14/02/2007 - 8:00
O balanço da indústria de fundos no mês de janeiro, publicado na semana passada, trouxe uma notícia inesperada. A fuga de recursos das aplicações de renda fixa, que marcou o segundo semestre de 2006, foi estancada. Mais do que isso, ensaiou-se uma virada, com os fundos mais conservadores do mercado captando R$ 6,6 bilhões, contra apenas R$ 800 milhões investidos nos multimercados ? estrelas absolutas do ano passado. O resultado, que pôs a renda fixa no topo do ranking de captação em janeiro, pegou o setor de surpresa. É difícil identificar o perfil dos investidores que estão por trás deste movimento, mas os gestores têm boas pistas. Parte dos recursos que chegaram aos fundos de renda fixa no mês passado é composta por ?sobras? de dinheiro, como bônus recebidos na virada do ano e décimo terceiro salário. ?Nós percebemos que em janeiro existe uma forte demanda por fundos de renda fixa. É um momento favorável para a categoria?, observa Moacyr Castanho, diretor de Fundos de Investimento do Itaú. Outra parcela considerável dessas aplicações pode ser atribuída aos investidores internacionais que nas últimas semanas especularam no mercado cambial brasileiro. Há relatos de investidores tomando recursos em bancos japoneses, praticamente sem juros, para aplicar no Brasil, inclusive na renda fixa, em busca de ganhos fáceis com as estratosféricas taxas locais e com a baixa contínua da cotação do dólar. Some-se a isso um período de instabilidade na Bolsa de Valores e a postura conservadora do Banco Central, que reduziu o ritmo da queda de juros, e fica fácil entender o porquê deste retorno ao porto seguro de fundos como os velhos DI.
?Fundo de renda fixa é um mercado promissor para este ano?, indica Renato Motta, da Máxima Asset Management. Isso não significa que é preciso se contentar com aplicações do tipo água-com-açúcar. Motta indica, por exemplo, os fundos indexados à inflação. Ele prevê que no segundo e no terceiro trimestres o mercado será surpreendido por índices de preços mais abaixo do previsto. Por isso, quem optar por fundos com remuneração prefixada poderá ter boa rentabilidade. Aguarda-se, também, o surgimento de uma nova geração de fundos de renda fixa, de perfil mais agressivo ? embora pouca coisa tenha saído do papel. Rendimentos mais interessantes podem ser atingidos, por exemplo, com a inclusão na carteira dos fundos de títulos privados, principalmente debêntures. Os principais bancos já têm aplicações com papéis privados. Em princípio, o risco desses fundos é maior do que o daqueles que compram apenas títulos públicos. Mas debêntures de companhias como a Vale do Rio Doce não podem ser consideradas opções temerárias.
Se os fundos de renda fixa perderam R$ 18 bilhões no ano passado, boa parte da culpa deve ser atribuída às taxas de administração, que não raro batem na casa dos 3% ao ano. À medida que a Selic se aproxima da casa de um dígito, este ?pedágio? torna essas aplicações menos interessantes do que a caderneta de poupança ? que é isenta de IR. ?Fundos mais conservadores com taxas acima de 2% provavelmente já estão com problemas?, diz Alexandre Póvoa, da Modal Asset Management. É improvável que fundos já existentes tenham suas tarifas diminuídas. Mas os fundos novos, criados já com o atual cenário de juros baixos, tendem a vir ao mercado com taxas mais razoáveis.
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R$ 6,6 bilhões foi o montante investido nos fundos de renda fixa e DI em janeiro. No mesmo período, os multimercados captaram apenas R$ 800 milhões |