19/02/2009 - 7:00
A vingança dos, pequenos bancos
A bolsa de valores não está para os caçadores. A vez é dos bancos de pequeno e médio porte. Embora tenham sofrido mais com a seca do crédito devido à crise mundial, os “nanicos” estão na mira dos especuladores, pois atuam em nichos que podem fazer a diferença na disputa pelos primeiros lugares do ranking. Ao menor sinal de que a caça está no alvo, eles enchem a carteira do papel. Foi o que aconteceu com o BicBanco.
BEZERRA DE MENEZES, presidente do BicBanco
Um sopro dava como certa a negociação entre o presidente José Bezerra de Menezes com Márcio Cypriano, do Bradesco. O papel preferencial do BicBanco, que tinha caído 71,3% no ano passado, subiu 35% até a quarta 11. As duas instituições desmentiram a negociação. “Havia uma expectativa de que muitos bancos pequenos poderiam quebrar no ano passado e o investidor se livrou do papel. Por isso, eles caíram muito”, diz Clodoir Vieira, economista-chefe da Souza Barros. O apetite do BB está ajudando os bancos estaduais a ganhar destaque. O último foi o Banco da Amazônia, que em 40 dias praticamente devolveu a desvalorização de 59% do ano passado. “O objetivo hoje é saber quem está assediando quem”, afirma Vieira. O pequeno investidor deve ter cuidado para não entrar na onda e ver seu dinheiro fugir como uma revoada de patos. Afinal, quando se está caçando, o tiro pode passar longe do alvo.
DESTAQUE NO PREGÃO
CSU volta a subir
A ação da CSU Card System, que tem como carro-chefe o processamento de transações de cartões de crédito, fechou os anos de 2007 e 2008 em baixa de 47,2% e 60%, respectivamente, na bolsa. O que era mico virou pechincha, ao menos na visão do AC0 Fundo Multimercado – Investimento no Exterior. Administrado pelo JP Morgan, o fundo aumentou sua participação na companhia para 5,65%. O presidente Marcos Ribeiro Leite também comemorou o contrato com a Azul Linhas Aéreas para a prestação de serviços de call center. Até a quarta 11, a ação da empresa subia 43% no ano. A mudança de comportamento está escorada no realinhamento da linha de cartões e de telemarketing (ver Palavra de Analista) e no enxugamento das contas, comandado por Décio Burd, diretor-financeiro e de RI.
PALAVRA DE ANALISTA
O maior problema da CSU é seu negócio de call center. A empresa precisa continuar privilegiando a redução de custos para não ser atingida pela nova regulação do setor, que espreme mais ainda as já pequenas margens de lucratividade desse serviço. “A CSU estabilizou o call center, mas continua pouco rentável”, diz Jayme Alves, analista da Spinelli. O maior risco para o ano é o endividamento de R$ 100 milhões. Metade tem vencimento no curto prazo. E, apesar da dívida estar dentro dos padrões recomendados (não supera duas vezes a geração de caixa), Alves recomenda atenção, principalmente pela escassez de fontes de crédito.
NET
Crescimento com prejuízo
Os maiores destaques do balanço anual da NET foram a internet banda larga e o serviço de telefonia, que cresceram 68,5% e 35,8%, respectivamente. A tevê por assinatura, seu principal negócio, aumentou 19,4%. O crescimento não ajudou a Net a escapar de um prejuízo de R$ 95 milhões, resultado diretamente ligado ao endividamento em dólar. Com a variação cambial, a dívida cresceu 84% em relação a dezembro de 2007 e atingiu R$ 1,023 bilhão, o equivalente a 38,7% do patrimônio líquido. Apesar disso, Jacqueline Lison, analista do Fator Corretora, mantém a recomendação de papel atrativo para a Net, com preçoalvo de R$ 19,66 para dezembro. “Os riscos aumentaram. A crise financeira eleva a chance de perda de clientes pela superficialidade do serviço”, alerta a analista.
QUEM VEM LÁ
Olhar positivo do HSBC
Poucos bancos são tão globais como o HSBC, com seus tentáculos em 77 países e territórios, da Ásia à América Latina. Seu principal executivo, Michael Geoghegan, comandou a operação brasileira por seis anos, até 2003. É alentador, portanto, saber que HSBC está muito otimista com o mercado de ações do Brasil. Em relatório divulgado no último dia 6, o banco elevou a recomendação do mercado, passando-a de neutra para overweight (peso acima da média). Na análise dos estrategistas John Lomax, Alexandre Gartner e Wietse Nijenhuis, o Brasil vai se beneficiar da recuperação mais rápida que a esperada da economia da China. Eles recomendam a compra de ações nos setores de mineração, aço e financeiro.
FIQUE DE OLHO: O mercado de ações continua fechado para novas captações. Lá se vão quatro meses desde a última oferta de ações na BM&FBovespa, da Marfrig
Touro X Urso
A semana promete começar agitada na BM&FBovespa. Na segunda 16, ocorre o vencimento das opções sobre ações série B. Este será um dia de muitos negócios, com alta volatilidade e que exige cuidado dos investidores. A desaceleração da inflação também poderá ser sentida ao longo da semana. Na terça 17, serão apresentados os dados do IGP-M e na sexta 20, o IPCA.
O ceticismo é a palavra que alimenta o urso. O pacote de estímulo à economia e de salvamento das instituições financeiras da equipe de Barack Obama foi interpretado como mais do mesmo. O investidor mantém sua estratégia de rali, o que deve permanecer ao longo da semana pré-Carnaval no Brasil. Atenção à divulgação do relatório de janeiro do FOMC, o comitê do Fed, na quarta 18, mesmo dia de abertura da reunião do BC japonês.
EDUCAÇÃO FINANCEIRA
Ações são um investimento de risco. Dito isso, o presidente do Conselho de Administração da BM&FBovespa, Gilberto Mifano, tem três conselhos para o pequeno investidor que quer alocar recursos no mercado de capitais. “O importante é não investir todo seu dinheiro na bolsa de valores, não investir tudo em uma única empresa e não investir tudo em um único momento”, afirma.
MERCADO EM NÚMEROS
PERDIGÃO
R$ 1,5 bilhão
é a amortização que a Perdigão fará no balanço por conta das aquisições de Eleva, Batávia e Paraíso Agroindustrial. Os acionistas não serão prejudicados nos dividendos.
GERDAU
R$ 445 milhões
é o aumento futuro de capital aprovado previamente pela Gerdau, caso o mercado volte a se abrir.
SOUZA CRUZ
R$ 5,3 bilhões
foi a receita líquida da Souza Cruz em 2008, crescimento de 9,4% em relação ao ano anterior.
KLABIN SEGALL
9,1%
foi a queda no valor geral de vendas de R$ 1 bilhão da Klabin Segall em 2008, para R$ 1 bilhão.
CCR RODOVIAS
R$ 121 milhões
foi quanto a CCR Rodovias pagou pela participação de 45% no capital social da Controlar, empresa concessionária da inspeção veicular na cidade de São Paulo.
VCP
R$ 4,2 bilhões
foi o aumento de capital aprovado na assembleia da Votorantim Celulose e Papel (VCP).
TERNA
R$ 625,2 milhões
foi a receita líquida da Terna em 2008. A empresa de transmissão de energia elétrica lucrou R$ 187,5 milhões líquidos.
CEMIG
49%
foi a participação adquirida pela Cemig em três parques de energia eólica do Ceará. O custo da operação foi de R$ 213 milhões.
Apesar de os grandes bancos brasileiros terem ficado distantes dos problemas com as carteiras podres de crédito nos EUA, suas ações estão em baixa na preferência dos investidores. O Bradesco, que registrou lucro de R$ 7,62 bilhões no ano passado, 4,9% menor que em 2007, tem um desafio a mais: está pressionado após as transformações nos concorrentes, com a fusão de Itaú e Unibanco e o apetite por aquisições do Banco do Brasil. Milton Vargas, vice-presidente e diretor de relações com investidores do Bradesco, conversou com a DINHEIRO:
DINHEIRO – Por que as ações do banco estão em baixa?
MILTON VARGAS – O Bradesco é a terceira ação mais líquida e negociada no Brasil. E nosso ADR é forte. Além disso, 42% das nossas preferenciais pertencem aos estrangeiros. Os fundos de hedge se desfizeram do nosso papel para cobrir os rombos lá fora. Apanhamos pela liquidez da ação, assim como somos favorecidos na reta de crescimento.
DINHEIRO – O Bradesco busca se defender dessa especulação atuando na bolsa?
VARGAS – Temos programas de tesouraria, mas não fazemos isso. É uma maneira de artificializar o mercado. Não critico quem faz, mas o mercado é soberano e as pessoas sabem avaliar as oportunidades.
DINHEIRO – Os analistas parecem ter se decepcionado com o resultado de 2008.
VARGAS – Pela nossa análise, houve neutralidade. A expectativa era maior, mas acredito que houve um entendimento claro e evidente do que ocorreu. Pagamos os dividendos sobre o total do resultado e mostramos a importância da prudência em função do aumento da inadimplência, que subiu de 3,5% para 3,6% (dos empréstimos). É natural fazer provisão quando se tem um aumento de 34% na carteira de crédito no ano, como tivemos em 2008. No último trimestre, houve um acréscimo de 15% nos empréstimos para grandes empresas. Com o clima de perspectivas ruins com a economia global, fazer provisão é ser prudente.
DINHEIRO – É viável para o Bradesco recuperar a primeira posição em ativos em cinco anos?
VARGAS – Não basta crescer só de tamanho. O importante é ficar de olho no retorno para o investidor. É importante voltar a ser o primeiro (banco privado) com rentabilidade, independentemente da situação dos concorrentes.
DINHEIRO – Como é planejado esse avanço?
VARGAS – Temos capital, liquidez e estamos com o balanço estruturado para passar por essa fase difícil. Mas, se olhar o mercado doméstico, o Brasil passará por um crescimento médio de 4% nos próximos dez anos, com soluços. Crise não dura a vida toda. Há 40 milhões de “desbancarizados”, migração das classes E para D e desta para C. Temos tudo isso para explorar, com produtos massificados e seguros. Nossa rede é fantástica, com 174 novas agências. Não temos medo do futuro.
PELO MUNDO
GM DEMITE
O preço do petróleo caiu, mas a crise financeira continua castigando a indústria automobilística americana. Para cortar custos e se adaptar à demanda, a General Motors, presidida por Richard Wagoner, abriu um programa de demissão voluntária para 62 mil funcionários, com adesão esperada de 11 mil. E negocia a venda da marca Hummer para os chineses. Em 12 meses, a ação da empresa caiu 90% na bolsa.
AÇÃO E REAÇÃO
As ações da rede de hotéis Marriott International caíram até 7,8% na Bolsa de Nova York na quintafeira 12, depois do anúncio de um prejuízo de US$ 10 milhões no quarto trimestre. Um ano antes, o lucro alcançou US$ 176 milhões no período. As receitas caíram de US$ 4 bilhões para US$ 3,8 bilhões. Pior, as perspectivas para 2009 não são muito animadoras para o setor de turismo.
SALÁRIO DE US$ 1
O CEO do Citigroup, Vikram Pandit, irá receber apenas US$ 1 de salário enquanto o banco não voltar a ser rentável. Faz sentido, ao menos para a opinião pública americana. O Citi já recebeu ajuda de US$ 45 bilhões do governo (ou seja, do contribuinte) para sair da crise. Pandit também abriu mão de bônus.
SUÍÇOS PERDEM
O Credit Suisse fechou 2008 com um prejuízo recorde de 8,2 bilhões de francos suíços, dos quais 6,0 bilhões (US$ 5,2 bilhões) somente no quarto trimestre. O UBS, seu maior concorrente, conseguiu perder 19,7 bilhões de francos suíços no ano passado, no maior prejuízo da história da Suíça.
Com Márcio Kroehn
AVISO – Esta seção tem caráter meramente informativo e seu conteúdo não deve ser interpretado como recomendação de investimentos. A revista DINHEIRO não se responsabiliza por decisões de investimento tomadas por seus leitores. Os autores detêm ações das seguintes empresas: Vale, Petrobras, Usiminas, BM&FBovespa, Bradesco, Itaú e Redecard.