Quando a Conforja teve sua falência decretada há dois anos, seu destino poderia ter sido o sucateamento do parque industrial, como acontece com muitas massas falidas que ficam abandonadas enquanto esperam pela venda em leilão. Inconformados, os trabalhadores da empresa sediada em Diadema (SP), que produz laminados e forjados usados na indústria do petróleo e automotiva, resolveram manter as caldeiras funcionando e se organizaram para criar uma cooperativa, arrendando instalações e máquinas. Acabaram os cartões de ponto, salário virou ?retirada? e as decisões não são mais tomadas de cima para baixo, mas em assembléia. Apesar de terem assumido com mais de 30% dos equipamentos quebrados, a autogestão reverteu a sorte da empresa. Hoje, a cooperativa fatura R$ 1,8 milhão por mês, apresenta taxas de crescimento de 900% ao ano e já chegou até a exportar para o Chile. Isso tudo sem fazer um centavo de investimento. ?Não devemos para ninguém e pagamos todos os impostos em dia?, diz José Domingo Peres dos Santos, presidente da Uniforja, holding que une quatro cooperativas responsáveis por diferentes unidades de produção da forjaria, que tem sede em Diadema, Grande São Paulo.

A experiência pioneira de quase 300 metalúrgicos ? é o primeiro caso na história do País onde os trabalhadores conseguiram autorização judicial para continuar funcionando depois de decretada a massa falida ? está ameaçada. Até o fim do ano, a Conforja vai a leilão e há muita gente de olho no negócio. Afinal, não há outra empresa no País que faça forjados de grandes dimensões, como aqueles usados em prospecção de petróleo. A Uniforja está buscando financiamento junto ao BNDES para poder adquirir a massa falida e ter capital de giro para se modernizar e expandir. Não são poucas as dificuldades. Empresários procurados para possíveis parcerias acham que ?peão não sabe administrar? e, apesar do balanço gordo e positivo, nenhum banco se dispôs a conceder empréstimos de R$ 100 mil para a compra de computadores ou de matéria-prima.