07/03/2014 - 21:00
Fica, a cada dia, mais clara a distância que separa as expectativas do mercado e as projeções oficiais sobre o desenrolar da economia brasileira. Há desconfianças em vários quesitos – do comportamento da inflação ao tamanho do crescimento do PIB, da evolução nas contas externas ao efetivo resultado da política de juros praticada pelo BC, cuja taxa já voltou ao mesmo patamar do início do mandato de Dilma. Na prática, o que se teme é que o governo esteja andando como barata tonta nesse campo das finanças. Ora ele anuncia descontos cavalares na tarifa elétrica para, a seguir, praticar reajustes, temendo a falta de energia e o rombo do setor. Ora ele saúda o menor nível de juros da década e, ato contínuo, inicia uma escalada de aumentos da taxa, que ainda não parou.
O desafio fiscal se mostra cada vez maior e longe de uma solução estável. Na semana passada, os números divulgados não foram nada animadores. O superávit primário cravado pela União foi o mais baixo já registrado desde 2009. Ficou em R$ 12,95 bilhões, cerca de 50% menor que os R$ 26,28 bilhões acumulados em janeiro de 2013. O superávit oscilou assim de 1,9% do PIB (percentual registrado em dezembro último) para 1,67% do PIB. A deterioração das contas externas é outro calcanhar de aquiles que vem expondo ao mundo as fraquezas brasileiras. Em fevereiro, a balança comercial teve déficit recorde, com as importações superando as exportações em mais de US$ 2,1 bilhões.
Isso depois de já ter cravado outro número recorde, de US$ 4 bilhões em janeiro. Ao lado desse recuo no colchão de liquidez comercial, a saída de dólares do País seguiu firme em fevereiro, superando o volume de entrada em quase US$ 1,9 bilhão. Diante do quadro, não é de estranhar que a Pesquisa Focus, realizada com instituições financeiras e consultorias, tenha apresentado em seu último resultado projeções pessimistas sobre o futuro dos mais variados indicadores. De um modo geral, analistas e economistas privados resistem em acreditar nas análises e apostas sempre mais positivas da ala de autoridades monetárias que pregam, por exemplo, que a inflação tende a fluir para o centro da meta e que a alta de preços deve arrefecer. Quem deve se sair melhor nesse cabo de guerra?