19/09/2007 - 7:00
Durante décadas, os marqueteiros da indústria automobilística usaram o número de cavalos de potência do motor, a velocidade máxima do carro e uma infinidade de dados que só os engenheiros entendem como armas de sedução para conquistar o consumidor no momento da compra de um automóvel. Mas, ultimamente, eles começaram a mudar a estratégia de persuasão. No lugar das informações sobre os equipamentos mecânicos, começam a despontar termos tecnológicos. São eles: gigabyte, USB, memória RAM, decibéis, software…
De carona no crescimento do mercado e na evolução dos veículos, as empresas de tecnologia passaram a trabalhar no chão de fábrica das montadoras com a missão de transportar as soluções digitais usadas no cotidiano para dentro dos carros. A Microsoft, por exemplo, desenvolveu um sistema interativo para a Fiat, a Apple acelerou fundo ao lado da Jaguar e a dinamarquesa Bang & Olufsen, especializada no segmento de áudio e vídeo para uso doméstico, se associou com a Audi. ?O mercado automobilístico é um ótimo canal para levarmos nossa tecnologia para o consumidor?, analisa Celso Winik, gerente-geral da divisão de mobilidade da Microsoft no Brasil.
A empresa americana desenvolveu o Blue&Me, solução baseada na plataforma Windows Mobile, especialmente para o Fiat Punto, o mais recente lançamento da Fiat. A tecnologia permite que o usuário controle o telefone celular e o aparelho de MP3 por meio do comando de voz. Para isso, as traquitanas devem ser conectadas a uma entrada USB dentro do porta-luvas do carro ou possuir a tecnologia bluetooth, que faz os equipamentos interagirem sem necessidade de fios. Mais: o sistema também possibilita que os dados do aparelho, como os números da agenda telefônica e as músicas do MP3, sejam armazenados em um hardware com 64 megas de memória instalado no painel. Esse equipamento é fruto de oito anos de pesquisa da empresa de Bill Gates. ?Com esse sistema, largamos na frente?, diz Carlos Henrique Ferreira, assessor técnico da Fiat. ?Somos os únicos a possuir esse sistema.? Estima-se que o Punto, modelo cujos preços variam de R$ 37,9 mil a R$ 51,9 mil, venda em torno de duas a três mil unidades por mês. Se a concorrência sentir que está perdendo mercado, logo trará novidades. Isso, pelo menos, acontece no setor de tecnologia, no qual as rivais respondem a cada passo dos oponentes rapidamente. A Apple que o diga.
Para o lançamento do novo Jaguar XF, a empresa de Steve Jobs, um ícone em design, trabalhou ao lado dos engenheiros da Jaguar e desenvolveu o câmbio do novo carro. É uma espécie de botão giratório de comando muito parecido com o do iPod. Outra novidade que em breve deve chegar ao mercado é um GPS Apple desenvolvido exclusivamente para equipar os carros da Mercedes-Benz. No Brasil, a dobradinha da Apple foi com a Citroën. A empresa francesa lançou no mercado nacional o modelo C3 Musique, um sistema de som integrado que traz o iPod Nano Black acoplado ao veículo. ?É um produto que tem tudo a ver com o perfil jovem do nosso público?, afirma Alexander Greif, gerente de produtos e mercado da Citroën do Brasil.
Além de fazer barulho, essas ações de aliar o nome da montadora a outra marca consagrada trazem prestígio. ?Dessa forma, as empresas somam o valor de suas marcas e oferecem um produto diferente para o consumidor?, diz Guilherme Beluzzo, sócio da Top Brands Gestão de Marcas. São junções que, na maioria dos casos, resultam em produtos exclusivos. Foi o que aconteceu quando a montadora alemã Audi se uniu à dinamarquesa de áudio e vídeo Bang & Olufsen para criar o sistema de som do carro S8. O carro possui 14 alto-falantes preparados para equilibrar as baixas freqüências e os sons graves, agudos e médios. Seus 1.100 watts de potência proporcionam uma sensação única. ?É como escutar música na sala-deestar?, analisa Hélio Bork, representante da Bang & Olufsen no Brasil. ?Muitos clientes procuram o carro só pelo sistema de som?, reforça Felipe Gomes, gerente de marketing da Audi no Brasil. Neste caso, são os watts substituindo os cavalos de potência.