Warren Buffett é uma unanimidade. Por qualquer métrica, o “oráculo de Omaha”, cidade do Meio-Oeste dos Estados Unidos, é um dos maiores financistas do mundo, tanto em tamanho quanto em rentabilidade. Um investidor que tivesse colocado US$ 100 no índice Standard & Poor’s de 500 ações, principal indicador do mercado americano, em 1965, teria US$ 7.533 no fim de 2012. Se tivesse investido os mesmos US$ 100 nas ações da empresa de Buffett, a Berkshire Hathaway, esse investidor teria US$ 586.917. Esse sucesso traz, também, o principal risco para os sócios da Berkshire. Sua estratégia de investimentos é conduzida por Buffett e por seu sócio Charles Munger. 

 

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O sucessor: Howard Buffett, filho do magnata,

não tem experiência em investimentos

 

Buffett deverá completar 83 anos no dia 30 de agosto deste ano, e Munger é seis anos mais velho. A questão de US$ 427 bilhões, o total de ativos da Berkshire, é: até quando ambos terão condições de comandar o barco? Na reunião de acionistas, realizada no início de maio, Buffett defendeu que, quando ele se aposentasse, Howard, seu filho mais velho, seria o presidente não executivo do Conselho da Berkshire. Essa decisão havia sido anunciada no fim de 2011. Aí reside uma das principais preocupações do mercado, manifestada, por sinal, durante a assembleia. Agricultor e filantropo, Howard, de 58 anos, não tem nenhuma experiência como investidor. Quando saiu de casa nos anos 1970, ele usou o dinheiro dado pelo pai para criar uma empresa de terraplanagem – que quebrou – e para cultivar milho nos arredores de Omaha, com um sucesso apenas razoável. 

 

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Buffett e Bill Gates (à esq.), jogando na assembleia de acionistas da Berkshire (à dir.): amigos, amigos, investimentos à parte

 

“Howard não vai tomar nenhuma decisão gerencial na Berkshire”, disse Buffett a seus investidores. “Sua única tarefa será pensar se é necessário trocar o CEO.” Qual CEO? Os acionistas têm razões para se preocupar com a resposta. Em 2012, as ações da Berkshire subiram 14,4%. Nada mau, mas abaixo dos 16% do S&P 500. Após a crise, nos últimos quatro anos, Buffett superou o S&P 500 apenas em 2011, tendo perdido em 2009, em 2010 e novamente em 2012. Para tornar o quadro ainda menos brilhante, na quinta-feira 16, a empresa de classificação de risco Standard & Poor’s – que montou o índice S&P 500 em 1957 – rebaixou o rating da Berkshire de “AA+” para “AA”. A justificativa foi o cenário incerto para as seguradoras, de onde Buffett tira a maior parte de suas receitas.

 

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O homem das ações: Todd Combs é o responsável

pelas participações minoritárias

 

O próprio magnata reconhece que o cenário está ficando mais adverso. Em sua mais recente carta aos acionistas, documento aguardado em Wall Street com a mesma sofreguidão que as declarações do presidente do Federal Reserve, Buffett reconheceu que está cada vez mais difícil ganhar dinheiro e, ao mesmo tempo, manter-se fiel à sua filosofia de investimentos das últimas quatro décadas. Uma exceção entre suas congêneres, a Berkshire faz pouquíssimas dívidas e apenas reinveste os lucros. No caso, os US$ 24,1 bilhões auferidos em 2012 deverão ser investidos em novas empresas ou em ações. Aí reside o gênio de Buffett, considerado o melhor na arte de descobrir empresas que vão subir de preço antes que os demais investidores o façam. A sucessão vem sendo tratada discretamente. Ao longo dos últimos anos, já surgiram ao menos dois sucessores. 

 

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O segurador: Ajit Jain, que administra as operações de resseguros

 

Um deles foi David Sokol, responsável por gerir algumas das maiores aquisições, como a empresa de energia MidAmerican. Sokol era apontado como o sucessor em potencial de Buffett, até ser obrigado a renunciar no início de 2011, quando uma investigação descobriu que ele havia especulado com ações da petrolífera Lubrizol antes de sua aquisição pela Berkshire. Outro candidato foi o gestor de fundos de origem chinesa Li Lu, que aconselhou Buffett a fazer um bem-sucedido investimento em uma empresa chinesa de baterias para automóveis. No entanto, após algum tempo, Li desligou-se da Berkshire, aparentemente por discordar de Buffett quanto aos investimentos em tecnologia, setor visto com reservas pelo megainvestidor – mesmo sendo amigo pessoal de Bill Gates, ele não tem uma única ação da Microsoft ou de qualquer empresa de internet.

 

Atualmente, dois executivos permanecem no páreo. Ajit Jain, responsável pelas operações de resseguros da Berkshire e considerado um dos mais capacitados pelo próprio Buffett, e Todd Combs, que, ao lado de Ted Weschler, administra os investimentos nas empresas que a Berkshire não controla, como Coca-Cola, Gillette e, mais recentemente, Heinz, adquirida em parceria com a 3G, do brasileiro Jorge Paulo Lemann. O mais provável, segundo Buffett, é que a tarefa seja dividida entre vários executivos, cada um responsável por uma das atividades. No entanto, quem quer que seja o escolhido, o fato é que, sem Buffett, a Berkshire perderá boa parte de sua mística.

 

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