Quem arriscar um palpite sobre o país que pode levar a taça da Copa do Mundo no Brasil certamente vai apostar em seleções que fizeram história em mundiais. Brasil e Argentina são as favoritas na América Latina. Alemanha e Espanha, na Europa. Fora dos gramados, no entanto, a “Copa da Economia” está, quem diria, nas mãos dos africanos. Um levantamento feito pela DINHEIRO, com base em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre os países da tabela da Fifa, mostra que as economias da África foram as que mais cresceram nos últimos quatro anos, incluindo a projeção para este ano do FMI.

Gana, Costa do Marfim, Nigéria, Camarões e Argélia tiveram os melhores desempenhos dentro dos seus grupos do torneio capitaneado pelo economista suíço Joseph Blatter. O avanço econômico – embora esses países ainda apresentem uma profunda desigualdade social – mereceu elogios da diretora-geral do Fundo, Christine Lagarde. A executiva francesa classificou essa performance como “extraordinária”, durante a abertura da conferência “África em Ascensão”, promovida no fim de maio pelo órgão, em parceria com o governo de Moçambique. Dois fatores, em geral, explicam esse crescimento.

O primeiro deles é a expansão do setor extrativista, que se beneficiou do aumento de preços do petróleo e de matérias-primas como cobre, diamante, ouro, platina e ferro. “Os países africanos produtores de petróleo puxaram a média geral de crescimento para cima”, afirma o professor angolano Januel Gonçalves, especialista em economia africana, da Universidade Federal Fluminense. Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre as economias africanas aponta a alta dos preços das matérias-primas como fator determinante. “Os países podem aproveitar seus recursos e a alta internacional dos preços das commodities”, afirma o documento, que estima que 30% das reservas minerais mundiais estão localizadas no continente africano.

Segundo a ONU, para continuar avançando, essas nações devem adotar também políticas de industrialização. Outro motor econômico é o investimento em infraestrutura, financiado pelos governos locais e por empréstimos internacionais. Seguindo a tabela da Fifa, quem leva o caneco do crescimento econômico é Gana, com uma expansão média do PIB de 8,2%, entre 2011 e 2014. “De todas as economias africanas, é a mais articulada”, diz Gonçalves. Para ele, o grande acerto de Gana, além de apostar na infraestrutura, foi diversificar suas fontes de receita, incentivando as pequenas e médias indústrias e o setor de serviços, ainda nos anos 1990.

“As outras economias ficam apenas esperando que os preços das matérias-primas não caiam”, afirma. De acordo com o African Economic Outlook, que fornece informações sobre a África e é gerido pelo Banco de Desenvolvimento da África, pela OCDE e pelo braço da ONU para a África, o PIB de Gana é composto essencialmente de agricultura, petróleo, construção, setor de serviços e transportes. Vice-campeã, a Nigéria ficou com a medalha de prata, com um crescimento médio do PIB em 6,8%.

Apesar de ser a maior economia do continente em termos de volume de PIB – ultrapassou recentemente a África do Sul – e de ter a exportação de petróleo para EUA e Inglaterra como carro-chefe, o país sofre com o desemprego, o alto nível de corrupção e a desigualdade social. O terceiro lugar, premiado com medalha de bronze, foi conquistado pela Costa do Marfim, que ascendeu nos últimos anos devido à reconstrução pós-guerra civil, que durou de 2010 a 2011, e da retomada da exploração de petróleo, ouro e gás.

“A construção civil está puxando a economia do país”, diz Gonçalves. Os marfinenses exportam, ainda, café e cacau. Na “Copa da Economia”, merece destaque a Colôm­bia, que lidera o ranking de países dos demais continentes, com um crescimento médio de 4,8%. Os colombianos tornaram-se, nos últimos anos, os queridinhos do mercado, por celebrarem acordos de livre-comércio com União Europeia, México, Honduras, Guatemala e El Salvador. Já Portugal apresentou o pior desempenho entre os 32 países que participam da Copa. Submergido pela crise, teve uma queda anual de 4,6%, no período 2011-2014.

Por sua vez, o Brasil, anfitrião da Copa do Mundo de Futebol e um dos favoritos dentro de campo, não passou nem da primeira fase, com uma expansão média do PIB de apenas 1,9%. No entanto, a despeito dos avanços recentes, os países africanos não podem, nem de longe, pensar em calçar o salto alto e acreditar que seus problemas estão resolvidos. Em sua totalidade, eles esbarram em problemas históricos como a desigualdade social, a pobreza extrema e o sistema educacional ruim. “Ainda há um longo caminho pela frente para concretizar as aspirações do continente: a extrema pobreza ainda está muito presente e há novos desafios impostos pela economia global”, afirmou Christine Lagarde, do FMI, a Joseph Blatter.

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