14/07/2015 - 18:45
Para o bem ou para o mal, é difícil encontrar quem nunca ouviu falar sobre a centenária marca Giroflex. Fundada em 1872 na Suíça, a empresa conquistou um lugar cativo no mercado de mobílias de alto padrão, graças à reputação de qualidade e de design de suas peças. Uma única cadeira da grife passa facilmente de US$ 2 mil, podendo chegar a US$ 20 mil. No Brasil, a Giroflex chegou ao mercado nos anos 1950 pelas mãos dos empresários Hans e Pedro Schmidt, licenciados pela marca europeia. Em sete décadas de vida, a empresa viveu altos e baixos.
De maior fabricante e revolucionária no setor de móveis de escritório nos anos 1970, a Giroflex, ao contrário de sua inspiradora suíça, chegou ao fundo do poço e teve sua falência decretada no fim do ano passado, apesar da tentativa de implementar uma rigorosa gestão, copiada do controverso estilo Ambev. Não deu certo e a alternativa foi fechar as portas no Brasil. “As últimas diretorias prostituíram a empresa para os chineses, a fim de baratear os custos”, afirma o capixaba Pedro Aníbal Candal, presidente da Candall, especializada em móveis para escritório e novo representante da Giroflex.
“Eles esqueceram que a companhia era sinônimo de qualidade e só pensaram no dinheiro, que nunca veio.” O executivo fala literalmente de cadeira para avaliar os tropeços de gestão na Giroflex. Durante 35 anos, ele ocupou altos cargos dentro da empresa. O último deles foi o de diretor industrial, em 2007. À época, aos 58 anos, decidiu se aposentar para abrir um escritório de advocacia, mas não conseguiu ficar longe do antigo ramo. Em 2010, fundou a Candall – apenas dobrou o “l” para diferenciar de seu sobrenome. Em razão do bom relacionamento que conquistou com os suíços da Giroflex, enxergou na falência da operação brasileira uma oportunidade para representar a marca.
Os executivos suíços gostaram da ideia. “Até que, depois da falência, decidimos que voltaríamos a tocar a Giroflex nos moldes antigos, focando mais em qualidade e na exclusividade”, diz. “A minha tese sobre prostituição soava como música para eles.” Algumas mudanças, contudo, foram necessárias. O nome Giroflex, usado para pagamento de dívidas da antiga companhia, foi descartado. Decidiu-se, então, por Argoflex, nome aprovado pela matriz europeia em algumas subsidiárias pelo mundo. Os tempos de faturamento encorpado, que chegavam a R$ 250 milhões anuais, também ficaram para trás e deram lugar a números mais modestos.
“Nossa ideia é ser uma boutique de móveis para escritório”, diz Candal, que prevê faturamento de R$ 12 milhões até 2017. “Queremos que nos procurem para comprar todo o mobiliário, não apenas peças individuais, como as tradicionais cadeiras.”Segundo ele, para se montar uma única sala de escritórios, podem ser gastos até R$ 40 mil. De olho nessa demanda, a Candall, que já investiu R$ 18 milhões desde a sua abertura, aposta no conceito de qualidade e robustez das cadeiras. Garantias de até uma década nas cadeiras e mesas, somadas à propaganda do designer dos produtos Giroflex, serão a a tônica da estratégia que a companhia adotará pelos próximos anos.
O carro-chefe da Argoflex, o modelo G64, por exemplo, foi concebido pelo renomado escritório italiano Walser Design. Outra parte do plano é nacionalizar o que for possível da produção, hoje baseada da importação das fábricas da Giroflex na Suíça. “Até o ano que vem, imaginamos que metade da produção seja fabricada localmente”, diz Candal. Para não perder o DNA da Giroflex, o empresário recrutou uma série de antigos funcionários da empresa, desde profissionais de diretoria até operários do chão de fábrica. Encontrá-los foi fácil. “A maioria deles joga futebol há 30 anos juntos”, diz. O filho de Candal, Vitor Hugo, assumiu o departamento comercial e financeiro.
“Sabemos que temos condições reconquistar todos os clientes”, afirma Vitor Hugo, que neste ano fechou contratos com empresas como Scania, Santander e FGV. A recuperação do mercado perdido, porém, não é tão simples quanto parece. Segundo Marcelo Prado, diretor do Instituto de Estudos e Marketing Industrial, a empresa pode ter dificuldade na tentativa de retomar o contato com o consumidor final. “Para vendas empresariais, pode ser fácil explicar que é a mesmo produto”, diz Prado. “O problema será explicar isso no varejo tradicional, que já foi conquistado pelas concorrentes.”