Uma das mais tradicionais opções de aplicação em renda fixa do País, sumida do mapa financeiro há décadas, está de volta, com ares de novidade. É a velha Letra de Câmbio, ressuscitada pela corretora paulista Petra e propagandeada como um investimento seguro e com rentabilidade superior à do CDB. Banido do mercado desde os anos 80, na esteira dos escândalos das financeiras Coroa-Brastel e Delfim, este tipo de papel é recomendado pela Petra para o pequeno e médio investidor. Afinal, aplicações de até R$ 20 mil hoje são protegidas pelo Fundo Garantidor de Créditos, criado em 1995. Uma simulação feita pela corretora, tomando como base papéis prefixados e com prazo de 181 dias, revela rendimento médio de 14,53% para CDBs contra 21,70% para letras de câmbio. Com uma vantagem adicional: neste tipo de investimento, o cliente não paga taxa de administração. A corretora é remunerada pela financeira que emite os papéis.

Letra de Câmbio é o instrumento usado pelas financeiras para captar recursos no mercado e emprestar a seus clientes. Como o CDB no caso dos bancos. A diferença é que as letras devem, obrigatoriamente, ser lastreadas em uma operação de financiamento de compra de bens ou serviços. Trata-se de um mecanismo simples, que seduziu centenas de milhares de poupadores nos anos 70, mas acabou desvirtuado pela emissão sem lastro de uma quantidade significativa de títulos. ?Foi picaretagem da brava?, resume Ricardo Binelli, diretor de operações da Petra. Resultado: financeiras quebraram, investidores ?micaram? com esses papéis na mão e as letras de câmbio caíram no ostracismo. ?O investidor ainda guarda na memória casos como o da Coroa-Brastel?, observa Carlos Daniel Coradi, presidente da Engenheiros Financeiros & Consultores. Pivô do maior escândalo financeiro do País na década de 80, a financeira de Assis Paim Cunha ? na época, a quadragésima maior empresa brasileira ? quebrou em 1983, deixando na mão 35 mil investidores e um rombo equivalente a R$ 250 milhões no sistema financeiro. De modo semelhante, a financeira Delfim, do empresário Ronald Levinsohn ? hoje dono da UniverCidade ?, lesou milhares de brasileiros quando foi liquidada pelo Banco Central no início dos anos 80.

?Os tempos hoje são outros?, pondera Binelli. ?Com a normatização do sistema financeiro, o risco da letra de câmbio é um só: o da financeira quebrar?, observa Binelli. Daí a importância de se analisar com cuidado a solidez do emissor dos títulos. No caso da Petra, a parceria é com a financeira capixaba Dacasa. Controlada pelo grupo Dadalto, dono de lojas de departamento, uma construtora e uma empresa exportadora de café, com sede em Vitória, a empresa tem uma carteira de crédito de R$ 400 milhões. Tamanho, sem dúvida, é documento quando se trata de empresas financeiras. ?Mas nenhum investimento traz consigo um selo de segurança?, adverte Coradi. Como em qualquer aplicação financeira, vale a velha máxima do mercado: quanto maior a promessa de rentabilidade, maior o risco.