27/08/2008 - 7:00
NA QUARTA-FEIRA 20, O BANQUEIRO André Esteves, que vendeu o Pactual ao UBS por US$ 3,1 bilhões, embarcou para Londres. Foi ouvir os conselhos de seu mais novo guru, que agora será seu sócio. Trata-se de Persio Arida, economista respeitado e um dos responsáveis pelo sucesso do Plano Real. Os dois serão as principais estrelas de uma companhia chamada provisoriamente de BTG – back to the game, ou “de volta ao jogo” – e que nascerá, no dia 1o de setembro, com capital de US$ 3 bilhões para investir em fundos de ações e na compra de empresas. “O Persio será nosso estrategista”, disse à DINHEIRO Antônio Carlos Canto Porto, o Totó, que é sócio da dupla na empreitada. Mais do que uma contratação de peso, o movimento representa a segunda chance de Arida no mercado financeiro. Entre 1996 e 1998, depois de deixar a presidência do BNDES e do Banco Central, ele foi sócio do Opportunity, de Daniel Dantas. Ajudou a definir as estratégias dos principais fundos de investimento e depois atuou na estruturação do CVC, um fundo ligado ao Citibank que atuou fortemente na privatização brasileira. “É uma grande pessoa e uma mente brilhante”, resume o banqueiro Dorio Ferman, que comanda a área de gestão de recursos do Opportunity.
A primeira experiência do economista no mercado financeiro, no entanto, terminou de forma traumática. Em 1998, Arida chegou a se internar por mais de uma semana num hospital do Rio de Janeiro quando seu nome foi envolvido nos grampos do BNDES. As fitas clandestinas traziam conversas dele com o amigo André Lara Resende, à época presidente do banco, e revelavam a atuação do governo na privatização da Telebrás. Em outro momento de pressão, Arida também balançou. Foi quando se noticiou que ele, então presidente do BC, havia passado um fim de semana na fazenda do banqueiro Fernão Bracher, do BBA, às vésperas de uma mudança cambial. Essa notícia contribuiu para sua saída do governo. Desde então, Arida se refugiou em Londres, onde é um visiting scholar da Universidade de Cambridge. Lá, seus estudos acadêmicos recentes estão ligados a subprodutos da estabilidade, como a oferta de crédito de longo prazo. Algo bem distante do trabalho que o projetou como gênio e entrou para a história como o “plano Larida”. Foi da mistura de suas idéias com as de Lara Resende que nasceu a URV, embrião do real.
De todos os economistas dourados da PUC do Rio de Janeiro, Arida é o único que ainda não construiu uma grande fortuna no mercado financeiro. O ex-ministro da Fazenda Pedro Malan é presidente do conselho do Unibanco. Armínio Fraga, ex-Banco Central, hoje está à frente de fundos de mais de US$ 7 bilhões na Gávea Investimentos. E Gustavo Franco, que teve alguns entreveros com Arida no governo, comanda a Rio Bravo. Pelo acordo feito com André Esteves, o economista continuará vivendo em Londres, à frente do escritório local. Seu papel será o de traçar cenários econômicos que nortearão a política de investimento dos fundos. Um dos fatores que seduziram o ex-dono do Pactual foi a abertura intelectual de Arida. Dos pais do real, por exemplo, ele foi o primeiro a defender a flexibilização do câmbio fixo. Num ambiente de retração e incertezas nos mercados globais, o que Esteves menos procurava era um economista dogmático.