26/11/2014 - 10:30
No mundo corporativo, existe uma máxima que prega que o “segredo é a alma do negócio”. Faz sentido. Afinal, os planos para lançamento de produtos e as estratégias empresariais formam a parte mais sensível de um negócio e podem representar sua perenidade ou seu fim, de modo prematuro. Mas, quando o assunto é sustentabilidade, a regra que vigora é inversa. Quanto mais transparência, melhor. Pelo menos é nisso que aposta o executivo Antonio Joaquim de Oliveira, presidente da Duratex, fabricante de painéis de madeira e de louças e metais sanitários da marca Deca, cuja receita anual atingiu R$ 3,8 bilhões em 2013, e que emprega 11 mil pessoas.
Sob o comando de Oliveira, a empresa está lançando uma ambiciosa plataforma que reúne as principais ações envolvendo os funcionários, os acionistas, os fornecedores e a comunidade. “Queremos mostrar à sociedade o que temos feito e como temos feito”, afirma. Nesse caso, o verbo mostrar é mais do que um mero formalismo ou uma figura de linguagem. Prova disso é que a política socioambiental da Duratex, campeã setorial por oito anos consecutivos do prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO, foi colocada integralmente no site e nas mídias sociais.
Lá é possível encontrar até mesmo o quanto a divisão Deca está ganhando, e também deixando de gastar, com o aproveitamento de sobras do óxido de zinco, usado na produção de torneiras e outros metais sanitários. Apenas com esse processo a economia foi de R$ 66 mil no ano passado. “Esse tipo de política ajuda a agregar valor à marca aos olhos do consumidor, pois indica que, mais que uma ação de marketing, a sustentabilidade faz parte da estratégia do negócio”, diz o consultor Marcus Nakagawa, presidente da iSetor Gestão Integrada. Tanto isso é verdade que parte da remuneração variável, por meio de bônus de desempenho para o presidente e os diretores da Duratex, está atrelada à performance socioambiental.
A plataforma de sustentabilidade da empresa começou a ser estruturada em 2012 e contou com a participação de consultores, acadêmicos e especialistas do setor, além de funcionários de todos os escalões da fabricante de metais e de painéis de madeira. Em julho deste ano ela foi divulgada. Um dos resultados dessa empreitada foi o levantamento de todos os possíveis riscos sociais, ambientais e econômicos capazes de colocar em xeque o futuro da empresa sexagenária, fundada em 1951. Daí nasceu uma matriz de risco, cujo monitoramento é feito diariamente por uma equipe composta por 46 funcionários, espalhados pelas 15 unidades da Duratex e da Deca, incluindo a área corporativa.
Tamanho envolvimento tem um custo e, de acordo com o presidente da Duratex, o valor não tem sido pequeno. Neste ano, a empresa deverá desembolsar R$ 45 milhões em recursos próprios para bancar suas ações socioambientais. “Trata-se de um montante equivalente a cerca de 10% de nosso lucro líquido”, afirma Oliveira. “Como estamos falando da perenidade da empresa, considero o valor razoável.” Mas a Duratex também espera transformar desafios em oportunidades. A começar pela questão da escassez da água em São Paulo. Para isso, fortaleceu a divisão de consultoria destinada a orientar grandes clientes como condomínios residenciais, shopping centers e indústrias, além de órgãos públicos.
“Em algumas cidades constatamos um nível de desperdício em torno de 70%”, diz João Carlos Redondo, gerente de sustentabilidade da Duratex. Um dos trabalhos nessa área foi realizado na cidade de Atibaia, instância turística do interior de São Paulo. Ali, a Deca venceu a concorrência para substituir torneiras e outros acionadores hidráulicos dos prédios públicos por modelos mais econômicos. A próxima etapa nessa área é desenvolver linhas de financiamento que possibilitem a adesão de mais consumidores a esses produtos. “Vemos esse tipo de atividade como um investimento”, afirma o presidente Oliveira. “Nosso objetivo é ter lucro e gerar retorno em todos os nossos investimentos.”