27/03/2015 - 20:00
Muito papel já foi gasto para falar do isolamento político da presidente Dilma Rousseff. Mas o abandono também atinge a legenda à qual é filiada, o Partido dos Trabalhadores (PT). A agremiação é um partido de massas que perdeu contato com o povo e solou. Um sinal dessa solidão é a forma como convocou novas manifestações para a terça-feira 31. Em um vídeo divulgado na página que mantém em uma rede social, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, convidou “os militantes e os amigos” a participarem de “um grande agito”. Era de se esperar que o objetivo fosse demonstrar um forte e inequívoco apoio a Dilma, no momento em que sua popularidade bate recordes negativos e o governo prega que é preciso vencer a “guerra da comunicação”.
Mas, se isso for verdade, o PT dá sinais de que perdeu a capacidade de fogo. Ao convocar a militância, Falcão afirma que serão realizados “pequenos atos, plenárias e panfletagem” – um arsenal digno de grêmio estudantil. Dois pontos chamam a atenção na atitude do PT, neste momento, e indicam a deterioração de seu prestígio. O primeiro é o próprio porte dos atos programados para terça. O de maior destaque será promovido na quadra do Sindicato dos Bancários de São Paulo, no centro da capital paulista. O local tem capacidade para receber, no máximo, 4 mil pessoas – com uma média de 1 mil a 1,5 mil por evento.
A discrição do PT, em relação às novas manifestações, é compreensível. Com sua tradição de mobilizar as massas, o partido deu um vexame nas marchas de 13 de março, realizadas em apoio ao governo. Quem compareceu foram os aliados de sempre: a Central Única dos Trabalhadores, seu braço sindical, e o Movimento dos Sem-Terra. Encarados como uma resposta antecipada aos protestos de 15 de março, convocados por grupos contrários a Dilma, os atos frustraram o PT. Na estimativa mais otimista – a dos próprios organizadores – o ato reuniu 100 mil participantes em São Paulo.
Trata-se de uma goleada diante dos, pelo menos, 210 mil que protestaram dois dias depois, segundo o instituto Datafolha, ou 1 milhão, de acordo com a PM. Outro ponto é o constrangimento do PT em defender enfaticamente Dilma. No vídeo em que convoca a militância para os novos atos, Falcão não se refere, em nenhum momento, à presidente. As bandeiras que evoca são a defesa da democracia, da Petrobras, dos direitos trabalhistas, da reforma política e o combate à corrupção. Trata-se de um sinal claro de que o partido faz de conta, cada vez mais, que não está no governo.
O motivo é simples: de aliados da inclusão social, os petistas passaram a ser vistos como cúmplices da corrupção na Petrobras, da crise econômica e dos duros, mas necessários, ajustes propostos pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Um recente editorial da revista inglesa The Economist, uma das mais influentes do mundo, afirmou sem rodeios que Dilma praticou “estelionato”, ao demonizar, durante a campanha de 2014, as medidas econômicas que adotou depois.
Os efeitos da crise, porém, não exasperam apenas a “elite branca”, o inimigo imaginário criado pelo PT para encarnar toda a oposição. Os problemas já atingem a base da pirâmide – os que ganham até cinco salários mínimos, principais responsáveis pela apertada reeleição de Dilma. Seu descontentamento corrói a imagem de Lula e da legenda. Por instinto de sobrevivência, os caciques tentam se descolar da problemática companheira. Para o PT, a solidão parece, hoje, mais vantajosa do que estar mal acompanhado.