19/11/2015 - 16:49
Dez anos depois de assumir o cargo, a chanceler alemã, Angela Merkel, continua sendo a inevitável porta-voz de uma Europa confrontada com sucessivas crises, apesar da popularidade em baixa em casa – afirmam analistas.
Em nome de valores “morais” da União Europeia (UE), Merkel decidiu acolher, “generosamente”, refugiados na Alemanha. Ela já havia ajudado a manter a coesão na zona do euro no auge da crise grega, além de organizar uma resposta europeia ao conflito ucraniano.
A supremacia econômica da Alemanha e a relativa fraqueza de seus colegas europeus fazem dela a “czarina da Europa” – apesar de os países do leste considerarem-na responsável pelo fluxo de imigrantes e de sua popularidade titubear em seu país no momento em que a UE precisa de liderança.
“Como a UE se mostrou incapaz de antecipar as crises, passou a ser de competência da Merkel evitar a implosão do bloco”, analisa a especialista Judy Dempsey, do “think tank” Carnegie Europe, autora de um artigo sobre a chanceler.
“É um trabalho pouco invejado, cheio de riscos”, escreveu.
Como prova de sua influência, Angela Merkel desbancou o presidente americano, Barack Obama, do segundo lugar na edição de 2015 do ranking sobre as personalidades mais influentes do mundo, elaborado pela revista “Forbes”. A lista é liderada pelo presidente russo, Vladimir Putin.
A revista britânica “The Economist” chama Merkel de “europeia indispensável”.
“Nesses últimos anos, ela teve um papel determinante na resolução de crises e de situações difíceis”, explicou Janis Emmanouilidis, do European Political Center (EPC).
Natural da ex-República Democrática Alemã (RDA), no lado comunista, Angela Merkel assumiu as rédeas do país em 2005, à frente do governo conservador da CDU, a União Democrata-Cristã.
Progressivamente, ela restabeleceu os laços com Washington, que haviam sido afetados pela oposição da Alemanha, junto com a França, à invasão americana do Iraque em 2003.
Doutora em Física, Merkel, que tende a usar uma abordagem científica para resolver os problemas, hesitou, porém, quando explodiu a crise das dívidas soberanas na zona do euro.
A linha-dura representada pela Alemanha, país que defende a austeridade até as últimas consequências, concentrou sobre ela o rancor de Atenas. A Grécia é um dos países mais devastados pela crise, onde a lembrança da ocupação nazista continua presente.
Mas foi ela que, nesse verão (hemisfério norte), definiu que a Grécia deveria permanecer no euro.
Merkel também contribuiu para evitar que a UE ficasse marginalizada na crise ucraniana, viajando junto com o presidente francês, François Hollande, para Minsk. Ambos participaram das negociações para um cessar-fogo entre Putin e os ucranianos.
Entre os líderes europeus, comenta-se que Putin teria respeito apenas por Merkel.
A crise migratória lhe deu uma nova oportunidade de afirmar sua liderança. Em vez de dar ouvidos aos que temiam que uma “invasão” de imigrantes daria ainda mais espaço aos partidos extremistas, Merkel surpreendeu, abrindo as fronteiras da Alemanha aos refugiados sírios.
Este anúncio arranhou sua posição na Europa. Os países do centro e do leste do continente acusaram-na de estimular ondas de imigrantes, que cruzam seus países para chegar até a Alemanha. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, chegou a rejeitar o “imperialismo moral” de Merkel.
Sua “generosidade” também afetou sua popularidade na Alemanha, como mostram as últimas pesquisas.
“Merkel está sob pressão na Alemanha, como nunca até agora. Se tiver de enfrentar outros problemas, isso provocará grande incerteza com efeitos negativos na Europa”, acrescentou.
Sua repentina decisão sobre os refugiados lembra uma outra reviravolta de sua política, em 2011, quando anunciou o abandono progressivo da energia nuclear, depois da catástrofe da central de Fukushima, no Japão. A iniciativa teve um enorme impacto na política energética e industrial da Alemanha.
Para Dempsey, o anúncio sobre os imigrantes foi um “extraordinário erro de avaliação”.
Embora seja mais criticada do que antes, Merkel continua sendo “a rainha da Europa”, consideram analistas.
Acima de tudo, ela está à frente da primeira economia europeia, lembra Emmanouilidis, acrescentando que “nada de importante pode ser feito na Europa sem a concordância da Alemanha – pouco importa quem esteja no poder em Berlim”.