O isolamento social no Brasil em tempos de pandemia do coronavírus deve fazer com que as vendas do setor de biscoitos, massas, pães e bolos fechem o período de fevereiro à abril com alta de cerca de 15%, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi).

“Nós crescemos em consumo. As pessoas estão optando por produtos com maior praticidade e um bom custo benefício”, disse ao Broadcast Agro o presidente executivo da Abimapi, Claudio Zanão. O ritmo de vendas, porém, deve desacelerar. A Abimapi projeta para o fim de 2020 resultados 3% a 5% superiores aos de 2019. “O que já será um ótimo resultado para o setor”, avalia o executivo.

Segundo a Abimapi, o setor terá de realizar reajustes no preços dos produtos em virtude da atual escalada do dólar e do fato de a matéria-prima do setor ser importada. A Abimapi calcula incremento médio de 12% que deve começar a ser repassado pelos fabricantes aos consumidores ainda neste mês, de forma gradual. “Não há espaço para elevar os preços de uma só vez ao consumidor final”, ressalta a entidade, citando que as indústrias estão com estoque e trigo e farinha de trigo suficiente para dois a três meses de uso.

Em balanço anual, a Abimapi explica que o atual patamar da moeda tem como reflexo o aumento do custo da cesta do setor, em virtude da alta do custo da farinha de trigo. “Saímos de um dólar de R$ 4 em janeiro para R$ 5,25, uma valorização de 31%. Das 11 milhões de toneladas de trigo consumidas por ano no Brasil, cerca da metade vem principalmente da Argentina, este ano com 30% de aumento, em média”, afirma o presidente-executivo da entidade, Claudio Zanão.

Faturamento

A indústria de biscoitos, massas, pães e bolos faturou R$ 36,7 bilhões em 2019, crescimento de 3,5% ante 2018, segundo levantamento da Abimapi. O volume comercializado ficou estável no comparativo anual, a 3,33 milhões de toneladas. Os segmentos de biscoitos, massas e pães são os principais consumidores do trigo nacional.

No balanço anual do setor, a entidade destaca que a valorização do dólar ante o real, o atraso nas reformas federais e a instabilidade política foram alguns dos pontos que prejudicaram a recuperação da economia, o que contribui para o consumo de produtos de menor valor agregado. “Este cenário não favoreceu o poder de compra das famílias, refletindo no panorama específico do nosso setor”, avalia Claudio Zanão.

A indústria de biscoitos atingiu R$ 18,7 bilhões em receita e 1,47 milhão de toneladas de produtos vendidos, aumento de 1,7% e retração de 1,08%, respectivamente. A associação destaca o desempenho do segmento de rosquinhas, de menor patamar de preços, que cresceu 6,5% em volume e 4,7% em faturamento impulsionado por vendas de embalagens tamanho família.

O setor de massas alimentícias registrou aumento de 6,6% em faturamento e 1,04% quanto em volume de vendas, quando comparados com 2018, atingindo R$ 9,7 bilhões e 1,2 milhão de toneladas, respectivamente. O crescimento foi impulsionado principalmente pela categoria de massas instantâneas, que faturou R$ 2,6 bilhões e vendeu 168 mil toneladas, “devido ao baixo preço unitário”, ressalta a Abimapi.

A entidade pondera, contudo, que as massas secas ainda foram as mais consumidas com 959 mil toneladas comercializadas e receita de R$ 4,9 bilhões. “As vendas dos tipos comuns aumentaram 11%, com um crescimento expressivo de 17,7% em faturamento totalizando cerca de 1 bilhão”, acrescenta Zanão.

Já a indústria de pães movimentou R$ 7 bilhões no ano passado, alta de 4,5% ante o ano anterior, e comercializou 537 mil toneladas, avanço de 3,4% na mesma base comparativa. O mercado de bolos industrializados atingiu R$ 1,1 bilhão em receita, 1,5% a mais que o ano anterior, com volume de vendas de 43 mil toneladas. “Estas categorias ganham espaço no mercado devido à praticidade e maior vida útil”, afirma Zanão.