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O ministro Sérgio Amaral, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, está tirando da gaveta uma idéia que muitos brasileiros haviam quase esquecido: o carro a álcool. Depois de mais de uma década em completo descrédito, o combustível genuinamente nacional, extraído da cana de açúcar, poderá ganhar novamente as ruas. Ele vem, como da outra vez, amparado no Proálcool. Mas atenção: trata-se de um novo Proálcool, a cujo projeto DINHEIRO teve acesso de forma exclusiva, que será bem diferente do programa criado em 1975 e que, em toda a sua duração, concedeu mais de US$ 11 bilhões em incentivos. Foi o antigo Proálcool que colocou no imaginário do brasileiro a figura do usineiro tacanho, pendurado no Banco do Brasil e nos subsídios federais.

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Maurílio Biagio, produtor: desconfiança do consumidor é o entrave do projeto

 

Foi o mesmo programa que convenceu mais de cinco milhões de pessoas a adquirir um veículo com combustível alternativo ? pessoas que em 1989, do dia para a noite, se viram em quilométricas filas nos postos de abastecimento brigando para não ficar com o tanque vazio. Desse Proálcool o governo quer distância. Na versão moderna do programa não haverá subsídios para usineiros nem para montadoras. Também não haverá a mão forte do governo controlando o mercado de combustíveis, que desde o começo de 2002 está aberto à concorrência. Do usineiro atrasado também sobrou pouco. Hoje, o Brasil é o mais competente produtor de cana do planeta. Cerca de 33% do açúcar mundial é brasileiro e a competitividade e eficiência nacional são únicas no mundo ? e isso aponta para um outro componente do novo programa, as exportações. Desta vez, por inspiração do ex-ministro Alcides Tápias, a produção de álcool estará voltada também para o mercado externo, no qual se espera uma fortíssima demanda na próxima década. À reboque dela, o Brasil pode vender ao exterior tecnologia, equipamentos e serviços para refinarias. ?Existe uma oportunidade única para o Brasil?, diz o ministro Sérgio Amaral. ?Quero ter o programa pronto em 60 dias.?

 

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Como no passado, a volta do carro a álcool tem uma justificativa estratégica. A combinação de petróleo em alta e dólar caro pesa, e muito, nas contas externas do Brasil. O barril do petróleo no mercado internacional está acima dos US$ 26, acumulando uma alta de 24,26% no ano, e não há sinais de que vá parar por aí. Isso, aliado à alta do dólar, que na sexta-feira 24 estava cotado a R$ 2,53, faz o governo lembrar que todos os anos o País precisa importar 600 mil barris por dia. Se uma parte substancial da frota automobilística voltar ao álcool e se uma parte importante da produção de álcool for exportada, isso vai significar vários furos de folga no cinto apertado das contas externas brasileiras ? para não falar no estímulo à produção local de equipamentos, na geração de empregos, no recolhimento de impostos e no aproveitamento de tecnologia nacional. Uma estatística da União da Agroindústria Açucareira de São Paulo sustenta que para cada carro a álcool produzido no País são criados 29 empregos na indústria canavieira. ?Somos os melhores do mundo na produção de álcool?, diz o deputado Delfim Netto. ?Vale a pena retomar o programa, mesmo depois de ele ter sido abandonado por sucessivos governos.?

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Hoje e ontem: Sérgio Amaral (acima) tira da gaveta o novo Proálcool, elaborado por Alcides Tápias (abaixo)