Muito em breve, as gôndolas dos supermercados deverão trazer uma quantidade maior de vinhos nacionais à venda. Esse deve ser o primeiro e mais visível sinal do acordo de cooperação entre supermercadistas, importadores e produtores de vinhos brasileiros, anunciado no início da semana passada em São Paulo. Costurado nos bastidores nos últimos dois meses – e observado de perto pelo governo (leia-se ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento) –, o acordo enterra, de vez, a novela sobre a salvaguarda para o vinho nacional e propõe diversas ações para aumentar a venda de vinho fino no Brasil, aqui incluídos os rótulos nacionais e também os importados. 

 

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A meta é que o consumo de vinhos passe do atual 1,9 litro por habitante por ano para 2,5 litros até 2016. Promover o consumo (responsável) de vinho como um todo foi a forma encontrada para resolver o imbróglio criado com a proposta da salvaguarda, pedida em março deste ano pela indústria nacional. De um lado estavam os produtores brasileiros, que reclamavam da diminuição da participação de mercado de seus vinhos e queriam medidas que restringissem a entrada dos importados no Brasil – entre as ações possíveis estavam a criação de cotas de importação por países e o aumento da alíquota de importação dos atuais 27% para até 55%. 

 

Por outro, os importadores, que, com a adoção da medida, teriam seu mercado restrito, o que poderia inviabilizar seu negócio. No meio, os consumidores, que perderiam a possibilidade de escolher que vinho tomar. Para os fãs da bebida, a diversidade do vinho é um dos seus atrativos. Mais: muito provavelmente todos nós pagaríamos mais caro pelas garrafas, pois, com a restrição ao importado, a lei da oferta e da procura sempre prevalece. O governo também teria problemas a resolver. Se, de um lado, a salvaguarda poderia agradar aos produtores gaúchos, do outro, criaria entraves junto à Organização Mundial do Comércio (OMC). 

 

Representantes dos governos chileno e português, pelo menos, fizeram chegar ao governo federal a informação de que entrariam com pedido de compensações comerciais junto ao órgão, se a salvaguarda do vinho fosse aprovada. Com a saída honrosa, todos ganham num primeiro momento. Mas isso não significa que os problemas do vinho estão resolvidos. Primeiro, a indústria nacional ainda amarga graves problemas de estoques (no início do mês, o governo anunciou um programa para escoar até 45 milhões de litros de vinho via exportação a granel). Depois, o setor enfrenta várias discrepâncias tributárias, tanto na produção brasileira como na importação e na venda entre os Estados. 

 

A ideia da indústria, agora, é levar essas questões ao governo, além de pleitear financiamentos para investir na melhora da produção e em capital de giro. Enquanto isso, espera-se que as campanhas de promoção (também previstas no acordo) e a maior exposição do vinho nacional realmente elevem o consumo da bebida. E que a competição saudável entre nacionais e importados leve à melhora constante da qualidade do vinho brasileiro. Afinal, nunca é demais lembrar que um dos principais fatores para a melhora da qualidade da bebida brasileira foi a abertura da importação, no início da década de 1990, e a chegada de vinhos europeus e sul-americanos de boa qualidade e preços mais competitivos ao nosso mercado.

 

 

*Suzana Barelli é diretora de redação da revista Menu