Saber a hora exata de mexer no seu dinheiro aplicado para aproveitar as mudanças de humor do mercado faz toda a diferença para o investidor. Foi o caso do analista de sistemas paulista Filipe Lopes de Andrade, 29 anos, aficionado da compra de títulos públicos por meio do Tesouro Direto. No fim de 2012, ele percebeu que a inflação estava saindo de controle. Até então, a alta de preços tinha sido um bom negócio: seus títulos públicos corrigidos pelo índice de preços IPCA renderam 39,5% naquele ano. ?Senti que o Banco Central ia agir para conter a inflação, o que significava que os juros poderiam subir?, diz ele. 

 

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Andrade vendeu seus papéis indexados ao IPCA e comprou títulos corrigidos pela taxa de juros Selic. Na mosca. A partir de abril, os juros que estavam em 7,5% ao ano começaram a subir. Atualmente, eles estão em 9,5% ao ano. Pelas expectativas dos economistas dos bancos, estampadas na edição da segunda-feira 4 do boletim Focus, as taxas deverão chegar a 10% no fim do ano e a 10,25% em 2014. O movimento realizado antecipadamente por Andrade poupou-o de uma desvalorização de 26,5% nos títulos que haviam garantido um bom desempenho no ano passado. (veja uma descrição dos títulos no quadro “O mapa do tesouro”).

 

Agora, um ano mais tarde, Andrade enfrenta uma decisão semelhante. A expectativa de alta das taxas permite dizer que os papéis indexados a juros vendidos no Tesouro Direto serão a melhor opção para 2014? Para os especialistas, a resposta é sim. Segundo Luiz Augusto Monteiro, chefe de investimentos da gestora paulista Queluz Asset, o cenário traçado pelo Focus para os próximos meses indica que é hora de comprar títulos atrelados à Selic. ?Há um cenário de pressão inflacionária que vai forçar o BC a continuar o ciclo de altas da Selic nos próximos meses?, diz. Arnaldo Curvello, diretor de gestão de recursos da Ativa Corretora, de São Paulo, assina embaixo. 

 

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Filipe Lopes de Andrade, investidor: “Percebi que o Banco Central ia agir

para conter a inflação e elevar os juros”

 

?De dois anos para cá tem sido vantajoso emprestar dinheiro para o governo, pois a rentabilidade média obtida pelo investidor mais do que dobrou entre 2011 e 2013?, diz ele. Seu prognóstico é que esse movimento continue pelos próximos meses, mas ele adverte que o caminho não será suave. A indefinição em relação às contas públicas, que pode até mesmo ameaçar a classificação de risco da dívida brasileira, deverá alterar o humor do mercado. ?Se o governo perder credibilidade junto aos investidores, isso afetará a rentabilidade dos títulos?, diz Curvello. Para os especialistas, a preferência deve ser pelos papéis indexados a juros, e seu prazo ? que oscila de seis meses a pouco mais de três anos ? vai depender do apetite pelo risco.

 

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Quanto mais conservador o investidor, mais próximo deve ser o rendimento. Essa abordagem vem sendo seguida também pelos profissionais de gestão de recursos. Leonardo Breder, gestor de fundos de renda fixa do banco de investimentos Brasil Plural, diz que a ordem aos operadores é comprar apenas títulos de prazo mais curto. Desde o início deste ano, a recomendação tem sido vender os títulos corrigidos pela inflação. ?A gente se desfez desses papéis considerando a alta dos juros e a queda dos índices?, diz Breder. ?Podemos até comprar esporadicamente algum título corrigido pela inflação, mas preferimos esperar até março de 2014 antes de pensar em alguma mudança de estratégia para nossos fundos.?

 

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Outra recomendação é diversificar a carteira de títulos para não ficar dependente de apenas uma linha de rendimento. O administrador Levy Thennyson, 25 anos, investe em Tesouro Direto desde os 18. Cerca de 60% de seu patrimônio ? não revelado ? está destinado a esses papéis. Desse total, 80% estão investidos em papéis prefixados de curto prazo, e o restante em títulos longos, indexados à inflação. ? Opto pela diversificação porque, em momentos de incerteza como este, posso contar com o rendimento independente do indexador do título e das variações da economia?, diz Thennyson. Para Monteiro, da Queluz Asset, o investidor que ainda mantém títulos ligados à inflação em seu portfólio não precisa ter pressa para vender, desde que esteja disposto a contentar-se com rendimentos magros pelos próximos meses. 

 

?Quem tiver um papel de longo prazo que pague bons juros, e não for precisar do dinheiro tão já, deve aproveitar a boa rentabilidade oferecida no longo prazo?, diz. Segundo Carlos Haber, gestor de investimentos da consultoria financeira carioca Lecca, os investidores que tinham papéis de longo prazo atrelados ao IPCA e os mantiveram não perderam dinheiro, apesar da alta recente da Selic. ?O impacto foi maior para quem estava com títulos curtos?, diz Haber. ?A partir de 2015, quando o ciclo de alta dos juros provavelmente deverá chegar ao fim, as aplicações vinculadas à inflação voltarão a ser interessantes.?

 

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