Na série de livros ilustrados Onde está Wally, lançada pelo inglês Martin Hartford em 1987, a diversão é encontrar o bonequinho Wally, desenhado de óculos e camiseta listrada, em meio a ilustrações sempre complexas. Embora quase invisível, ele sempre está lá. Basta procurar bem. Se as placas da Mills Engenharia e de sua marca Jahu tivessem de ser buscadas em fotos panorâmicas de grandes obras brasileiras, encontrá-las seria quase como achar Wally. Embora poucos as tenham visto, elas também estavam lá: na construção de Brasília, da rodovia Presidente Dutra, nos Arcos da Lapa no Rio de Janeiro, na hidrelétrica de Itaipu, na ponte Rio-Niterói.

 

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Vazquez, presidente: ”Vamos dobrar de tamanho em dois anos”

 

A lista é bem grande. A Mills não aparece muito porque não faz as obras: ela aluga e vende soluções para as empreiteiras, como formas para concreto, andaimes, escoramento para lajes e equipamentos para movimentação de material, por exemplo. Mas ela promete aparecer mais. 

 

A ideia de seus executivos é explorar os mercados de pequeno e médio porte. “Esse é o nosso próximo filão”, diz o presidente da empresa, Ramon Vazquez. Por isso mesmo, vai aumentar seu quadro de funcionários dos atuais quatro mil para cinco mil profissionais até 2011. 

 

A empresa também planeja a compra de novos equipamentos para atender a essa demanda. “Queremos trabalhar em obras como as de saneamento, estações de tratamento de esgotos, pequenas centrais elétricas e assim por diante”, diz Vazquez. 

 

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Como é contratada das empreiteiras, a empresa não está sujeita aos calotes dos governos, mas também recebe menos: de 1% a 2% do valor total de cada obra. Os números são pequenos, mas foi com eles que a companhia alcançou uma receita líquida de R$ 404 milhões, em 2009, e obteve sucesso na sua abertura de capital. 

 

No IPO realizado, em abril deste ano, a companhia captou R$ 685,74 milhões. O sucesso da operação é explicado pelo crescimento da receita líquida da Mills, bem acima da inflação nos três últimos exercícios (leia quadro). 

 

Com o disponível em caixa e mais esse dinheiro, agora ela tem R$ 1,1 bilhão para investir, entre 2010 e 2012, na expansão dos seus negócios. “Abrimos o capital porque as oportunidades de crescer são enormes”,diz Vazquez. “Vamos dobrar de tamanho em dois anos.”

 

Ele pretende atingir essa meta explorando também a construção dos estádios para a Copa do Mundo, as obras para a Olimpíada, as hidrelétricas de Santo Antonio, Jirau e Belo Monte, e o programa Minha Casa Minha Vida.  

 

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E não é só. “O que haverá de obras nos próximos anos é algo nunca visto no Brasil”, diz Vazquez. De acordo com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), entre 2009 e 2012, os investimentos em infraestrutura devem chegar a R$ 986 bilhões. 

 

“Nos últimos 20 anos, a indústria da construção andou de lado. E muitas empresas não se prepararam para o crescimento do setor”, diz o especialista em engenharia José Varella. “Agora, as empresas estão correndo para se recuperar do prejuízo.” 

 

Para atender a essa demanda em todo o País, a Mills está abrindo mais 11 filiais este ano e outras sete em 2011, todas no Brasil, em Estados como Maranhão, Pará, Amazonas e Mato Grosso. Isso, contudo, não foi decidido de uma hora para outra. 

 

Para entrar com força total no programa Minha Casa Minha Vida, por exemplo, a empresa está se preparando há dois anos e até importou uma técnica de construção criada no Canadá. 

 

“Temos a licença para fabricar formas que permitem a construção de casas em pouco mais de 24 horas”, diz Vazquez. São formas de alumínio, desenvolvidas pela empresa canadense Aluma Systems. 

 

Com elas, paredes e laje de uma casa são feitas de uma vez só, acelerando muito o andamento da obra. “A empreiteira pode aplicar o concreto às 18 horas de um dia e remover a forma no dia seguinte às 8 da manhã”, diz o presidente da Mills. 

 

A Bairro Novo, construtora do Grupo Odebrecht especializada em habitações para a população de baixa renda, utiliza essa tecnologia na construção de prédios, com formas da Mills e da empresa colombiana Forsa. “Com o sistema, ganhamos velocidade”, explica Marcelo Moacyr, o diretor da Bairro Novo. 

 

“Para fazer estrutura e fechamento de um prédio residencial padrão, com cinco pavimentos, gastamos 12 dias. Pelo método convencional, seria quase o dobro”, calcula.