Confirmando as expectativas da grande maioria do mercado, o Fed (Federal Reserve), o banco central americano, elevou na quarta-feira (21) as taxas de juros em 0,75 ponto percentual para a faixa entre 3,00% e 3,25% ao ano. Mais importante do que isso, a autoridade monetária americana indicou que as taxas seguirão subindo e vão permanecer elevadas por um bom tempo. Na avaliação dos especialistas, o Fed deverá aumentar os juros até a faixa entre 4,50% e 4,75% ao ano. A expectativa do mercado para esse teto, conhecido pelo nome técnico de “taxa terminal”, estava ao redor de 3,75% a 4% ao ano na reunião anterior do banco central americano, realizada em agosto.

A decisão confirma que o Fed abandonou de vez a leniência com a inflação. Os juros subiram para o nível mais alto desde o início de 2008. Foi o terceiro aumento consecutivo de 0,75 ponto percentual. A alta começou em março, quando os Fed Funds, as taxas referenciais, estavam praticamente a zero. Essa elevação de três pontos percentuais em apenas seis meses foi o aumento mais agressivo desde que o Fed começou a usar os Fed Funds para definir o custo do dinheiro, em 1990.

O dos juros já era esperado. O que não estava nas previsões é a discordância das expectativas entre os participantes do Federal Open Market Committee (Fomc). Há uma grande dispersão das expectativas: parte dos membros do Fomc espera que a taxa de juros comece a recuar no fim de 2023, e parte dos participantes acha que só será possível aliviar a pressão da política monetária no fim de 2024. “Isso indica que é pouco provável que os juros comecem a cair já em 2023, como muitos participantes do mercado esperavam”, disse o economista-chefe da gestora de recursos Western Asset, Adauto Lima.

“Os juros da zona do euro ainda estão muito distantes do nível que irá derrubar a inflação de volta à meta” Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu. (Crédito:Daniel ROLAND/AFP)

Segundo William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities, o aumento de juros veio em linha com o esperado e não representa em si uma surpresa. “No entanto, as demais projeções realmente surpreenderam e apresentaram uma perspectiva bastante negativa, com inflação maior e mais permanente, com juros que devem se manter altos por um período prolongado e com projeção de menor crescimento para economia americana”, diz ele.

A decisão do Fed não deverá ser isolada. Na Zona do Euro, o Banco Central Europeu (BCE) vem elevando os juros sistematicamente. Nas três últimas reuniões, a autoridade monetária elevou os juros. Em julho, as taxas foram elevadas em 0,5 ponto percentual. Como os juros estavam negativos, eles voltaram para zero. E, no início de setembro, o BCE realizou o primeiro aumento de 0,75 ponto percentual desde 1999, mandando os juros para esse patamar. A presidente do BCE, Christine Lagarde, disse que as taxas vão continuar a subir. “Os juros da zona do euro ainda estão muito distantes do nível que irá derrubar a inflação de volta à meta”, disse ela.

INVESTIMENTOS Como isso impacta seus investimentos? Segundo os analistas, o endurecimento da política monetária já aparece nos preços. “Antes da alta o índice S&P 500 estava em 4.200 pontos e agora está em 3.800”, disse Lima, da Western Asset. Mesmo assim, espera-se um impacto em diversos mercados brasileiros. As ações deverão ter sua capacidade de valorização limitada, pois juros americanos em alta drenam investimentos de países emergentes. Em alguma medida isso também ocorrerá com os títulos de renda fixa. “Isso seguirá até haver a percepção de que a inflação americana está controlada”, disse o gestor de recursos Tasso Lago. “Ações e criptomoedas tendem a seguir caindo, porque quanto mais aumentam os juros nos Estados Unidos, menos as pessoas estão dispostas a investir em ativos de risco ao redor do mundo.”