29/10/2010 - 21:00
A indústria indiana passou muitos anos ignorada pelas concorrentes. Era vista com certo desprezo e ninguém a enxergava como uma forte competidora. Aos poucos os empresários do país foram obrigando o mundo a olhá-los de outra forma. Primeiro, a Índia se consolidou na indústria de software, com produtos mais baratos e mão de obra qualificada.
Depois, ficaram famosos pela indústria automotiva com o Tata Nano – uma espécie de revolução no setor, por causa do seu baixo preço. Agora, esse modelo tem sido transportado para outros segmentos como a indústria farmacêutica. E a empresa que tem usado com maestria o modo Tata de fazer negócios é Torrent.
Famá Junior, presidente da Torrent do Brasil
O laboratório especializado em medicamentos genéricos está em plena expansão. Desde que desembarcou no Brasil, em 2002, a empresa cresce em média 20% ao ano. A expectativa é fechar 2010 com receita de US$ 106,6 milhões, ante os US$ 89 milhões obtidos em 2009. Em nível global são US$ 650 milhões. Para se manter nessa trilha serão adicionadas 40 novas drogas ao seu portfólio, composto de 27 medicamentos.
O investimento estimado no período 2011-2015 será de US$ 20 milhões e envolve os testes clínicos em parceria com universidades brasileiras. A cifra modesta, para os padrões do setor se deve à principal característica desse nicho. Em geral, os laboratórios de grande porte desembolsam bilhões de dólares para descobrir novas moléculas.
Até colocar o remédio nas prateleiras das farmácias gasta-se cerca de dez anos. A Torrent, por sua vez, monitora as drogas cujo preço de venda é elevado e se prepara para lançar genéricos assim que a patente expira. Sempre com um preço muito inferior ao remédio de marca. Um bom exemplo é o Epéz. Usado no tratamento do Mal de Alzheimer, ele está sendo comercializado por R$ 130. Valor cerca de 70% menor que o cobrado pelo Eranz, da Wyeth Farma.
Pesquisa intensiva: com uma equipe de 600 cientistas, a Torrent desenvolve drogas para o mercado global
Mas como a Torrent consegue operar com um valor tão baixo? “A pergunta que deve ser feita é por que os concorrentes cobram tão caro”, diz à DINHEIRO Orlando Famá Junior, 65 anos, presidente da Torrent do Brasil. O Epéz chega para disputar um segmento estimado em R$ 150 milhões. “Nossa ambição é dominar 20% desse nicho”, completa Famá Junior.
Ele conta que a política comercial da Torrent é definida a partir de uma equação simples: ao custo de aquisição (despesas de transporte e impostos) é acrescida uma margem de lucro em torno de 10%, semelhante à utilizada pela concorrência. Graças à centralização de seu parque fabril, composto de duas fábricas e um centro de pesquisa onde trabalham 600 cientistas, ela consegue uma economia de até 90% em relação às concorrentes.
Isso chamou a atenção da dinamarquesa Novo Nordisk que contratou a Torrent para fabricar insulina com a sua marca. “A estrutura de custo e a velocidade na colocação de produtos no mercado é que definem o sucesso de um fabricante de genéricos”, diz Marcello Albuquerque, diretor de negócios da consultoria IMS, especializada em medicamentos. Criada em 1959, por Shri Metha, ex-executivo da filial indiana da Sandoz, a Torrent nasceu com o objetivo de popularizar o acesso da população aos medicamentos.
No Brasil desde 2002, ela adotou um modelo singular. Para romper a barreira do desconhecimento junto à classe médica, os indianos apostaram em uma equipe madura. A idade média dos 300 funcionários, incluindo os propagandistas, é de 40 anos. Famá Junior é um dos mais experientes.
Nos últimos 43 anos ele já passou por companhias como Eurofarma, Johnson&Johnson e Bristol. A receita, até agora, vem gerando bons resultados: “Estamos assumindo o posto de a maior operação da empresa fora da Índia, desbancando outras 69 filiais”, festeja Famá Junior.