Criado por dois cientistas nos Estados Unidos, o código de barras completa 50 anos neste mês. Ao longo desse tempo ele mudou completamente a forma como nós fazemos compras. Permitindo o rastreamento de cada item, desde as fábricas até as lojas, tornou-se um padrão mundial de identificação de produtos. Considerada uma das 50 inovações que mudaram a economia mundial, a tecnologia tem sido tão útil que é utilizada todos os dias em mais de 1 bilhão de produtos que passam pelos caixas no mundo inteiro. Com o código de barras, indústria e varejo padronizam as informações que chegam ao consumidor e melhoram o planejamento logístico. Mas isso tudo não basta. Novas legislações passaram a exigir dados mais completos sobre os produtos e sua origem, obrigando o código de barras linear a evoluir para uma nova dimensão.

O resultado dessa evolução está prestes a ser lançado. Com o nome 2D, ou código bidimensional, ele irá unir as barras ao desenho mais complexo do QR Code. Segundo seus idealizadores, a forma híbrida irá aumentar consideravelmente a capacidade de armazenar e transmitir informações. Além de lote, número de série e preço, será possível incluir até dados nutricionais, no caso de alimentos. Tudo ao alcance de qualquer pessoa por meio da câmera do celular. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Automação (GS1 Brasil), João Carlos de Oliveira, a mudança parece simples, mas altera muito a gestão e controle de estoques, tanto na indústria como no varejo. “É uma segunda revolução tecnológica que possibilita à cadeia de suprimentos melhorar a gestão e controlar a armazenagem, evitando perdas”, disse.

No Brasil, o código de barras chegou com atraso de dez anos, há quatro décadas. Além de facilitar a vida do varejo ao eliminar a necessidade de remarcação de preços (sobretudo em períodos de maior escalada inflacionária), ele passou a ser usado também para identificar boletos de pagamento, suprimindo a digitação de longas séries de números, da mesma forma que as compras não precisam ser digitadas pelos caixas, bastando aproximar do leitor. Aos poucos, as barras tornaram-se onipresentes em etiquetas de roupas, ingressos, tíquetes de estacionamento, crachás de credenciamento… Mas até nessa infinidade de aplicações, o código linear passou a mostrar suas limitações. O QR Code, mais completo e capaz de gerar uma conexão on-line para conteúdos multimídia, foi ocupando o espaço das barras. Isso ficou claro durante a pandemia, quando os cardápios de restaurantes passaram a ser exclusivamente gerados por QR Code. Hoje, o quadradinho pixelizado também serve para passar Pix. Diante das novas exigências legais de fornecer ao consumidor informação detalhadas, a GS1, associação sem fins lucrativos que desenvolve e mantém padrões globais para comunicação empresarial, começou a estudar formas para aprimorar a solução. A filial japonesa da entidade teve uma ideia simples, mas ideal: complementar o código de barras com o QR Code.

Carla Formanek

“O consumidor vai comprar uma carne e poderá saber até de qual fazenda saiu o boi” João Carlos de Oliveira presidente da GS1 Brasil.

MUDANÇA GRADUAL Segundo Oliveira, que preside a GS1 Brasil, a mudança será gradual. A indústria irá incluir as informações aos poucos e o varejo precisará de novos leitores para o código bidimensional, que por um tempo vai conviver com o linear. Mas em quatro ou cinco anos, quando passar esse período de adaptação, toda a cadeia estará em outro patamar. “O consumidor poderá baixar aplicativo em seu celular e através da leitura do código poderá saber dos dados nutricionais de um produto, de forma tão simples como ler o cardápio no restaurante, e sem as letrinhas miúdas dos rótulos”, disse. Se as informações forem insuficientes, o fabricante terá de investir para se atualizar com o novo código. Segundo Oliveira, o custo para isso não será um impeditivo, pois haverá ganhos na gestão da cadeia. “O importante é a mudança cultural que o novo código traz. O consumidor vai comprar uma carne e poderá saber até de qual fazenda saiu o boi”, afirmou Oliveira.

Nos últimos anos, a automação na logística vinha obrigando a complementação do código de barras com outras tecnologias como a identificação por radiofrequência (RFID). Porém, a adição do QR Code garante a ampliação das informações sem grandes mudanças nos rótulos. “Os medicamentos já vinham com um QR Code especial e outras mercadorias tinham o RFID”, afirma o representante no Brasil da GS1, que está presente em mais de 150 países e ajudou a implantação e expansão do código de barras em todo o mundo. No País, a entidade tem cerca de 58 mil associados que representam 36% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.