Nos tempos do Pactual, da Benetton e das estratégias miraculosas de recuperação de empresas, Luiz Cezar Fernandes fez fama de empreendedor polivalente. Qualquer oportunidade de lucro e ele estava lá, beliscando negócios em diferentes áreas, engordando a cada dia o patrimônio. Até que vendeu sua parte no Banco Pactual, em setembro passado, e refugiou-se na fazenda Marambaia, localizada em Correas, interior do Rio de Janeiro. Disse, na época, que iria se dedicar apenas à criação de ovelhas. Mas imaginar Luiz Cezar contando carneirinhos é algo que chega a ser irônico para quem acompanha sua trajetória desde os tempos de funcionário de Jorge Paulo Lemann, ex-Garantia. No mercado, já se sabe que Luiz Cezar foi contratado pela Arbed ? grupo que controla a Belgo Mineira ? para tentar alinhavar a compra de uma parte da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), de Benjamin Steinbruch. Fora isso, o ex-banqueiro tem US$ 100 milhões no bolso para gastar e recuperar o estilo eclético de fazer negócios. No bucólico cenário campestre, ele traça a estratégia de investimentos a partir da reorganização de sua holding ? que leva o mesmo nome da fazenda. Pendurados na ?Marambaia? estão uma empresa de táxi aéreo, vários imóveis e uma exportadora de suco de laranja. Esta última rende cerca de US$ 80 milhões por ano. ?Depois de 46 anos de banco, ser trader é um mundo novo. Dá até vontade de crescer?, comenta Fernandes. Ele exporta cerca de 45 mil toneladas anuais de suco, fornecidas por quatro fabricantes do interior paulista. O principal mercado é a Europa. Além das laranjas, o ex-dono do Pactual cultiva participações relevantes nos setores de telefonia e siderurgia, que, somadas, valem perto de US$ 100 milhões. E, como não poderia deixar de ser, também sonha em voltar ao mercado nas ondas da Internet. ?Ainda não entendi direito essa história de Internet, nem para onde vai. Preciso de tempo para me aculturar. Mas é uma área que seduz?, diz o ex-banqueiro. Ah, sim, ainda há a criação de ovelhas em seu portfólio de negócios.

De cachimbo no canto da boca, voz mansa e gestos lentos, Fernandes é o retrato da prudência. Sua filosofia pode ser resumida desta forma: não entra em barco sem testar primeiro o colete salva-vidas. ?Não faço nada sem planejamento. Ainda tenho muito o que aprender sobre essa nova economia?. E que tipo de negócio o ex-banqueiro abriria para participar das empreitadas da moda? ?Acho que há espaço para logística. É o desafio do século e de todas essas empresas nascidas no mundo virtual?, sentencia. Apenas como aperitivo para suas futuras aventuras tecnológicas, Fernandes está montando uma infra-estrutura de ficção-científica em seu escritório, encravado no verde da serra fluminense. A lista inclui computadores, linhas telefônicas, fibra ótica e demais engenhocas que permitem conectar-se com o mundo. ?Cuidei pessoalmente da reforma do escritório. Em três ou quatro meses vai estar tudo pronto. Aí sim, posso sonhar e planejar.?

Pode parecer estranho que alguém tão acostumado à gangorra e adrenalina do mercado financeiro tenha se adaptado tão bem à vida bucólica. Mas a fazenda Marambaia, um cenário verde que tem o privilégio de exibir um projeto paisagístico de Burle Marx, ocupa as horas que Fernandes dedicava ao banco, sem traumas nem saudades. Agora, depois de décadas de dedicação quase exclusiva ao trabalho, sobrou tempo para a mulher Cecília ? seu terceiro casamento ?, para os filhos, netos e amigos. Tirá-lo da fazenda é tarefa cada vez mais difícil. ?Vou ao Rio uma vez por semana participar de reuniões ou encontros sociais. Com a Internet, dá para fazer praticamente tudo de qualquer lugar, não tenho porquê sair de casa?.

Na fazenda, o xodó do ex-banqueiro é o rebanho de duas mil ovelhas. É comum vê-lo gastar horas com elas. Anda entusiasmado com processos de seleção genética para criar espécimes de melhor qualidade, tem fechado convênios para pesquisa com universidades e agora descobriu um meio de alavancar os ganhos com os bichos. Vai vender reprodutores e matrizes, cujo valor é bem maior do que a carne vendida para abate. ?Sou o maior criador de ovelhas da raça Santa Inês do Brasil e a fazenda Marambaia é a maior fonte de difusão de informações sobre o assunto?, orgulha-se. Mas, apesar de tanto empenho, a fazenda não entra no rol dos negócios milionários de Fernandes. Quando vendeu sua parte do Pactual, em setembro do ano passado, Fernandes embolsou cerca de US$ 100 milhões. As ovelhas rendem meio milhão de dólares por ano, pouco menos que a metade do faturamento da empresa de táxi aéreo ? em torno de US$ 1,3 milhão. Diante desses números, não seria de fato uma surpresa se ele retornasse à cena financeira nas asas do milionário mercado do e-bussiness.