01/04/2022 - 8:00
Apesar da história se repetir com alguma frequência, é impossível não observar na repetição dos fatos ingredientes únicos que tornam aquela situação especial. Em 2018, na última eleição presidencial, a vida do brasileiro estava mais fácil que hoje. Havia uma expectativa crescente da economia e a inversão de indicadores como juros e inflação após três anos de aperto. Em 2022, o cenário será diferente. O Brasil saiu mais frágil da pandemia. Lida com incertezas trazidas do exterior e teme que a inflação e desemprego resistam mais que resiliência da economia. E é sobre esse assunto que o brasileiro quer tratar.
Muito se discute dentro do ambiente político a falta de capacidade de mobilização de partidos e personalidades que fogem da dicotomia Lula versus Bolsonaro. Quase todos creditam o insucesso aos interesses partidários e ao ego do candidato, mas eu discordo. Ainda que reunidos em um único nome, a falta de conexão com a população passa diretamente pela falta de entendimento sobre qual é o tema dessa eleição. O tema é economia.
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Não há como levar a disputa apenas com o discurso de anticorrupção (isso é muito 2018 e o Lula nem preso mais está). Também não dá para vestir uma fantasia de moderado e fazer discursos sobre ser a única terceira via razoável.
As pessoas esperam um candidato que publique nas redes sociais que está vendo o preço do alimento disparar e mostre indignação (ainda que não tenha soluções para apresentar). Quer alguém que use todo tempo e espaço de entrevista mostrando aversão ao valor do combustível, com a dolarização da economia brasileira e se mostre preocupado com a falta de competitividade das empresas daqui. Alguém que aproveite qualquer oportunidade para falar sobre como a massa de salários em circulação no Brasil encolheu R$ 550 milhões em um ano, e como o IBGE tem escancarado que a vida está pior.
E sabe quem tem feito isso? Lula. E quem tem rebatido? Bolsonaro. E os dois dominam as pesquisas eleitorais. O pessoal da terceira via? Se perdendo, ou saindo de cena.