A força do produto chinês é avassaladora. Não há território no mundo que esteja fora do alcance da poderosa economia chinesa. Um dos últimos redutos a cair nas garras desse insaciável tigre asiático foi o mercado de arte. Obras de artistas como Fu Baoshi ou Zhang Daqian fazem hoje a alegria de galeristas e das casas de leilões. No final do ano passado, uma pintura em pergaminho feita por Baoshi foi vendida por US$ 1,1 milhão em leilão, quatro vezes mais do que a previsão feita pela casa de leilão Sotheby’s, de Londres. Já os trabalhos de Daqian, conhecido como o ?Picasso da China?, têm alcançado preço médio de US$ 1 milhão nas últimas transações internacionais. O que explica essa supervalorização de artistas que, até pouco tempo atrás, eram desconhecidos no mundo ocidental? A resposta está na combinação de fatores, sendo o aspecto comercial ? como sempre ? um dos mais significativos.

?Como a China está se tornando uma potência econômica internacional, a sua arte também passou a ser valorizada?, afirma Antonio Bias Bueno Guillon, diretor presidente da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), de São Paulo, que em 2002 promoveu uma exposição de arte chinesa no Brasil. ?Além disso, os preços das obras estavam realmente baratos?, observa. Guillon dá como exemplo uma das peças que participaram da exposição da FAAP: uma veste de bronze do lider comunista Mao Tsé Tung, de autoria de Sui Jianguo. ?Os chineses nos ofereceram a obra por US$ 10 mil, mas não compramos porque nosso museu investe apenas em arte brasileira?, relembra Guillon. ?Meses depois, essa mesma peça foi vendida em Nova York por US$ 400 mil?. Uma valorização de 3.900%. Em busca de oportunidades como essa, donos de galerias e as casas de leilões abriram departamentos exclusivos de arte chinesa. Há alguns anos, havia pouquíssimas galerias especializadas no assunto, como a do francês Jean-Marc Decrop, em Paris. Hoje, tanto a Sotheby’s quanto a Christie’s já têm operações na Ásia.

 

Mas será que ainda dá para ganhar dinheiro com arte chinesa? Sim, acreditam os especialistas. Tudo depende de como e do que comprar. ?Ainda há boas oportunidades, principalmente para quem conhece o mercado?, diz Guillon. ?Mas não creio mais nas valorizações fabulosas do passado?. Para quem pretende investir em obras de artistas chineses contemporâneos, uma opção é entrar como cotista da Fundação Ellipse. O aporte mínimo é de US$ 300 mil. Criada pelo Banco Privado Português (BPP), a Ellipse funciona como um fundo fechado e já tem um patrimônio de mais de US$ 25 milhões para investir exclusivamente em obras de artistas contemporâneos. No portfólio da fundação estão quatro artistas chineses: Cai Guo-Qiang, Xu Zhen, Yang Fudong e Chen Zhen. ?Temos um time de curadores que são nossos conselheiros na compra das obras, que são os nossos ativos?, diz Waldick Jatobá, diretor do BPP no Brasil. Um detalhe do fundo, porém, pode deixar os amantes das artes desapontados. ?No final, todas as obras serão vendidas e o lucro apurado será dividido entre os cotistas?, afirma Jatobá. A partir daí, cada um faz o que quiser com o dinheiro. Inclusive investir em arte chinesa.