JÁ PASSAVA DAS OITO HORAS da noite da quinta-feira 10 quando o principal prêmio da noite foi anunciado. No auditório lotado do Museu de Arte da Catalunha, em Barcelona, o comando da quarta maior cadeia varejista do mundo, a Tesco, foi chamado ao palco pelo apresentador do evento: a Tesco recebeu o ?Retailer of the Year?, considerada a maior condecoração do setor, depois de superar outras cinco finalistas (a Casas Bahia estava entre eles). O CEO do grupo, Terry Leahy, apareceu em um vídeo de agradecimento e disse que a expansão não iria parar por ali. Quatro dias depois, Leahy deu mais detalhes a respeito dos planos de crescimento da rede britânica, dona de um faturamento de R$ 153 bilhões ao ano e lucro de mais de R$ 9 bilhões. A Tesco quer um pedaço (gordo) do mercado norte-americano, onde acaba de entrar. Planeja ainda abrir dez lojas por ano na China e deseja colocar um pé na Índia. Na última conferência com analistas no dia 15 de abril, Leahy deixou muito clara essa intenção e, de quebra, seus planos para o Brasil. ?Agora, o País não nos interessa?, disse, em tom seco. A empresa não pretende mais investir no País neste momento. O fato é que o momento para isso passou. Há cinco anos, a cadeia britânica começou a sondar o mercado brasileiro. Na época, havia interesse em comprar as 118 lojas da cadeia Bompreço. Mas a varejista nordestina acabou adquirida em 2003 pelo seu maior rival, o Wal Mart, por US$ 300 milhões. Poucos anos depois, o foco mudou. A Tesco entrou na briga pelo Atacadão em 2005. Também não levou. Nos dois casos, saiu vencido pelo mesmo motivo: o preço subiu demais. Para eles, a relação custo-benefício se tornou desfavorável. Pelo Atacadão, o Carrefour (outro forte rival da Tesco no mundo) desembolsou R$ 2,2 bilhões. Detalhe: os franceses topavam cobrir qualquer oferta, o que fez os concorrentes desistirem. A partir daí, os ativos à venda foram ficando cada vez mais caros porque se tornaram raros. ?A competição acirrou-se muito no Brasil e, mesmo que a Tesco adquira uma rede brasileira, ela alcançará um faturamento irrisório perto dos líderes?, diz Alberto Serrentino, sócio da Gouvêa de Souza.

Naquela época em que disputou o Bompreço, a companhia intensificou as suas atividades fora do Reino Unido. Era o momento em que o caixa estava aberto. Depois, ela já foi à China em 2006 e aos EUA no ano seguinte. Até então, a receita no Exterior crescia entre 20% e 25% ao ano. Desde 2005, o montante disparou. Passou de 6,8 bilhões de libras para 13,7 bilhões no ano passado. A Tesco tem uma qualidade rara no varejo mundial: ela é um grupo colossal que opera localmente. Em cada unidade, ela vende o que o público daquela região quer. Além disso, tem preços altamente competitivos em produtos básicos, mas vende também, por valores mais salgados, mercadorias premium para os ricos europeus. Cada loja oferece pelo menos três opções de marca própria da rede, com três diferentes preços. Mas, pelo menos por enquanto, esse modelo ficará distante do mercado brasileiro.