22/07/2009 - 7:00
“Não fomos vendidos para o Santander” Harashima, presidente da Tokio Marine
As marcas da passagem do Banco Real pela Tokio Marine ainda são visíveis. As cores verde e amarela, símbolo da instituição financeira adquirida pelo espanhol Santander, são predominantes no edifício que abriga a seguradora japonesa, no bairro do Paraíso, em São Paulo. Tudo que está ali remete ao Real. O selo nos computadores no balcão de acesso, o aviso de discriminação na porta do elevador e a decoração no andar da presidência. Todos esses sinais levam a um questionamento: a Tokio Marine não tinha sido negociada com o Santander? Em parte. Por isso é fácil entender de onde vem tamanha influência. Durante quatro anos, as duas instituições financeiras dividiram o comando da Real Tokio Marine Vida e Previdência. Nesse período, a cultura Real foi absorvida pelos executivos japoneses. Mas os espanhóis compraram o Real e, em março deste ano, o banco comandado por Fabio Barbosa exerceu sua preferência e pagou R$ 678 milhões para ficar com toda a carteira previdenciária. O Santander levou o negócio e deixou uma marca difícil de ser apagada. Parecia que a Tokio Marine estava de malas prontas para voltar ao Japão. Mas não estava nem está. “Não fomos vendidos para o Santander. Eles exerceram a opção de compra com a troca de controle”, afirma o presidente Akira Harashima
A sociedade com o Real deixou a Tokio Marine escondida do grande público. Parecia que a seguradora japonesa não tinha outro produto além da vida e previdência. Agora, é como se a seguradora precisasse se reapresentar ao mercado. “O desafio é aumentar o reconhecimento da marca Tokio Marine no Brasil”, diz Harashima. Sem a grande rede de agências do banco, o único canal para a venda de seguros automotivos ou residenciais, por exemplo, são as corretoras de seguros. É o trabalho junto a elas que vai dizer se a Tokio Marine terá sucesso ou não. Harashima chama os corretores de parceiros de confiança e tem investido bastante na proximidade com eles, com treinamentos e cursos de aperfeiçoamento. Entretanto, nos primeiros cinco meses do ano, o nível de comissão paga para os corretores foi de 18%, abaixo da média de 25% do mercado segurador. O destaque da Tokio Marine é o seguro empresarial, com clientes do porte de Honda, Toyota, AmBev, Casas Bahia, Gerdau, entre outros. É na proteção de grandes riscos e no transporte de cargas que a seguradora japonesa consegue um bom resultado (veja quadro). “A Tokio Marine tem uma marca sólida em riscos industriais e de transportes, mas precisará ser agressiva no varejo por ter aproveitado mal o canal com o Real”, analisa Luiz de Campos Salles, da Lecs Consultoria.
Terceiro maior mercado fora do Japão, o Brasil era até o ano passado o maior investimento já feito pela companhia fora da Ásia. Foram gastos R$ 897 milhões em 2005 para a joint venture de vida e previdência com o Real. A crise e o dinheiro em caixa fizeram a matriz abocanhar a seguradora americana Philadelfia Consolidated por US$ 4,7 bilhões (R$ 9,4 bilhões), o maior investimento de uma instituição financeira japonesa nos EUA. Foi uma oportunidade de negócio, diferente do que os japoneses enxergam no mercado brasileiro, em que atuam há meio séculow. “A economia do Brasil vai se recuperar mais rápido que outros países e há mais chances de novas modalidades de seguro”, diz Harashima, que comandou a operação em Nova York por sete anos e desembarcou no Brasil há um ano. Está apaixonado pela cultura local e já se arrisca a falar português.