O Governo não perde o cacoete: retornou à velha política de conceder crédito subsidiado a determinados setores. Um remendo de política industrial que lá atrás descambou para gastos excessivos e desenvolvimento pífio do parque. Montadoras de automóveis, cooperativas agrícolas, empresas dos setores de construção civil e de petróleo e gás deverão ser contempladas com financiamentos a juros mais baixos, liberados por bancos públicos como Caixa e BB. Cerca de R$ 9 bilhões, ao menos, já estão previstos.  O problema não está no objetivo, louvável em si, de injetar alguma liquidez em atividades que foram duramente penalizadas pela recessão. Mas na forma. Benefícios de curto alcance, sem planejamento – e dirigidos especificamente a determinadas áreas –, tendem a distorcer o mercado. Ficou provado e sacramentado que as políticas anticíclicas do primeiro mandato, que não visaram o longo prazo, geraram desconfiança e retração. A instabilidade de regras foi o pior dos males. Uma hora vale um modelo e, em outra, ele muda. Não existe investidor que goste dessa volatilidade. Com tamanha falta de perspectiva, a economia brasileira veio experimentando o chamado voo da galinha, de sobe e desce. Passou a viver de um PIB magro e em queda. A percepção desse erro pautou a própria estratégia do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que logo após assumir aboliu todo e qualquer plano de distribuição de favores dirigidos a segmentos escolhidos. Agora, com o endosso da equipe econômica, ele cede às pressões e ao marketing rasteiro de agraciar empresas de forma atabalhoada, sob a alegação de evitar mais demissões. As queixas contra a iniciativa já começaram. A Federação das Indústrias do Rio (Firjan) criticou duramente a fórmula de concessões diferenciadas. Pediu regras permanentes, sem idas e vindas. Decerto, um plano estrutural e abrangente, que atendesse a toda cadeia, seria muito mais eficaz. Até para que os empresários traçassem seu rumo com alguma estabilidade. Na trilha do apadrinhamento com o dinheiro público, as incertezas tomam conta mais uma vez do horizonte. E pior: as liberações devem pesar negativamente na reforma fiscal, aprovada a conta gotas e a duras penas. A camaradagem vai custar caro e o rombo deve parar, novamente, no bolso dos mesmos: os contribuintes.

(Nota publicada na Edição 930 da Revista Dinheiro)