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Não é raro que um produto tome emprestado o nome da empresa que o fabrica. É o caso da Bombril e da Lycra, por exemplo. No entanto, nada chegou aos pés do efeito que a Xerox causou no segmento de copiadoras. Até hoje, costuma-se usar a palavra xerox como sinônimo de máquina fotocopiadora, assim como o verbo xerocar significa ?tirar uma cópia?. Mas, embora tenha se tornado um ícone mundial, a marca parece ter se transformado numa camisa de força para a companhia, como se a criatura tivesse se apossado do criador. Isso porque a Xerox nunca conseguiu se livrar do estigma de uma fabricante de copiadoras, mesmo depois da chamada ?comoditização? do produto. Na semana passada, a empresa tentou mais uma vez mudar seu foco e anunciou a inauguração do maior centro de produção e integração de processos de gestão de documentos da América Latina, em Tamboré, interior de São Paulo. O XC², como é chamado, é mais um passo da companhia para deixar de ser uma indústria e se tornar uma prestadora de serviços. Esta não é a primeira vez que a Xerox aposta neste segmento. A inauguração repõe no Brasil algo que aqui existiu entre 1989 e 2003: o Centro de Desenvolvimento de Sistemas de Vitória (CDSV). Na época, a unidade foi fechada num processo de corte de gastos. A perspectiva de crescimento do setor de serviços fez com que a empresa voltasse atrás. ?A terceirização do gerenciamento de processos está crescendo a nível mundial?, afirma Hervé Tessler, presidente da Xerox do Brasil. ?Só no ano passado mais de US$ 650 bilhões foram perdidos em produtividade devido ao excesso de documentos nas empresas. Aí que entramos.? Além disso, neste ano a companhia pretende entrar em um novo e promissor mercado: a compensação de cheques por meio de imagem.

 

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Onde tudo começou

O sistema de cópia xerográfica surgiu em 1938, num laboratório caseiro, atrás de um salão de beleza no Queens, bairro da cidade de Nova York (EUA). O inventor, Chester Carlson, era um cientista e advogado de patentes, que estava decidido a encontrar uma maneira de reproduzir documentos sem usar métodos fotográficos. No entanto, Carlson teve que esperar aproximadamente duas décadas para a Xerox Corporation decidir comercializar sua invenção.

 

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Tessler, presidente: o Brasil pode ser a chave do crescimento na América Latina

 

Para alguns profundos conhecedores da empresa, há um grande ponto de interrogação nessa história: essa linha de atuação será mantida? ?O gargalo na Xerox sempre foram as constantes mudanças de modelo de gestão, ora se inclinando para prioridades de marketing, ora para a área financeira, atrelada aos humores de Wall Street?, afirma Carlos Salles, que, entre 1989 e 1999, presidiu a subsidiária da Xerox no Brasil. Até o final da década de 90, a companhia teve notoriedade semelhante à que Microsoft e Apple desfrutam hoje. Mas a empresa deixou de acreditar nas invenções de seu famoso laboratório no Palo Alto, Califórnia. A Xerox, por exemplo, inventou o mouse, mas não viu utilidade no produto. Seu esqueleto de computador pessoal foi parar nas mãos da Microsoft. Invenções como fax e impressoras a laser também não deslancharam lá dentro. Para Salles, esse ?vaie- vem, que gerava custos e improdutividade?, deflagrou o escândalo de 2002. Na época, a empresa manipulou sua contabilidade e produziu perdas de US$ 1,9 bilhão. Desde então, recuperou sua lucratividade. Em 2008, para uma receita de quase US$ 18 bilhões, registrou lucro líquido de US$ 230 milhões em 2008, queda de 80% ante US$ 1,135 bilhão em 2007. No Brasil, segundo o anuário Informática Hoje, o faturamento da empresa foi de US$ 717 milhões no ano passado ? crescimento de 20,7%, embora ainda enfrente a dificuldade de possuir uma excessiva dependência de um setor altamente concorrido e ameaçado pelo advento do universo virtual. Hoje, 85% de suas receitas ainda vêm da indústria. Com o XC², a subsidiária brasileira espera reconquistar o prestígio dentro da corporação. ?O Brasil tem muito potencial para ser um elemento-chave do crescimento da Xerox na América Latina?, afirma Tessler. Em 2008, aproximadamente 50% da receita da companhia foi proveniente das subsidiárias estrangeiras. ?Competência técnica para ser referência no mundo em gerenciamento de documentos a Xerox ainda tem de sobra. A questão é definir um modelo de gestão?, diz Salles.