27 mil motos

foram produzidas pela Traxx no ano passado
 
US$ 3 milhões

foi o valor investido pela chinesa em sua fábrica em Manaus
 
A briga

E-mail da Assotraxx para o presidente Zhou: queixas em relação à sua gestão no Brasil e à falta de diálogo da empresa com as revendas
 

QUANDO DESEMBARCOU NO BRASIL, há três anos, a Traxx, fabricante chinesa de motos, esperava enfrentar uma dura concorrência das empresas aqui instaladas e de suas conterrâneas recém-chegadas. O que ninguém previa era que a briga ocorresse dentro de sua própria casa. Os revendedores brasileiros da marca estão em pé de guerra e prometem pedir a cabeça do presidente da companhia, Zhou Yu, caso ele não mude sua postura e sua gestão. Para a Associação Brasileira de Revendedores Traxx (Assotraxx), Yu é despreparado para o cargo e inacessível. A entidade acredita que o executivo prejudica a imagem da marca, além dos negócios de seus associados, que têm perdido muito dinheiro por causa dele.

 

No fundo, os revendedores querem ser recebidos por Yu para discutir sua situação. Eles acreditam que há graves erros na condução do marketing da empresa e que falhas de gestão têm contribuído para a escassez de peças de reposição na rede. Em fevereiro, a Assotraxx pediu mais uma vez uma reunião com Yu. De acordo com o presidente da entidade, Alexandre Delamuta, até agora não houve resposta. O chinês garante que estava na China e só voltou recentemente. Desde então, não teve oportunidade para marcar o encontro. Para a Assotraxx, porém, a paciência se esgotou. Caso Yu ignore o ultimato, a entidade planeja enviar uma carta à matriz chinesa oficializando as reclamações.

A DINHEIRO teve acesso ao esboço dessa carta, na qual são listados dez pontos de atrito entre os revendedores e o presidente da Traxx. Delamuta aposta que, ciente dos problemas no Brasil, a matriz deverá agir em benefício das revendedoras. “Duvido que [a matriz] esteja disposta a simplesmente abandonar a operação no Brasil. E, se mantiverem o atual presidente no cargo, vão acabar sem revendedores. Nenhuma empresa sobrevive sem revenda”, ameaça Delamuta. “O ideal seria termos um presidente brasileiro, que tenha experiência no mercado”, afirma.

Vários pontos da carta referem-se à área de marketing da Traxx. As revendedoras questionam a contratação de Ivete Sangalo como garota-propaganda. Para eles, isso esgotou a verba de promoção da empresa, sem que nenhum anúncio tenha sido veiculado. Na versão da fabricante, a imagem da cantora continua sendo explorada. Mas, por conta da crise, o número de ações e sua abrangência diminuíram. Outra reclamação diz respeito à “falta crônica” de peças de reposição na rede, que seria fruto da falta de planejamento de Yu. “Muitos revendedores têm sido obrigados a canibalizar motos em estoque para atender clientes”, diz Delamuta.

A carta ainda questiona o fato de Yu continuar importando motos por Fortaleza, onde está a sede da empresa, e não pela fábrica de Manaus, onde teria incentivos fiscais. “A Suframa nos impunha um limite de atividade. Neste ano, faremos tudo a partir de Manaus. Claro que gostaria que tudo já viesse por lá, mas até agora isso não era possível”, diz Yu.

As acusações mais pesadas da carta da Assotraxx referem-se à conduta ética e ao comprometimento do chinês. Segundo a entidade, o fato de ele ter montado no Brasil uma empresa que vende peças de motos, inclusive Traxx, representa um grave conflito de interesses. No caso do fechamento do escritório de São Paulo e da transferência para Fortaleza, o que se questiona é se a medida não foi tomada em benefício do próprio Yu e não da empresa. “O centro de negócios do País é São Paulo. Por que ficar em Fortaleza, cheia de praias de lazer?”, diz a carta. “Tentamos manter a área de marketing em São Paulo, mas é mais barato e eficiente ter essa equipe e a área comercial juntas em Fortaleza, que sempre foi nossa sede”, diz Yu.

Quando chegou ao Brasil, Yu trazia no bolso US$ 3 milhões, dinheiro que foi investido na fábrica em Manaus. Sua intenção era dominar 5% do mercado nacional até 2009. Com uma produção de apenas 27 mil motos em 2008, porém, a Traxx nem é citada no levantamento de mercado da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo). Para Yu, alcançar sua meta está cada vez mais difícil. Ainda mais agora, sendo alvo da ira de seus próprios revendedores.