24/08/2005 - 7:00
A gastronomia japonesa invadiu o ocidente. Em Nova York, Paris, Londres, São Paulo e Rio de Janeiro, os restaurantes orientais estão sempre entre os melhores no ranking de estrelas dos guias de turismo. Sushi e sashimi tornaram-se iguarias universais. O mesmo não se pode dizer do saquê, a bebida tradicional do Japão, fermentada a partir do arroz. Ela ainda não alcançou o sucesso dos pratos. Prepare-se, porque a mesa começa a virar. A Japan Airlines, a JAL, em parceria com o governo do país, lançou um vasto programa de promoção do saquê. São pacotes de visita às quatro principais regiões produtoras, algumas delas com edifícios e processo industrial erguidos ao redor de 1600, nos tempos dos samurais (veja quadro no link). A idéia da companhia aérea e das entidades de turismo é promover, no Japão, a trilha do saquê tal qual fazem os americanos da Califórnia com os vinho do Vale do Napa. Trata-se de redescobrir uma arte milenar.
?Há um crescente interesse pelo saquê, mas existe ainda imenso espaço de crescimento?, diz Irene Muraki Ryoji, sansei paulistana, dona do restaurante Kodomô, na região nobre dos Jardins, em São Paulo. O que se pretende, na iniciativa de marketing, é mostrar que as variedades são muitas, como ocorre no mundo dos tintos e brancos. Vão de doses nacionais vendidas por R$ 8,90 a delícias como o Golden, mesclado com película de ouro, de tipo seco, importado do Japão, cujas unidades no quadrado de madeira ou em taça chegam a custar R$ 20. O ?Premium ginjo? e o ?Premium daiginjo?, servidos a 7 graus centígrados, podem custar mais que isso ? são cobiçados porque em sua produção o arroz é polido à exaustão, retirando gorduras, vitaminas e proteínas que afetam o sabor do líquido final, fruto da mistura com a água e da necessária fermentação.
Para diferenciar o joio do trigo, os executivos da JAL desenvolveram passeios que permitem ao turista entender, ao cabo das excursões, o que é, afinal de contas, o saquê. Talvez seja mais fácil explicar o que ele não é. Não é, definitivamente, um destilado como a vodca e o gin. Como a cerveja, nasce de um grão e não de uma fruta açucarada. Tanto no saquê como na cerveja, a fermentação brota da transformação do amido em açúcar ? o que não ocorre com o vinho. No entanto, seu leque de sabores está muito mais próximo da bebida de Baco. A gradação alcoólica vai de 14º a 16º, diante de 4º a 6º da cerveja e de 8º a 14º do vinho. Deve-se bebê-lo rapidamente, porque não envelhece bem. Mas o que torna o saquê especial é seu processo de fabricação, o cuidado na limpeza do arroz e da água com os quais ele é produzido. A trilha desenvolvida pela JAL é um passeio por esse mundo nascido no Século XVII com raízes firmes até os dias de hoje, em que toda a atividade é artesanal, controlado por relógios de pulso e antigas balanças de mercearias. Charme é o que não falta, especialmente entre os produtores familiares, que parecem ter saído de um filme de Akira Kurosawa.
O curioso, nesse novo olhar para o saquê, é que ele ganhou fôlego a partir do interesse dos americanos, em um processo semelhante ao que ocorreu com as traquitanas eletrônicas, que surgiram em Tóquio para explodir em Nova York. Nos últimos 30 anos, o consumo da bebida no Japão caiu a um ritmo preocupante. As exportações para os EUA, contudo, aumentaram 30% de 2003 para 2004. Ancorados nessa estatística, os japoneses decidiram divulgar um de seus principais produtos para o mundo. ?As excursões promovidas pela JAL ajudam os turistas mas incentivam também os produtores de saquê?, diz Geoffrey Tudor, porta-voz da JAL.