28/05/2010 - 6:00
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Além da goleada de cinco a um que a seleção de Maradona impôs ao Canadá, na semana passada, no estádio Monumental de Nuñes, em Buenos Aires, os portenhos ganharam outro presente na ocasião da celebração do bicentenário da independência argentina: o teatro Colón, um dos pontos mais emblemáticos da cidade, foi reaberto após quase três anos de restauração.
Em uma noite de gala, a reabertura foi marcada pela entoação do hino nacional argentino, seguido do primeiro ato da ópera La Boheme, do compositor italiano Giacomo Puccini. A seguir, o público deliciou-se com trechos do balé Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky. Enquanto os convidados degustavam uma taça de champanhe no intervalo das apresentações, milhares de pessoas, do lado de fora assistiam a uma apresentação em 3D com a história do teatro.
Quem ganha com a reinauguração da casa, além dos argentinos, são os brasileiros, que já representam 25% dos turistas na Argentina. Agora eles terão um motivo a mais para visitar a cidade.?Buenos Aires é um dos destinos preferidos dos brasileiros?, aponta Marcelo Bispo, coordenador do curso de turismo na Universidade Metodista. ?Por ser próximo ao Brasil, e um destino barato, muitos brasileiros devem se sentir tentados a assistir a um espetáculo de ópera no Colón em um final de semana?, completa.
A noite de reestreia: enquanto Puccini e Tchaikovsky eram tocados no interior, uma apresentação em 3D era exibida do lado de fora
A restauração foi uma obra de grandes proporções e envolveu cerca de mil profissionais de 50 empresas que cuidaram de cada detalhe do prédio de 8,2 mil metros quadrados. Estima-se que tenham sido gastos mais de US$ 100 milhões para transformar o Colón em um teatro a altura do lugar que ocupa no imaginário argentino.
É que quando o prédio do teatro foi inaugurado, em 1908, o país estava entre os dez mais ricos do mundo e sua elite havia elegido a ópera como preferência nacional. Ao longo de sua história já passaram por seus palcos artistas como o italiano Enrico Tambelerick, Adelina Patti e Francesco Tamagno , todos expoentes da vanguarda operística da belle époque.
Teatro Municipal de São Paulo
Ano de fundação: 1911 Reforma: Desde 2008, passa por reforma do piso do Salão Nobre e das esquadrias de madeira
(portas, janelas e fachadas) Quem passou por lá: o barítono italiano Titta Ruffo, os artistas da Semana de Art
?O teatro é um patrimônio nacional, com uma das melhores salas líricas da América Latina e uma programação diferenciada?, conta Marcela Cuesta, coordenadora para a América do Sul e América Central do Instituto Nacional de Promoção Turística da Argentina (Inprotur). A aposta da entidade é que com a obra, somada a outras festividades do bicentenário da independência, o número de turistas brasileiros, hoje estimado em 800 mil por ano, aumente cerca de 20%. ?Buenos Aires tem uma gastronomia fantástica com ótimo preço e muitas atrações culturais. Gostei muito da cidade?, conta o turista Mário Di Poi, que escolheu a capital portenha para passar sua lua de mel.
Teatro Amazonas
Ano de fundação: 1896 Reforma: 1990 Quem passou por lá: Heitor Villa-Lobos e companhias estrangeiras,
como a Italiana de Óperas e Operetas, Teatro Príncipe Real de Lisboa, a Companhia Lírica Francesa
e a portuguesa Companhia do Teatro Águia de Ouro
?Ao restaurar um patrimônio histórico, o retorno vem sob a forma de turismo?, explica Cris Coli, coordenadora do curso de design de interiores do Instituto Europeo di Design. ?No caso do Colón, há um resgate do período glorioso que a cidade viveu no início do século 20?, completa. Não é à toa que o Colón foi construído inspirado no Teatro Scala de Milão.
Sua primeira sede funcionou de 1857 a 1888 em um edifício da Praça de Maio. Com o advento da ópera, a sociedade argentina exigiu que fosse construído um novo teatro, mais preparado para receber os artistas e orquestras da época. Assim o antigo Colón tornou-se a sede do Banco de la Nación Argentina e uma nova construção foi inaugurada em 1908.
Teatro Municipal do Rio de Janeiro
Ano de fundação: 1909 Reforma: Acaba de reabrir Quem passou por lá: Arturo Toscanini, Sarah Bernhardt,
Bidu Sayão, Heitor Villa-Lobos, Igor Stravinsky, Paul Hindemith e Alexander Brailowsky
O espaço é tão estimado que, quando os argentinos gostam muito de uma peça, eles bradam ?Al Colón?, querendo dizer que o palco ideal para a obra é o do teatro em questão. As comemorações do centenário, há dois anos, foram realizadas em um espaço alternativo, já que o Colón se encontrava em plena época de reformas.
A reabertura foi digna da grandiosidade esperada pelo povo. O único contratempo foi a ausência da presidente Cristina Kirchner. A desfeita explica-se pelo fato de o prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, ter feito críticas públicas a seu marido, Nestor Kirchner, pouco antes da inauguração. Com isso, o casal presidencial não compareceu ao evento, assim como nenhum representante do governo federal. Um papelão que nenhum teatro gostaria de ver representado.