Os bancos estatais regionais estão fora de moda, certo? Sim, tanto que a esmagadora maioria deles foi privatizada ou enfrenta processos de liquidação comandados pelo Banco Central. Na contramão da história, porém, um exemplo acabado de instituição pública surpreendeu os céticos. O Banco Regional de Brasília (BRB), com 96% de suas ações em poder do governo do Distrito Federal, apresentou um lucro líquido de R$ 34 milhões em 2001. Comparado com o resultado dos bancos privados parece pouco, mas é um lucro espetacular à luz do passado recente. Entre 1995 e 1998, por exemplo, houve um prejuízo acumulado de R$ 26 milhões e a instituição chegou perto da bancarrota. Com a volta por cima ? nos últimos três anos o lucro acumulado chegou a R$ 57 milhões ?, o BRB está galgando posições nos ratings feitos por agências privadas de classificação de risco. ?O banco apresentou crescimento no volume de negócios e adequado índice de liquidez?, registra a agência Austin Asis, que carimbou um triplo B para o balanço da instituição brasiliense.

Recuperação. O salto do vermelho para o azul foi comandado por um funcionário de carreira do banco, o atual presidente, Tarcísio Franklim de Moura. ?Os primeiros tempos, em 1999, foram muito difíceis?, lembra ele. O trabalho de recuperação começou por um Plano de Demissões Voluntárias (PDV), que atraiu 300 empregados e custou R$ 20 milhões aos cofres da instituição. Em seguida, em concurso público, 400 funcionários foram contratados. No lado financeiro, a diretoria tratou de pôr antigas pendências em dia. Como forma de receber R$ 70 milhões devidos por correntistas inadimplentes, o banco incorporou cerca de 800 imóveis em Brasília. Após a venda dos ativos e a renegociação direta das dívidas, a soma de créditos a receber caiu a R$ 10 milhões. O rearranjo interno foi acompanhado de planos de incentivo à venda de produtos e de concessão de remuneração variável aos quase 2 mil funcionários do banco. Como reflexo, entre 2000 e 2001 houve aumento de 15% nas contas correntes ativas. Hoje, em sua carteira de clientes, o BRB tem 350 mil correntistas e 35 mil empresas. Seu patrimônio líquido atinge R$ 204 milhões e os ativos, R$ 1,450 bilhão.

O BRB recebe todas as contas do governo do Distrito Federal e realiza o pagamento da folha salarial dos 170 mil funcionários públicos locais. Isso mostrou-se uma vantagem competitiva, mas não causou acomodação. Desde o ano passado, o banco começou a abrir pontos de atendimento dentro de estabelecimentos comerciais. Por enquanto, 16 lojas de Brasília já recebem contas para o BNB, entre farmácias, supermercados e depósitos de material de construção. Até o fim do ano, o plano é ampliar essa rede para 150 lojas. Com os bons resultados aparecendo, as negociações com o sindicato local dos bancários para a criação de um plano de participação nos lucros estão adiantadas. ?Com toda a certeza vamos dividir lucros com os funcionários este ano?, afirma o presidente Tarcísio Moura.