No início dos anos 90, o Banco Garantia era um dos gigantes do mercado financeiro brasileiro. Suas apostas certeiras eram observadas atentamente por todos que tivessem dinheiro aplicado nas bolsas, dos grandes investidores às corretoras. Foi esse universo de decisões milionárias que Yuryi Ferber deixou subita e misteriosamente para trás quando se desligou do banco, em 1991. Na época, o discreto engenheiro de 31 anos era um dos principais responsáveis pela montagem de um bem-sucedido sistema informatizado de administração de fundos. A avaliação era a de que sua carreira na instituição não poderia ser mais promissora. O mercado não entendeu sua saída, e chegaram a circular rumores sobre brigas internas e quebra de confiança. O fato é que Ferber saiu. Agora, nove anos depois, ele ressurge na crista da onda, com uma empresa que vende software para fundos de pensão. Já tem seis clientes, da Sistel, fundação dos funcionários do antigo sistema Telebras, até a Bradesco Previdência. Mas quer abocanhar uma fatia maior do restante desse mercado que movimenta bilhões de reais.

Depois da experiência de sete anos no banco de Jorge Paulo Lemann, Yuryi passou por um longo ostracismo. Hoje, sua empresa, a YMF Sistema, é um negócio milionário. Líder em seu mercado, fatura R$ 8 milhões por ano ? valor alto para uma empresa de software ? e traça planos de levar o negócio a outros países. A decisão de Ferber de criar sua própria empresa só veio dois anos após a saída do Garantia. Nesse período, ele teve uma passagem relâmpago pelo Banco Stock e, depois, virou consultor. Foi em 1993 que o engenheiro tirou a idéia da YMF do papel. Não foi um começo fácil. Ele teve que vender sozinho seu projeto para um mercado de fundos, na época, ainda incipiente. Conversou com possíveis clientes, aprimorou seus produtos, traçou planos. A partir de 1997, a maré virou de vez a seu favor. Com a indústria em franco crescimento e um produto eficiente a oferecer, Ferber conseguiu vender seu sistema de administração para pesos pesados do setor. Seu programa executa todas as operações cotidianas necessárias para um administrador de carteiras, incluindo compensação de valores e envio de documentos para a Cetip e para bancos. Com isso, montou uma lista de clientes que hoje conta com 40 instituições. Entre elas, gigantes como Bradesco, Itaú, ABN Real, Chase, Icatu e seguradoras como Sul América. Hoje, os softwares de Ferber controlam nada menos que R$ 180 bilhões em recursos de investidores do Brasil ? 70% do mercado nacional de fundos.

Com o número de pedidos se amontoando pelas mesas, Ferber viu seu faturamento de minguados R$ 100 mil mensais do início da carreira de empresário saltar para os atuais R$ 8 milhões. Hoje, a YMF é conhecida como umas das melhores fornecedoras de softwares para bancos, um mercado que cresce a cada dia. Em seu escritório num discreto edifício da Vila Mariana, em São Paulo, Ferber traça planos ambiciosos. Para conquistar os fundos de pensão, ele observa que seus programas podem ajudar as instituições a se adequar às exigências de controles internos que terão de ser cumpridas até o início do próximo ano. ?Estamos apostando muito nesse negócio?, diz Ferber, com o mesmo tino que o levou a ganhar a confiança da turma do Bradesco e do Itaú.

Ao contrário do que ocorreu no início da carreira-solo, Ferber conta com reforço. Há dois anos, tem como sócio o analista de sistemas Diether Müller, 44 anos. Müller, que trabalha há duas décadas nesse mercado, foi um dos responsáveis pela montagem de sistemas de bancos como Excel Econômico, junto com Jacques Nasser, irmão do ex-controlador do banco, Ezequiel. Também tem uma equipe de 80 funcionários. É uma estrutura enxuta se comparada aos planos do ex-menino do Garantia. Mas, desta vez, Ferber tem uma vantagem. Sua fórmula já mostrou que é possível transformar uma aventura em um negócio milionário.