15/06/2004 - 7:00
O agronegócio vive um ótimo momento no Brasil. A riqueza gerada pelo setor que mais cresce no País totalizou R$ 508 bilhões em 2003, o equivalente a 31% do Produto Interno Bruto. A produção nacional de grãos cresceu quase 10% no ano passado. Entre 1990 e 2002, a produção animal aumentou 223% na avicultura e 125% na bovinocultura. Na trilha desse cenário positivo, também a criação de animais antes considerados exóticos ganha impulso. É o caso da avestruz, com a chamada estrutiocultura. Hoje, esse segmento movimenta anualmente em torno de R$ 75 milhões e acena com a promessa de crescimento ainda maior nos próximos anos. Quem investiu desde o início da atividade no País, em 1996, começa a comemorar. A taxa de retorno do negócio é atraente, entre 20% e 30% ao ano, melhor do que muitas aplicações financeiras tradicionais.
O Brasil ainda está na fase de reprodução do rebanho ? 75% do volume negociado corresponde à comercialização de matrizes ? mas os criadores acreditam que, em breve, a demanda pelos artigos derivados do animal (como carne, couro e pluma, entre outros) impulsionará o mercado interno e as exportações. Quem planeja investir no animal pode aproveitar o momento de boas notícias. ?Passada a fase de euforia e de muita propaganda, atualmente temos um alto grau de profissionalização dos produtores de avestruz?, afirma Celso Carrer, presidente da Associação dos Criadores de Avestruz do Brasil, a Acab. O investimento inicial é pequeno: com R$ 100 mil é possível iniciar um projeto. São R$ 50 mil para a aquisição de animais e a outra metade para infra-estrutura, mão-de-obra, insumos e medicamentos. Com esses R$ 50 mil iniciais é possível adquirir cinco casais adultos, que poderão gerar entre 60 e 90 filhotes ao ano. O preço de um filhote para abate é de R$ 900. Descontados todos os gastos com a produção, algo como R$ 550, sobra um lucro de R$ 350 por cabeça. Esse valor, multiplicado por 60 crias, resulta num ganho de R$ 21 mil, ou 21% do capital inicial aplicado.
Matrizes africanas. O cálculo mostra a importância da capacidade reprodutora dos animais para o ganho do produtor. ?Os melhores animais para reprodução são da raça african black, que podem botar até 60 ovos por ano, o dobro da média das raças blue neck e red neck?, explica o produtor Gérson Maciel, do grupo Avestruz Master, de Goiás. Maciel é dono do maior criatório de avestruz no País, na cidade de Bela Vista, a 50 quilômetros de Goiânia. A propriedade, de 106 alqueires, tem capacidade para abrigar até 3.800 aves e conta com uma infra-estrutura que inclui elevador panorâmico e até heliponto. Para o investidor iniciante, o espaço necessário para abrigar cinco casais adultos é bem mais modesto: em torno de dez hectares. Quem não dispõe de terreno, pode adotar o modelo de hospedagem do animal em áreas de terceiros, onde o aluguel custa, em média, R$ 3 ao dia.
A atividade tem crescido porque corre no vácuo do aumento da procura pelos produtos derivados do avestruz, que têm alto valor de mercado. A carne é considerada uma das mais saudáveis, com colesterol mais baixo do que a do frango e do peru. O preço também é favorável ao produtor: a partir de US$ 20 o quilo, o equivalente a mais de R$ 60. O Brasil ainda é o maior importador mundial de plumas, principalmente por causa da indústria do Carnaval. O couro também é bastante procurado e custa US$ 200 a peça curtida. Até a gordura da ave é aproveitada, pela indústria de cosméticos. Para alcançar esse patamar industrial, o caminho é a multiplicação do rebanho. ?O potencial de crescimento do plantel nacional é de 60% ao ano nos próximos dez anos?, aposta Carrer. Os números do mercado interno indicam que o Brasil está no rumo certo.