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OITO ANOS JÁ SE PASSARAM, mas a morte do banqueiro Edmond Safra ainda é cercada de fatos obscuros. No dia 3 de dezembro de 1999, Edmond, então dono do Republic National Bank of New York, repousava em seu quarto, em um dúplex no principado de Mônaco, quando um incêndio foi provocado na residência. Safra, que sofria de mal de Parkinson, não conseguiu escapar e morreu sufocado pela fumaça três dias antes de o Federal Reserve aprovar a venda de seu banco para o HSBC por US$ 9,9 bilhões. Na época, surgiram várias versões sobre o ocorrido e, depois da investigação realizada pela polícia de Mônaco, o homem apontado como culpado foi o enfermeiro americano Ted Maher, que trabalhava com Safra. Ele foi condenado e cumpriu sete anos e meio de prisão.

Libertado em 2007, morando em Connecticut, nos Estados Unidos, Maher prepara um livro contando a sua versão. ?Ele é inocente?, disse à DINHEIRO, Michael Griffith, advogado de Maher. ?A polícia nunca investigou direito, o Ted serviu de bode expiatório.? No último domingo, 2 de março, o advogado organizou um jantar no restaurante asiático Tse Yang, em Nova York, para dizer que abrirá um novo processo, agora na Corte Européia de Direitos Humanos, em Estrasburgo, na França, para provar a inocência de seu cliente.

Entre os convidados estavam a escritora Lady Colin Campbell, autora do livro Empress Bianca, que conta a história de Bianca Barret, personagem fictícia cujas situações vividas na obra literária são idênticas às de Lily Safra, a mulher e herdeira de Edmond. Lily, cabe ressaltar, conseguiu barrar na Justiça a publicação do livro. Outro convidado foi o jornalista americano Dominick Dunne, da revista Vanity Fair, que cobre o caso desde 1999.

Eles brindaram o novo julgamento, que acontecerá em um foro independente. Na versão oficial para o ocorrido, consta que o enfermeiro Maher inventou que viu dois invasores na casa, se esfaqueou três vezes e ainda ateou fogo na cobertura do banqueiro.

O advogado de Maher abrirá um novo processo na Corte Européia de Direitos Humanos

Tudo isso para que pudesse ser reconhecido como um herói perante a opinião de Edmond Safra. O plano não deu certo e o banqueiro acabou morrendo intoxicado pela fumaça junto com a enfermeira Vivian Torrente, que também estava de plantão naquele dia. A esposa de Edmond, Lily Safra, dormia em outra suíte e escapou ilesa do fogo.

A versão de Maher é outra. Ele diz que dormia no quarto ao lado do de Safra quando dois homens usando máscaras teriam entrado pela janela. Um dos homens teria ido em direção à suíte de Edmond e o outro teria atacado Maher. O enfermeiro teria sido esfaqueado três vezes, até que conseguiu pegar um haltere e bater na cabeça do invasor. O outro bandido teria voltado em socorro do primeiro e ambos teriam fugido pela janela. Ainda, de acordo com o advogado, Maher teria corrido ao quarto de Safra e teria lhe dito para trancar a porta, pois havia bandidos na casa. Edmond, de dentro do seu quarto, teria lhe ordenado que soasse o alarme. O único alarme que Ted teria visto era o de incêndio. Ele, então, teria queimado alguns papéis em uma lixeira para ativar o dispositivo e chamar os bombeiros, e isto seria a causa do incêndio.

Griffith afirma ainda que naquele dia os seguranças de Edmond estavam de folga. Dois dias depois, Heidi Maher, a esposa de Ted, chegou em Mônaco e foi levada à polícia para prestar depoimento. Lá, teve seu passaporte apreendido. Isso teria servido para pressionar Maher a assinar uma declaração em francês, idioma que ele desconhece, na qual afirma que havia se esfaqueado para ser o herói que salvou Safra. ?Esse era o melhor emprego que Ted já teve. Ele ganhava US$ 175 mil por ano com todas as despesas pagas. Por que ele ia querer se esfaquear três vezes para ser um herói??, questiona Griffith.

O advogado de Maher acredita que houve um complô. Em junho de 2007, em entrevista à revista do jornal francês Le Figaro, o juiz do caso, Jean-Christophe Hullin, afirmou que ele e sua família foram ameaçados durante o processo. Por quem, ele não revela. Mas há uma pista.

Em 1999, cinco dias após o crime, o promotor que cuidava do caso, Daniel Serdet, afirmou à ISTOÉ que o ocorrido parecia ser um atentado contra Edmond. Naquela época, o banqueiro estava negociando o seu banco com o HSBC e teria informado ao FBI que a máfia russa usava suas agências para lavagem de dinheiro. A julgar pelo emaranhado de dúvidas, Maher terá um longo caminho para tentar provar sua inocência.