Por razões diferentes, os dois principais acionistas da Braskem, sexta maior companhia petroquímica do mundo, planejam vender suas fatias: a Novonor, antiga Odebrechet (com 38,3% de participação acionária), precisa se desfazer de sua parte por determinação judicial para pagar credores, como parte do plano de recuperação judicial; e a Petrobras (com 36,1% de participação) está se desfazendo de ativos que não estão diretamente ligados ao core business da empresa. Ainda não há prazo para que as transações ocorram. Seja quando for, a Braskem mudará de mãos em seu melhor momento. Mais robusta, ela aumentou a venda de resinas termoplásticas, usadas como matéria-prima para embalagens de alimentos, sabão líquido, sacolas plásticas, equipamentos de proteção individual, entre outras utilidades.

O resultado do segundo trimestre confirma esse crescimento, impulsionado pela retomada do setor industrial nos últimos meses. Entre abril e junho deste ano, a companhia registrou receita líquida de R$ 26,4 bilhões, alta de 16% sobre o resultado do trimestre anterior. Em relação ao mesmo período de 2020, o aumento foi ainda maior: 136% (quando fechou o segundo trimestre do ano passado com R$ 11,1 bilhões). “O momento é de recuperação. Estamos otimistas em relação ao segundo semestre e achamos que vai ser muito melhor do que a gente espera”, disse Roberto Simões, presidente da Braskem.

Também no segundo trimestre, a empresa reverteu prejuízo de R$ 2,5 bilhões, registrado entre abril e junho de 2020, para um lucro líquido de R$ 7,4 bilhões neste ano. Mesmo comparado ao primeiro trimestre, foi um aumento de 198% (a Braskem havia registrado lucro de R$ 2,5 bilhões entre janeiro e março).

O bom resultado e a perspectiva de aceleração da retomada no segundo semestre devem fazer com que o resultado, ao fim do ano, seja superior ao de 2020, quando a empresa fechou com receita de R$ 58,5 bilhões, alta de 12% sobre 2019. “Eu diria que vai ser algo em torno de R$ 90 bilhões a R$ 100 bilhões. Vai ser um grande resultado”, afirmou Simões. Parte do resultado também tem relação com a redução de custos no último ano que, segundo, o presidente, alcançou a marca de 10% da receita.

Além do aumento no volume de vendas de polipropileno nos Estados Unidos e polietileno no México, a companhia foi beneficiada pela melhoria dos spreads, a diferença entre o valor pago na matéria-prima e o preço do produto final. A alta nas entregas no território americano teve relação direta com o período de nevasca no Texas, no início do ano, que afetou boa parte das indústrias da região. “Muitas das fábricas pararam e, por um período, o polipropileno sumiu nos Estados Unidos. Quando a maioria estava sem produto, a gente tinha para vender”, afirmou o presidente. Somou-se a esse fato a entrega de uma fábrica nos Estados Unidos, que teve início em 2017 e custou US$ 750 milhões. A boa rentabilidade nos Estados Unidos elevou a participação do país na receita total da empresa, que era de 8%, no trimestre passado, para 10% em maio e junho.

CRESCIMENTO Receita líquida foi de R$ 26,4 bilhões no segundo trimestre. Resultado só não foi melhor por causa de paralisação programada de 53 dias na unidade de Mauá (SP). (Crédito: Braskem)

INTERRUPÇÃO O Brasil responde por 51% do faturamento. No primeiro trimestre, representava 56%. Para o presidente, um cenário de estabilidade. “O Brasil não subiu da mesma forma, mas o cenário é de retomada”, afirmou Simões. “Voltamos aos melhores patamares tanto em polietileno quanto polipropileno.” O desempenho no Brasil só não foi melhor porque a unidade da companhia em Mauá, no Grande ABC, teve uma interrupção programada de 53 dias, entre 5 de abril e 15 de maio, para manutenção preventiva e corretiva, o que impactou nas vendas.

O que na prática se intensificou nos últimos meses é que, após um longo período de retração, muitas indústrias voltaram a fazer estoque. “Em junho e julho, a maioria decidiu comprar material. E estão satisfeitos porque a economia voltou”, afirmou o presidente da Braskem. Um cenário muito diferente do auge da pandemia, quando parte da indústria parou e a Braskem teve de reduzir a capacidade para 70% e depois para 65%. Hoje todas as plantas operam em plena carga.

Para crescer ainda mais, também é necessário investir. A previsão é de que a empresa realize investimentos da ordem de R$ 3,9 bilhões em 2021. Boa parte desse valor (R$ 3,3 bilhões) no Brasil. No primeiro semestre, já foram aportados R$ 1,3 bilhão, principalmente em áreas operações e projetos de expansão.
No ano passado, a empresa anunciou ações para alcançar o índice de carbono neutro até 2050. Antes, em 2030, planeja diminuir em 15% as emissões de gases de efeito estufa. Trabalhar a questão de soluções renováveis é fundamental para a companhia, que tenta mudar a imagem de uma empresa que polui o ar no entorno de suas operações. “Nosso desafio de ESG é muito grande e a gente precisa assumir compromissos”, disse Simões.

Por outro lado, há discussão em torno da redução no consumo de plástico no mundo, principal produto da matéria-prima gerada pela companhia. Segundo Simões, a empresa começou a produzir o eteno verde, a partir da cana-de-açúcar, que pode ser usado para confecção de sacolas plásticas de supermercado, por exemplo. No ano passado, foram produzidas 10 mil toneladas de plástico reciclável e a previsão para este é de 25 mil toneladas. “Queremos atingir 300 mil toneladas de recicláveis dentro de nossa linha de produtos até 2025”, afirmou.

IMAGEM Para Simões, o desgaste da Odebrecht no escândalo da Operação Lava Jato e da própria companhia em casos de corrupção foi superado. Em 2016, a Braskem chegou a pagar multa de R$ 3,1 bilhões em acordos de leniência. O executivo disse que as ações de combate à corrupção são muito concretas. “Quando assumi a presidência, no início do ano passado, trouxe a área de compliance para as reuniões de diretoria. Isso é um valor inegociável”, disse Simões. “A gente conseguiu virar o jogo e deixou de ser uma empresa que teve problema. Não existe a história de passar a mão na cabeça. Jamais esquecemos o que aconteceu.”

Sobre o processo de venda por parte dos controladores, Simões diz que ainda espera mais informações sobre o caminho que será definido pela Petrobras. Em comunicado divulgado na última segunda-feira (9), a estatal confirmou a contratação do banco JP Morgan para assessoramento financeiro no futuro processo de venda da petroquímica. “A Petrobras esclarece que sua participação na Braskem faz parte da carteira de ativos a serem desinvestidos pela companhia, conforme divulgado no plano estratégico 2021-2025”, informou. “Contudo, ainda não há qualquer definição ou decisão sobre o modelo da venda.”

Para Luiz Francisco Caetano, analista da Planner Corretora, o resultado do segundo trimestre mostra que a companhia está robusta e atrativa para possíveis investidores. “Se eu fosse presidente da Petrobras não venderia. Mas quem comprar irá adquirir um excelente, absolutamente dominante no mercado brasileiro, mexicano e com grande atuação nos Estados Unidos”, disse. “O pior para a empresa já passou.”

PARA PAGAR CREDORES A Novonor, que antes de chamava Odebrecht, terá de se desfazer de suas ações da Braskem até o fim do ano, como prevê o plano de recuperação judicial da empresa. (Crédito:Rivaldo Gomes)

A antiga Odebrecht tem até o fim do ano para se desfazer de suas ações, mas ainda não há definição de quem poderá comprar. A holandesa LyondellBasell chegou a demonstrar interesse no negócio, mas desistiu da transação. Hoje, o que se fala é que há outras duas companhias estudando a possibilidade. As conversas têm sido lideradas pelo banco Morgan Stanley, que assessora a Novonor no processo de venda.

SOLIDEZ Uma das opções aventadas pelo mercado — o fatiamento da companhia —, é a que seria menos viável, na avaliação do presidente. Para ele, não há razão para se desfazer de parte de uma companhia hoje robusta, sólida e que somente em 2021 registrou valorização de 143% na B3. No dia 4 de janeiro, o papel da Braskem foi comercializado a R$ 23,35. No pregão da última quarta-feira (11), fechou em R$ 56,73. No dia 21 de julho, foi negociada a R$ 62,87, maior preço do ano.

“Estamos olhando na Braskem para aumentar de tamanho e não diminuir. A empresa está redonda”, disse Simões. “Esse processo precisa ser bom para os controles e acionistas minotários.”