A trajetória do Segway, o patinete elétrico com jeitão futurista, tem sido marcada por acidentes de percurso. Apresentada como peça revolucionária por seu criador, o inventor americano Dean Kamen, a engenhoca ganhou as ruas e áreas de lazer de diversas cidades do mundo, a partir de 2002. No entanto, o sucesso do produto junto à comunidade acadêmica e aos ecologistas, não se reproduziu, com a  mesma proporção, nas vendas. 

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Modelo: Ribeiro, diretor da SGW, criou o sistema de aluguel para viabilizar os negócios da marca no Brasil 

Até 2006, tinham sido comercializados somente 23 mil exemplares em escala global. Era muito pouco para as ambições de Kamen, que pretendia vender 40 mil unidades por ano. No Brasil, onde o Segway começou a deslizar pelas calçadas e corredores dos shopping centers, há cinco anos, os obstáculos foram ainda maiores. A falta de entendimento do conceito, aliado ao elevado preço de venda – entre R$ 29,7 mil e R$ 35 mil, dependendo dos acessórios – dificultou a carreira do Segway. A partir de meados de julho, porém, esta situação deverá mudar.  

Pelo menos no quesito preço, com o início da fabricação local do patinete em uma planta situada em Manaus. Com isso, a expectativa é de que o valor de venda caia cerca de 30%. “Ainda é cedo para falar em redução de preço”, disse à DINHEIRO Luciano Ribeiro, 34 anos, sócio-diretor da SGW, a empresa que representa a marca no Brasil. Do ponto de vista estratégico, a vantagem será poder atender mais rapidamente à demanda, que cresceu cerca de 30% no ano passado. “Existe uma lista de espera para centenas de equipamentos.”

 

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Vítima famosa: em 2003, o então presidente americano George W. Bush levou um tombo homérico ao tentar pilotar um Segway 

 

A fábrica, localizada no Distrito Industrial de Manaus consumiu R$ 5 milhões e possui capacidade para montar até mil unidades por ano, gerando um faturamento estimado em R$ 30 milhões. Sua instalação foi precedida por um longo período de negociações, envolvendo a matriz e as autoridades da Zona Franca de Manaus, responsável pela definição dos incentivos fiscais. O índice de nacionalização de peças será de 30% no primeiro ano e poderá subir progressivamente. 

 

O coração do sistema, formado pelo motor elétrico e os sensores que permitem o equilíbrio, serão importados de Bedford (EUA), onde está instalado o QG da Segway. “Trata-se da primeira unidade produtiva fora dos Estados Unidos”, afirma Ribeiro. Este não é o único detalhe que faz do Brasil uma exceção. O modelo de negócio adotado por aqui também é peculiar. O preço e o  desconhecimento em relação ao produto, fez com que Ribeiro e seus dois sócios optassem por privilegiar a locação, em vez da comercialização do patinete. O “Pacote Mobilidade” custa R$ 1.750 mensais e inclui manutenção e troca de peças. 

 

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Vítima fatal: Heselden, dono da Segway, morreu após acidente com o patinete

 

Hoje, 70% dos equipamentos que rodam pelo Brasil se enquadram nessa modalidade. “O restante é usado para deslocamentos em momento de lazer”, diz o empresário. Mesmo com o início da produção local, especialistas acreditam que o mundo corporativo continuará sendo o principal cliente da Segway por aqui. “O preço de venda é extremamente caro para o perfil local de renda”, afirma a consultora Giovana Lotice Baggio, professora de sustentabilidade da BBS Business School. “E, mesmo com o apelo ecológico, dificilmente existirão pessoas que enxerguem a relação custo-benefício desse meio de transporte.” 

 

Além disso, é preciso levar em conta a segurança do usuário nas esburacadas ruas e calçadas de nossas cidades. Esse debate, aliás, se intensificou a partir de outubro de 2010, quando o milionário britânico Jimi Heselden, dono da Segway, morreu após sofrer um acidente enquanto guiava um de seus patinetes. Além desta ocorrência trágica, circulam na internet dezenas de vídeos mostrando pessoas levando tombos homéricos. Um dos mais famosos foi protagonizado pelo então presidente americano, George W. Bush, em 2003. Ribeiro sustenta que o meio de transporte é seguro, desde que operado de forma correta. “O Segway é vendido no mundo inteiro e integra a lista de equipamentos das forças policiais de inúmeras cidades americanas”, afirma. 

 

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