18/07/2007 - 7:00
OUTRO RITMO: Terni traz novos diretores para a empresa e cria cargos inéditos
Há uma “nova” Schincariol que quer surgir do legado deixado pela “velha” Schincariol. O problema é que a antiga Schin não parece disposta a se descolar assim, tão facilmente, da “nova” Schin. Segunda maior cervejaria do Brasil, a companhia está em pleno processo de reestruturação, tem uma direção novinha em folha, sob a batuta do executivo Fernando Terni, faz aquisições no mercado e volta a registrar uma participação de mercado nos níveis anteriores à da Operação Cevada – aquela em que o comando do grupo foi parar atrás das grades em 2005. Já a antiga Schin tem outra cara: é alvo de ações na Justiça, enfrenta trabalhadores reclamando direitos trabalhistas e sofreu apreensão de mercadorias em portos brasileiros. Em alguns momentos, as duas são uma só. É essa simbiose entre passado e futuro que não deixa a companhia sair dos holofotes da mídia e dos olhos da Justiça. Mas a intenção é exatamente outra. A companhia quer concluir as reformas internas até o início de 2008 e engavetar, de forma legal, processos judiciais que envolvam o nome do grupo. Não será tarefa fácil. Ainda se arrastam ações da época em que Nelson Schincariol estava no comando do grupo (ele morreu numa suposta tentativa de assalto em 2003). São processos nos quais os distribuidores de diversos estados são acusados de recolherem menos ICMS do que deveriam. A Schin é citada nas ações como “responsável solidária”. Ela tem conseguido anular os autos de infração por inexistência de “suporte jurídico” (leia-se, falta de provas), segundo um dos processos a que DINHEIRO teve acesso. Isso aconteceu em Minas Gerais, em agosto de 2000, com a “velha” Schin. Mas voltou a acontecer com a “nova” Schin, desta vez no Rio de Janeiro.
O “SEU NELSON”: patriarca da família ajudou a criar império que passa por transformações
Confusões entre cervejarias e os Estados, por conta das pendências fiscais, atravessam os anos. A empresa, inclusive, tem dito que o seu caso não é isolado e nada foi comprovado de irregular. A Operação Cevada, em junho de 2005, que envolveu a prisão da família Schincariol, numa investigação de suposto crime fiscal, por exemplo, patina na Justiça e pode terminar engavetada, apurou a DINHEIRO. Entretanto, o embate entre a “velha” e a “nova” Schin vai além disso. Funcionários de empresas contratadas como “prestadoras de serviços gerais” nos anos 90 (época do comando anterior) reclamam na Justiça direitos trabalhistas da cervejaria. Em maio de 2005, por exemplo, empregado da Condor Consultoria e Serviços Gerais entrou com processo no Tribunal Regional do Trabalho de Recife para exigir toda a sorte de direitos trabalhistas após o fim do contrato entre a Schin e sua empregadora. A Justiça determinou que a Schin “arcasse com as conseqüências” de ter utilizado os serviços da prestadora anos atrás. Outros casos se somam a esses em São Paulo e no Recife. R$ 3,6 bilhões foi o faturamento bruto do grupo cervejeiro no ano passado.
O ARTICULADOR DAS REFORMAS: Adriano Schincariol tenta profissionalizar a companhia de bebidas após fase difícil
Dentro da empresa, sob o comando do executivo Fernando Terni, ex-presidente da Nokia, contratado em fevereiro, há um brutal processo de transformação na gestão, gerência das marcas e sistema de distribuição. A consultoria McKinsey acompanha passo a passo essas mudanças e deve terminar seu trabalho na Schin no começo de 2008, apurou a DINHEIRO. A empresa quer ser o que não era no passado, seguindo os preceitos de governança corporativa. Nesse processo, demitiu diretores da “velha” Schin. Adriano Schincariol, filho de “seu Nelson”, foi para o conselho de administração do grupo. Internamente, a empresa tenta ampliar as suas vendas de produtos “premium”: criou uma área interna só para cuidar disso e está reduzindo o tamanho da frota própria responsável pela distribuição. Com administração profissional e mais enxuta, a cervejaria tenta parecer cada vez menos com a antiga Schin. E, caso seja bem-sucedida, o nome Nova Schin pode ser mais do que uma marca boa de marketing.