todas as despesas costumam ser cobertas pelas apólices ?importadas? ? e muitas vezes acertadas diretamente com o hospital. Referência do ramo em São Paulo, o Hospital Albert Einstein já aceita 45 convênios internacionais.
Não há restrição explícita por parte da ANS à contratação de planos de saúde no exterior. No entanto, especialistas em saúde e medicina privada fazem ressalvas a essa alternativa. ?Se o consumidor tiver problemas de ordem jurídica, terá de brigar num fórum do país da companhia que escolheu?, alerta Walter Graneiro, sócio-diretor da consultoria Capitólio. Outro inconveniente é a forma de pagamento. Para manter a transação dentro da lei, as opções são abrir conta no país da seguradora ou usar um cartão de crédito internacional. É possível usar, também, o que os corretores chamam de intermediador ? mas convém ter certeza de que não se trata de um simples doleiro. ?Acho extremamente perigoso?, diz o médico empresário Silvio Corrêa, superintendente da Lincx, operadora de planos de saúde de alto padrão. ?Esses contratos não seguem as regras da ANS e podem ser reajustados a qualquer momento?, justifica. Corrêa revela que a Lincx perdeu clientes para a Bupa. Mas diz que quase todos acabaram voltando, reclamando principalmente da burocracia para obter os reembolsos. ?Achei que seria uma ameaça, mas percebi que não é.?