NOS TEMPOS DA INFLAÇÃO ALTA, os brasileiros se acostumaram a investir em ativos reais para preservar o valor do dinheiro. Nos anos 80 e 90 do século passado, comprava-se de tudo para combater o dragão que corroía o valor da moeda: ouro, dólares, telefones, carros, casas, terrenos ou qualquer coisa que pudesse ser vendida por um preço maior tempos depois. Hoje em dia, a alta volatilidade dos investimentos financeiros despertou o saudosismo pelos ativos reais. O problema é que nem todos eles continuam interessantes. Telefones não valem mais nada, carros usados são perda de tempo. O ouro e o dólar são tão voláteis quanto as blue chips da Bolsa. Sobraram os imóveis e, graças à evolução do mercado, os fundos imobiliários.

O economista aposentado paulista João Augusto Sasdelli, 59, comprou seu primeiro imóvel para investimento em 1975, no bairro do Paraíso, em São Paulo. De lá para cá, diversificou sua carteira, investindo em ações, renda fixa e também em outros imóveis. Em 1999, descobriu os fundos imobiliários e comprou cotas do Shopping Pátio Higienópolis logo no lançamento, quando custavam R$ 100. Hoje, para comprar uma cota do mesmo empreendimento no mercado secundário gasta-se R$ 269. Sasdelli ficou tão satisfeito com o resultado que direcionou 50% de suas aplicações para esse tipo de fundo. Outros 15% continuam em imóveis e o restante dividido entre renda fixa e variável. “Ações são para quem entende muito e tem paciência de esperar. Além disso, sofrem muita variação. Com imóveis, isso não acontece. E fundos são muito simples de aplicar”, diz.

Há fundos com desempenho superior ao da renda fixa. O Hospital da Criança, por exemplo, remunerou 2,06% em outubro (leia tabela) sobre a cota original. Sobre o valor negociado no secundário, a rentabilidade foi de “apenas” 0,94%, também superior à da caderneta de poupança. No entanto, nem tudo é cor-de-rosa. Segundo Ricardo Almeida, professor de Finanças do Ibmec São Paulo, um dos principais problemas enfrentados por quem investe nesse tipo de fundo é a venda das cotas. “Ele tem que vender a cota para outro investidor. E no atual momento, tem muito investidor querendo pagar menos”, explica. Almeida acredita que, pelo fato de não haver desvalorização de cotas, o investidor tem a impressão de que os fundos não se desvalorizam. “Dá a impressão de que não é volátil”, diz.

Mas para quem prefere o bom e velho imóvel, Almeida acredita que 2009 será um bom ano para a compra. “Muitos imóveis serão entregues ano que vem, então haverá muitos usados disponíveis. Por isso, os preços cairão”, diz. Muitas construtoras estão adiando seus lançamentos do fim de 2008 para 2009, na esperança de uma recuperação do crédito. Ou seja, uma quantidade ainda maior de imóveis disponíveis. Odair Senra, diretor da Gafisa, espera que o investidor aproveite o momento para diversificar e optar por imóveis na composição de sua carteira de investimentos. “Ele sabe que não deve colocar todos os ovos em uma mesma cesta. E imóvel sempre será um bom investimento”, diz. Já no segmento de alta renda, a crise parece não ter ainda se estabelecido por completo.

Na Sotheby’s Brasil, a procura por construções de luxo ainda não foi afetada. “Fomos procurados por investidores alemães e italianos querendo comprar por aqui. Muitos acreditam que o Brasil se recuperará muito rápido da crise”, afirma Celso Pinto, diretor da Sotheby’s em São Paulo. Ele acredita que o potencial é de valorização, mesmo com o desaquecimento do mercado. “Os melhores produtos não estão sendo afetados”, afirma.