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NA MANHÃ DA segunda-feira 7, o banqueiro Daniel Dantas retornou ao seu escritório, no Rio de Janeiro, depois de uma viagem de nove dias aos Estados Unidos. Dantas havia se ausentado em função dos rumores de que poderia ser preso a qualquer momento pela Polícia Federal. Naquele mesmo dia, o dono do grupo Opportunity falou à DINHEIRO sobre seu receio. “Ao contrário do que dizem, nunca pensei em deixar o Brasil”, disse Dantas. “Nossos negócios estão no País e quem vive aqui tem que se sujeitar ao risco de levar algumas balas perdidas.” Um dia depois, logo ao amanhecer, Dantas saiu algemado de seu apartamento, em Ipanema, e foi levado para a superintendência da PF no Rio de Janeiro por ordem do juiz Fausto Martin de Sanctis, da 6a Vara Criminal de São Paulo. Dantas era acusado de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, formação de quadrilha, uso de informação privilegiada e corrupção de servidores públicos. Dois dias depois, na madrugada da quarta-feira 9, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, aceitou o pedido de habeascorpus formulado pelo advogado Nélio Machado, concedendo liberdade a Dantas e a outras nove pessoas da alta diretoria do Opportunity – entre eles, Dório Ferman, responsável pela gestão de fundos de investimento que somam R$ 17,5 bilhões. “Nunca antes na história do País uma arbitrariedade tão grande foi cometida contra uma empresa”, disse Ferman, com exclusividade à DINHEIRO, poucas horas depois de deixar a carceragem da Polícia Federal, em São Paulo (leia sua entrevista ao lado). Ferman tomou um vôo para o Rio de Janeiro, onde iria reassumir o leme da 15a maior gestora de recursos do País.

Ao contrário do que dizem, nunca pensei em deixar o Brasil. Todos os nossos negócios estão aqui

DANIEL DANTAS

A estrutura do Opportunity
Empresa de Dantas teve vários de seus diretores com prisão decretada

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No auge da crise, o economista Afonso Bevilacqua, ex-BC, foi escalado para acalmar os ânimos dos investidoresi

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Mas, na quinta-feira 10, veio outra surpresa. O juiz Fausto de Sanctis voltou a determinar a prisão de Dantas, a despeito da decisão que havia sido concedida na véspera pela mais alta corte do País, alegando que, solto, o empresário poderia corromper autoridades e jornalistas para tentar influir em decisões judiciais.

No dia em que foi preso pela primeira vez, a terça-feira 8, Dantas estava só em seu apartamento, em Ipanema, com a esposa, Maria Alice. Os policiais chegaram por volta de 6h30 e iniciaram o cumprimento do mandado de busca e apreensão. Ao final, o empresário se recusou a assinar o termo apresentado pela Polícia Federal. Isso porque, de acordo com o advogado Gustavo Pinto Teixeira, também ligado ao escritório de Nélio Machado e que foi designado para acompanhar a busca e apreensão, documentos que não estavam na residência de Dantas poderiam estar sendo incluídos no material apreendido. Isso indica que os advogados do empresário irão sustentar a tese de que boa parte das provas pode ter sido plantada ou forjada pela própria Polícia Federal. No fim da diligência, para solucionar o impasse, Dantas e seu advogado só aceitaram assinar um termo de busca e apreensão circunstanciado e “sob protesto”. Depois disso, ele foi levado algemado para a superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro e, de lá, tomou um vôo para São Paulo. Além de dez pessoas do Opportunity, a Polícia Federal também prendeu outras sete que teriam vínculos com o investidor de origem libanesa Naji Nahas – entre eles, o ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta. De acordo com o procurador federal Rodrigo de Grandis, e o delegado Protógenes Queiroz, Daniel Dantas e Naji Nahas comandariam “quadrilhas” paralelas, com alguns pontos de convergência. Num dos trechos do relatório da PF, Nahas foi acusado até de receber informações sobre a taxa de juros americana pelo Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos. “É uma acusação que desafia a lógica”, rebateu seu advogado Sérgio Rosenthal. “Se fosse verdade, ele seria a única pessoa do mundo com essa informação.”

O Daniel é mais do que um sócio. É um amigo que sofre a maior campanha difamatória do País

DORIO FERMAN

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Batizada de Satiagraha, palavra do sânscrito que significa “resistência pacífica”, a mais recente operação da Polícia Federal mobilizou mais de 300 homens e partiu da quebra do disco rígido do Opportunity, apreendido durante a Operação Chacal, em 2004. À época, a ministra Ellen Gracie impediu a quebra do disco para preservar o sigilo bancário e fiscal dos clientes. Desta vez, porém, o juiz Fausto de Sanctis permitiu a abertura dos dados alegando que o veto era restrito à CPI dos Correios – e não à Justiça. Com a abertura do banco de dados do Opportunity, os policiais tiveram acesso às aplicações financeiras de mais de mil clientes. Segundo os advogados de Dantas, são correntistas brasileiros que aplicam em fundos locais. De acordo com a Polícia Federal, seriam cotistas do Opportunity Fund, um fundo sediado nas Ilhas Cayman, em que é vetada a admissão de investidores residentes no País. Os policiais também acusam Dantas de ter alimentado o “valerioduto”, na época do Mensalão, por meio de suas empresas Telemig e Amazônia Celular. O advogado Nélio Machado, por sua vez, refuta a acusação. “Se isso fosse verdade, o meu cliente deveria ter sido incluído entre os 40 que foram denunciados ao STF pela Procuradoria-Geral da República”, diz ele. Em 2006, o procurador geral, Antonio Fernando de Souza, listou como fontes do Mensalão os bancos Rural e BMG, bem como a empresa Visanet. Nenhuma dessas três instituições está no escopo da Operação Satiagraha. O publicitário Marcos Valério de Souza, das agências DNA e SMPB, e o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, também ficaram de fora das investigações. Para o ministro da Justiça, a prisão de Dantas e Nahas cumpriu os requisitos legais. “Isso mostra que não há mais intocáveis”, disse ele. Mas muitos criticaram os excessos da Operação Satiagraha e também o pedido de prisão formulado contra a jornalista Andréa Michael, da Folha de S. Paulo, que antecipou, numa reportagem de 26 de abril deste ano, as prisões – tal pedido, porém, foi negado pelo juiz Fausto Martin de Sanctis.

“FICO ATÉ O FIM”

Dorio Ferman, sócio de Daniel Dantas há mais de 20 anos, é um dos gestores de recursos mais premiados do mercado brasileiro. O fundo Lógica, que ele criou em 1986, foi o que mais rendeu na história do País: 37% ao ano, em dólar. Logo depois de sair da prisão, ele falou à DINHEIRO.

Como o sr. vê a Operação Satiagraha?
“Foi a maior arbitrariedade já cometida contra uma empresa na história do País. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer num regime democrático.”

Mas o Opportunity é acusado de uma série de crimes.
“Só falsidade. Não há uma única acusação que se sustente e tudo vai cair.”

Há rumores no mercado de que o sr. estaria prestes a sair do Opportunity, incomodado com o estilo de Dantas.
“Imagino que alguns que soltam os boatos estejam agindo até de boa-fé. Mas isso não faz sentido. Conheço o Daniel há mais de 20 anos e ele é muito mais do que um sócio.”

Como o sr. o define?
“É um sábio, um conselheiro, um amigo e a pessoa que sofre a maior campanha difamatória já vista no Brasil.”

A sociedade não pode prejudicar a área de gestão de recursos do Opportunity?
“Não. Nós temos resultados, reconhecidos pelo mercado. E isso se deve a ele. Nós dois sofremos arbitrariedades juntos e ficaremos juntos até o fim.”

Mas houve saques nos últimos dias.
“Coisa muito pequena, o que está nos jornais. Temos uma equipe boa, com o Afonso Bevilacqua e muitos outros. O que saiu nesses dias não compromete a nossa estratégia de investimentos nem as nossas posições acionárias. A verdade é que tudo será superado e que nós estamos muito tranqüilos.”
 

Em paralelo aos processos judiciais que terá de enfrentar pela frente, o empresário baiano tem um desafio ainda maior diante de si. A grande dúvida, a partir de agora, é saber como o Opportunity irá resistir – se é que irá – depois da ação da Polícia Federal. Isso porque instituições que lidam com recursos de terceiros dependem, essencialmente, da palavra confiança. E como os policiais já quebraram o sigilo bancário e pretendem investigar as declarações de renda dos cotistas, é natural esperar que alguns se acautelem – e que muitos outros se apavorem. Na semana passada, o Opportunity tomou duas providências. Primeiro colocou o exdiretor do Banco Central, Afonso Bevilacqua, à frente da gestão dos fundos, durante a ausência de Ferman. Além disso, divulgou fato relevante à Comissão de Valores Mobiliários, informando um volume de saques da ordem de R$ 1 bilhão. Ao todo, as perdas representam cerca de 6,7% do volume de recursos – isso inclui saques já feitos e os agendados para os próximos 90 dias. No mercado, também se espalhou o boato de que Ferman, traumatizado com a prisão, se desligaria do Opportuntiy. À DINHEIRO, ele rejeitou a hipótese. “Sofri uma grande arbitrariedade junto do Daniel e fico com ele até o fim”, disse o banqueiro. Ferman é um gestor reconhecido que criou, em 1986, o fundo mais rentável da história do mercado acionário brasileiro: o Lógica, que deu retorno médio, em dólar, de 37% ao ano.

 

A prisão do dono do Opportunity serve a grupos que têm interesse em anular a venda da Brasil Telecom para a Oi
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Com Ferman à frente da gestão de recursos, o risco de uma fuga de investidores diminui. Além disso, ao contrário do que muitos pensam, o Opportunity não é um banco, que recebe depósitos de clientes e faz empréstimos. É uma gestora de recursos não-financeira. Isso significa que, numa eventual corrida de clientes, a conseqüência seria a redução do tamanho da área de asset management. Na pior das hipóteses, em vez de gerir aplicações de terceiros, o Opportunity se transformaria num family office, cuidando apenas da fortuna pessoal da família Dantas, que é estimada em mais de US$ 2 bilhões. Se isso ocorresse, seria a saída do mercado de um empresário que viveu as últimas décadas em meio a grandes polêmicas. No governo Collor, ele chegou a ser sondado para assumir o Ministério da Fazenda. Na era FHC, surfou na onda das privatizações e trouxe para o Opportunity pessoas que lidaram com esse tema no governo, como Pérsio Arida e Elena Landau – ambos, ex-BNDES. Dantas tentou comprar a Vale, entrou na telefonia, adquirindo a Brasil Telecom, e também adquiriu a concessão para administrar o terminal de contêineres do porto de Santos.

Os negócios de Dantas
Ele atuou nas privatizações, mas, de tempos para cá, começou a diversificar as atividades
TELEFONIA:

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E ele comprou a Brasil Telecom em 1998 e a controlou até 2005
PECUÁRIA:

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o empresário tem o maior rebanho do País, com cerca de 500 mil cabeças
PORTOS:

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o Opportunity administra o maior terminal do País, em Santos
PETRÓLEO:

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é a nova aposta do grupo, com destaque para prospecção em terra
 

Com a chegada do PT ao poder, iniciou- se o seu inferno pessoal. O empresário tornou-se alvo de uma intensa guerra judicial e política comandada pelo ex-ministro Luiz Gushiken e pelos fundos de pensão estatais, que conseguiram retomar o controle da Brasil Telecom, antes de revendê-la à concorrente Oi, uma empresa controlada por dois doadores de campanha do PT: La Fonte e Andrade Gutierrez. Ao longo desse processo, o banqueiro foi acusado de contratar a Kroll para espionar o governo e hoje responde a uma ação penal na Justiça – na defesa, ele alega que as acusações foram montadas pela Telecom Italia, que também era sócia da Brasil Telecom. Em 2006, vários executivos da empresa italiana chegaram a ser presos em Milão e em Roma, acusados de patrocinar as ações policiais contra Dantas e também de corromper autoridades públicas e jornalistas brasileiros. Há mais de um ano, os advogados de Dantas vêm tentando trazer, sem sucesso, os documentos do inquérito italiano ao Brasil. “Queremos uma verdade plena, e não parcial”, diz o criminalista Nélio Machado. Especula-se no Congresso que Dantas poderá ser convocado a depor na CPI dos grampos.

EIKE BATISTA TAMBÉM NA MIRA

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EIKE BATISTA: seu sucesso já lhe cria problemas

Na sexta-feira 11, o homem mais rico do Brasil, Eike Batista, também entrou na mira da Polícia Federal. Numa operação batizada como “Toque de Midas”, policiais cumpriram busca e apreensão na residência do bilionário, no Rio de Janeiro. O foco da investigação é a concessão para a construção de uma ferrovia no Amapá. Foi lá que Eike lançou um dos empreendimentos mais bem-sucedidos do Brasil recente: a MMX. Esta mineradora de ferro foi criada para concorrer com a Vale e, logo depois de um IPO bilionário, foi vendida para a Anglo American por US$ 5 bilhões. Por ora, a polícia não pediu a prisão de Eike – o que se busca são documentos que poderiam comprovar irregularidades na concessão da estrada de ferro.

A tacada mais ousada de Eike foi a entrada no setor de petróleo. Há pouco mais de um mês, ele fez o IPO da OGX e captou R$ 6,7 bilhões. Sua entrada no setor desagrada à ala mais estatizante do PT, que gostaria de deixar o setor sob comando integral da Petrobras. Ao todo, a fortuna de Eike é estimada em US$ 20 bilhões. Sua próxima investida ocorreria no setor de portos, onde ele concorreria justamente com Daniel Dantas.

Mas o ponto mais delicado para o banqueiro será explicar a tentativa de suborno de um policial federal, com mais de R$ 1 milhão em dinheiro, feita pelo professor Hugo Chicaroni. Ele supostamente seria ligado ao Opportunity e declarou aos policiais que agiu a mando de Dantas. Para o advogado Machado, é mais uma acusação improcedente. “Desconhecemos qualquer ligação desta pessoa com o Opportunity e meu cliente é hoje um preso político”, diz ele. Em 2004, na primeira vez em que a PF tentou prender Dantas, o espião Tiago Verdial, ex-funcionário da Kroll, disse à polícia que fez grampos “a mando de DD e CC”. DD seria Daniel Dantas e CC seria Carla Cico, à época presidente da Brasil Telecom. Depois, descobriu-se que Verdial havia mantido contatos com a própria Telecom Italia, que entregou os CDs do caso Kroll à polícia. Outra acusação que vem sendo ventilada, a de que fundos do Opportunity movimentaram R$ 3 bilhões em paraísos fiscais, não preocupa os advogados. Isso porque há fundos de várias instituições – inclusive o estatal Banco do Brasil – constituídos em paraísos fiscais. Em vez de evadir recursos, eles servem, na teoria, para atrair capital estrangeiro ao País.

“NÃO POSSO FALAR, A POLÍCIA ESTÁ AQUI”

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NAHAS: polícia o acusa de ter “supercontato” no Federal Reserve

NAHAS: polícia o acusa de ter “supercontato” no Federal Reserve
Eram 9h da segunda-feira 7, quando o investidor Naji Nahas atendeu o telefone. Do outro lado da linha, a reportagem da DINHEIRO. “Não posso falar, a polícia está aqui agora.” Naquele dia, o libanês que chegou ao Brasil com US$ 50 milhões na década de 70 – fruto de uma herança familiar – foi preso pela segunda vez. Em 1989, ele foi alvo de uma intensa caçada policial, acusado de quebrar a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro e, por extensão, o mercado de São Paulo. À época, os dois principais economistas do País – Mário Henrique Simonsen e Delfim Netto – defenderam as operações feitas por Nahas, mas ele sofreu uma condenação a 24 anos de prisão. Só em 2004, ele foi inocentado de vez pela Justiça e entrou com uma ação indenizatória contra a Bovespa – a reparação pleiteada por ele, que já foi o maior acionista privado de empresas como Vale e Petrobras, pode chegar a R$ 9 bilhões.

Desta vez, Nahas foi acusado de uma façanha ainda maior. Na nota oficial da Polícia Federal sobre a Operação Satiagraha, consta que ele receberia informações privilegiadas do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, sobre a taxa de juros americana. Por meio de um “supercontato”, ele obteria ganhos vultosos no mercado financeiro internacional. É uma acusação que dificilmente ficará de pé. Os juros americanos são definidos por um amplo comitê e, imediatamente, revelados ao mercado de forma pública e transparente. Outra acusação seria a de pagar uma espécie de mesada ao ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta. E, finalmente, ele também foi preso em função de ligações da sua “quadrilha” com a “quadrilha” de Daniel Dantas. A única contradição é que, na disputa telefônica em torno da Brasil Telecom, Nahas foi contratado como consultor pela Telecom Italia, adversária de Dantas.

Durante os dias em que esteve preso, Nahas era um dos mais irritados com a situação. Filho de uma família que foi a maior produtora de algodão do Egito, ele estudou em escolas suíças e é próximo de príncipes e empresários do mundo árabe. Entre seus amigos, havia também celebridades internacionais, como o ator Omar Shariff. Durante seis meses do ano, ele reside em Paris e, no restante do tempo, fica em São Paulo. Na noite da quinta-feira 10, com um habeas-corpus concedido pelo ministro Gilmar Mendes, ele e Pitta foram soltos. Seu filho Fernando Nahas também teve a prisão pedida pela Polícia Federal, mas não foi encontrado. O único que continuava na cadeia àquela altura era Daniel Dantas, alvo central da Operação Satiagraha.
 

Por trás de todo o espetáculo das prisões, há também uma disputa empresarial complexa e que poderá ter vastas repercussões na área política e corporativa. Fontes próximas à Polícia Federal dizem ter monitorado telefonemas de várias pessoas ligadas ao Opportunity no auge das negociações entre a Brasil Telecom e a Oi. Essa é uma operação de R$ 15 bilhões, que foi financiada pelo BNDES e abençoada pelo Palácio do Planalto, mas que desagrada boa parte do PT – especialmente os fundos de pensão vinculados ao sindicato dos bancários que gostariam de comandar o setor. Dantas já foi expulso das telecomunicações pelo PT, mas o escândalo atual pode vir a ser usado para anular a operação comercial com a Oi, que foi costurada pela ministra Dilma Rousseff. Numa outra frente empresarial em que ainda atua, o setor portuário, o dono do Opportunity tem um adversário de peso. É o empresário Eike Batista, homem mais rico do Brasil, que pretende construir um porto privado em Peruíbe, no litoral de São Paulo. Para Dantas, que já foi definido por Mário Henrique Simonsen como “seu primeiro, seu segundo e seu terceiro melhor aluno”, nunca houve uma equação tão difícil de solucionar.

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“Havia forte indício de uma crise sistêmica. O BC atuou de acordo com sua função” EDEMIR PINTO

 

 

SALVATORE CACCIOLA VEM AÍ

A semana passada foi marcada pela prisão de dois financistas de peso: Daniel Dantas e Naji Nahas. Para esta, aguarda-se a chegada de Salvatore Cacciola, ex-dono do banco Marka, que será extraditado pelo principado de Mônaco. Em 1999, ano da desvalorização do real, Cacciola foi acusado de receber informações privilegiadas do Banco Central, muito embora seu banco tenha quebrado justamente por apostar contra a máxi. Depois, Cacciola recebeu uma condenação em primeira instância a 13 anos de prisão, mas, liberado por um habeas-corpus do Supremo Tribunal Federal (STF), fixou residência na Itália, onde tem cidadania. No fim do ano passado, numa viagem a um cassino, ele foi preso, e há meses o governo brasileiro vinha tentando extraditá- lo. A decisão recente foi uma vitória do ministro da Justiça, Tarso Genro, que irá apresentar Cacciola à sociedade como mais um símbolo da luta contra a impunidade. Seus defensores tentaram um habeascorpus no STF na semana passada, mas ele foi indeferido. “A prisão no Brasil será arbitrária e indigna”, diz o advogado Carlos Ely Eluf. “Ele acabará sendo exposto como se fosse um Bin Laden, um terrorista.”

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SALVATORE CACCIOLA: extradição deve ocorrer nesta semana

No caso Marka, Salvatore Cacciola não é a única pessoa condenada. Há mais 12 réus e todos respondem aos processos em liberdade. Entre eles, o expresidente do Banco Central, Francisco Lopes, a ex-diretora Tereza Grossi, que é conselheira do Itaú, e o também ex-diretor Demósthenes Madureira, diretor-executivo do Unibanco Asset Management. Os técnicos do BC alegaram à época que venderam dólares ao Marka abaixo do teto da banda cambial para evitar uma crise sistêmica no mercado financeiro e a quebra de outras instituições. Na primeira instância, no entanto, entendeu-se que a operação causou um prejuízo de R$ 1,5 bilhão ao País. À época, o principal executivo da área de risco da BM&F era Edemir Pinto, que hoje preside a Bovespa. Procurado por DINHEIRO, ele disse que o BC agiu corretamente. “Havia forte indício de que ocorreria uma crise sistêmica”, disse ele. “O BC atuou de acordo com a sua função institucional, em defesa da preservação do sistema financeiro nacional.” Sem a ação comandada por Chico Lopes, diz Pinto, poderia ter havido um “efeito dominó”.