O soco no ar. A bandeira do Brasil na mão. O choro. Não. Não é o Pelé ou um outro jogador icônico do futebol brasileiro comemorando mais um gol na carreira. Foi a reação em sequência do presidente Lula ao anúncio da vitória do País na corrida para sediar a Olimpíada 2016. O evento ocorreu em Copenhague, em outubro de 2009. Lula marcou um golaço político. Entrega a bola agora à sua sucessora, Dilma Rousseff, a quem caberá um jogo bem mais pesado: preparar o Brasil para realizar os Jogos Olímpicos, um evento com o poder de alçar definitivamente o País a um novo patamar entre as potências mundiais. 

 

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Uma falha na organização, porém, pode nos jogar para escanteio na cena do mundo desenvolvido. Nesse meio tempo, Dilma entra em campo também como a presidente que dará o pontapé inicial da Copa do Mundo de 2014, uma vitrine tão destacada quanto a Olimpíada para uma nação com pretensões ao protagonismo. 

 

Para marcar também seu gol, como Lula ao arrematar os eventos para o Brasil, ela tem que tirar do papel ambiciosos planos de modernização em várias áreas, que vão da educação à segurança e, sobretudo, a infraestrutura.

 

A comemoração antecipada justifica-se, em parte, pelas expectativas econômicas e sociais que acompanham os dois maiores eventos esportivos da atualidade. Os números variam conforme a fonte consultada, mas tanto a realização da Olimpíada quanto a da Copa em 2014 vão gerar números portentosos. 

 

A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, por exemplo, calcula em até R$ 250 bilhões o total de investimentos a serem feitos na cidade até o início dos Jogos de 2016. 

 

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Já estudos da consultoria Ernst & Young, Fundação Getulio Vargas e da Fundação Instituto de Administração (FIA), ligado à Faculdade de Economia e Administração da USP, estimam em R$ 142 milhões o volume de investimentos no País relacionados à Copa de 2014. 

 

As quantias devem causar um impacto de cerca de R$ 86 bilhões no PIB brasileiro. Não há dúvidas de que as cifras gigantescas devem se traduzir em benfeitorias significativas e irreversíveis para as cidades e suas populações. 

 

No caso da Olimpíada, entre os setores da economia que mais vão se beneficiar com a injeção de recursos estão os da construção civil (10,5%), petróleo e gás (5,1%), informática e comunicação (5%) e transportes (4,8%). 

 

O Brasil deve ter um incremento de 120 mil postos de trabalho criados anualmente até 2016 e de 130 mil entre 2017 e 2027 – como consequência dos investimentos nos Jogos. Com a Copa, 24 setores da economia serão beneficiados, sendo o da construção o que vai receber a maior fatia. 

 

Além de que, para a bola rolar nos gramados das 12 sedes da Copa de 2014 (Manaus, Cuiabá, Fortaleza, Natal, Recife, Salvador, Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre), cerca de 3,63 milhões de pessoas serão recrutadas até 2014 para construir quatro novos estádios e reformar os já existentes, erigir hotéis para receber os cerca de 600 mil turistas que vão invadir as praias, campos, Cerrados e Florestas brasileiras com sua fome de vitória, entre outras ocupações. 

 

“Os Jogos Olímpicos vão promover a aceleração de uma série de ações necessárias em benefício da sociedade brasileira”, disse à DINHEIRO Carlos Arhtur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Rio 2016. 

 

Ele cita Tóquio – que sofreu com a Segunda Guerra Mundial e, 19 anos depois, em 1964, sediou a Olimpíada, Seul (1988) e, mais recentemente, Pequim (Olimpíada de 2008), como exemplo do poder transformador dos Jogos para uma cidade e um país. 

 

“São exemplos que vão inspirar o Rio e farão a população entender a oportunidade de se sediar um evento desses”, afirma o presidente do COB. “A Copa e a Olimpíada, conquistadas por Lula no fim do mandato, serão interpretadas como legado do seu governo”, afirma Rafael Cortez, da consultoria Tendências. Dilma tem agora a chance de também incluí-las em seu patrimônio político se ganhar o jogo da gestão.