Uma cena curiosa se repetiu no mundo dos videogames na semana passada. Mais precisamente na Eletronic Entertainment Expo (E3), a maior feira do setor, realizada em Los Angeles: na hora de apresentar seus novos e tão esperados consoles, executivos de Sony, Microsoft e Nintendo elevaram os aparelhos acima da cabeça como se fossem troféus. Eles estavam eufóricos, tal qual esportistas vencedores de uma final de campeonato. E não era para menos. O que vem por aí ? além do acirramento da guerra entre rivais poderosos que se engalfinham por um mercado de US$ 25 bilhões ao ano ? é uma revolução na indústria do entretenimento. Uma revolução com três nomes: Playstation 3 (Sony), Xbox 360 (Microsoft) e Revolution (Nintendo), os videogames de terceira geração. Frutos de investimentos bilionários e dotados da mais fina tecnologia, eles extrapolam o ato de apertar botões para controlar desenhos animados na TV. Os equipamentos mostrados na E3 são poderosas centrais multimídia que também armazenam e rodam filmes, fotos, músicas, permitem videoconferências, compras on-line, envio de mensagens (acompanhe o que os modelos fazem nos quadros ao longo desta reportagem). Ou seja: encher o adversário de bordoadas virtuais ou pilotar um Fórmula-1 digital, mesmo que agora seja com qualidade gráfica de cinema, passou a ser apenas parte da diversão. ?Em dez anos, os videogames tomarão o lugar dos PCs dentro de casa?, acredita Reinaldo Normand, analista do setor de games. ?Hoje, os microcomputadores domésticos já são usados basicamente para entretenimento. A substituição é o caminho natural.? Mais do que isso: os novos consoles chegam com a missão de trazer à brincadeira um público diferente do atual, formado por meninos fanáticos. O novo alvo são as famílias e, acima de tudo, as garotas.

Não foi por acaso que as três gigantes mostraram praticamente juntas seus novos consoles. O mercado global de games é uma mina de ouro que já superou, por exemplo, a venda de ingressos de cinema (elas somaram US$ 22 bilhões em 2004). E a história mostra que tem menos força para brigar por essa bolada quem chega por último às prateleiras. Foi assim quando a Sega tomou a liderança da Atari e logo depois a perdeu para a Nintendo, que por sua vez foi superada pela Sony. A cada geração de equipamentos surge um novo líder. Daí o esforço da Microsoft para ganhar às lojas antes das rivais. O Xbox 360 será lançado oficialmente em novembro. O Playstation 3 e o Nintendo Revolution, no primeiro semestre de 2006. Os preços devem girar em torno de US$ 300. ?Lançar antes é muito importante. Ficar sem concorrência por um período ajuda a aumentar a base instalada de consoles?, explica Milton Beck, diretor da divisão de jogos e entretenimento da Microsoft do Brasil. Não que os aparelhos sejam uma mina de ouro. Pelo contrário: eles têm preços subsidiados. O que dá dinheiro mesmo são os CDs de jogos, vendidos aos milhões em todo o mundo. Desenvolvidos (na maioria das vezes) por terceiros, ao custo médio de US$ 10 milhões, eles rendem royalties de 7% aos fabricantes dos consoles. É um negócio da China: se o título for um fracasso de vendas, o prejuízo fica só com o desenvolvedor.

A Microsoft, que hoje ocupa uma distante segunda posição no ranking do setor, parece bastante empenhada em derrubar a Sony do topo. Não vai ser fácil. A divisão de games representa 10% das receitas de US$ 67 bilhões e 40% do lucro da companhia japonesa. ?Inicialmente, apenas entramos no jogo. Agora, com o Xbox 360, conseguimos fazer com que as pessoas olhem para a duas (Microsoft e Sony) em pé de igualdade?, declarou Bill Gates. Diz-se que, entre marketing e desenvolvimento, o homem mais rico do mundo investiu US$ 2 bilhões no seu novo brinquedinho. Ele está particularmente de olho no Japão, onde perde feio para a Sony. Na geração atual de consoles, a proporção lá é de 1 Xbox para 300 Playstation 2. A fim de diminuir essa diferença, a Microsoft encomendou o design do Xbox 360 a artistas japoneses e contratou craques locais para desenvolver jogos exclusivos ? entre eles Hironobu Sakaguchi e Yoshiki Okamoto, autores dos clássicos ?Final Fantasy? e ?Street Fighter?.

Coadjuvante. O Brasil tem ainda um papel menor no setor. Nenhum dos três grandes fabricantes mantém operação de jogos no mercado local. Tudo o que é vendido aqui chega via importação independente ou contrabando. A Microsoft estuda há três anos uma maneira de estabelecer uma divisão de games no País. A Sony não quer nem ouvir falar nisso. ?Nesse momento, estamos concentrando todo nosso esforço no México?, disse, de Miami, Luis Guardia, porta-voz da Sony Latin America. São dois os motivos para as empresas evitarem o Brasil: uma carga tributária que multiplica por quatro os preços dos produtos e a pirataria, que corrói 80% do mercado. ?Mesmo assim, os games movimentaram R$ 100 milhões em 2004. O potencial é cinco vezes maior?, afirma Marcelo Carvalho, presidente da Associação Brasileira de Desenvolvedores de Games. O próprio Carvalho é uma exceção. Aos 27 anos, ele é dono da Devworks, uma empresa que desenvolve jogos para celulares, PCs e campanhas de marketing de grandes multinacionais. Na sua lista de clientes estão Coca-Cola, Nestlé, Philips e outras. ?Nosso faturamento foi de R$ 1,2 milhão no ano passado e deve subir para R$ 2 milhões em 2005?, comemora ele. Não é brinquedo, não.

Nem os Beatles resistiram

US$ 120 milhões
Foi o faturamento do jogo Halo 2 (Microsoft)
no dia do seu lançamento, em 2004 ?
ou seja: 2,4 milhões de cópias vendidas
em apenas 24 horas nos EUA.

Os novos consoles

Xbox 360
fabricante
: Microsoft
Lançamento: novembro de 2005
características: Além de rodar jogos com qualidade
de filme, dá para assistir a DVDs, ouvir e armazenar músicas, participar de vídeo-conferências (para
desafiar um amigo para uma partidinha on-line, por exemplo), ver fotos, gravar e enviar mensagens de voz, conectar câmeras digitais e filmadoras, brincar de karaokê, colocar o rosto do usuário dentro do jogo, ?baixar? armas e acessórios virtuais e controlar todo o conteúdo de entretenimento guardado no seu PC.

 
Revolution

fabricante: Nintendo
Lançamento: 2006
características: Depois do design infantil do Game Cube, enfim um console para gente grande. Sóbrio e elegante, será do tamanho de três caixinhas de DVDs empilhadas. Rodará DVDs, terá entrada para cartões de memória e um serviço online gratuito para baixar
acessórios virtuais e turbinar os jogos.


Playstation 3

fabricante: Sony
Lançamento: 2006
características: Poderá ser ligado a duas TVs
ao mesmo tempo e terá conexões para sete
controles sem fio. Virá com a nova tecnologia
de leitores de DVD, a Blue Ray, que dará às
imagens qualidade de cinema.

 US$ 60 milhões
Somaram as vendas
mundiais do CD ?Beatles No 1? (2000),
o disco mais vendido da história na semana
de seu lançamento.